Dois grupos que considero fazer parte do tropicalismo, lançaram seus álbuns de estréia em 1969, "Os Brazões" é um deles. A inserção desse grupo no movimento se consolida quando viram banda de apoio de Gal Costa durante a temporada da musa na famosa Boate Sucata no início de 1969 (exatamente aquela em que foi gravado o compacto de Caetano & Os Mutantes) e mais tarde acompanharam Tom Zé. Antes disso, apareceram tocando no IV Festival da Record com Tom Zé na então defesa de "São, São Paulo" e participando de seu primeiro álbum, que na última faixa, "Sabor De Burrice", cita a turma toda que participou das gravações. Outra importante participação foi como banda de Jards Macalé, defendendo "Gotham City" no IV Festival Internacional da Canção (FIC), acho que foram os únicos a registrar em disco esse tema na época.
Com uma vida fonográfica efêmera, segundo o Dicionário Cravo Albin, o grupo conta com apenas dois registros, um de 1969 e outro de 1970, este nunca ví, até achava que tinham somente o de 69. Dados biográficos a respeito do grupo quase não se encontra. Eles acabaram entrando pro grupo das bandas obscuras da década de 60/70. O integrante mais "famoso" do grupo é Miguel de Deus, que mais tarde gravou discos solo e montou outros grupos, todos tão obscuros quanto esse.
O álbum como um todo é bem legal, o repertório é dividido entre canções autorais e re-leituras de temas tropicalistas ou recorrentes de 1969.
A faixa escolhida pra abrir o álbum foi "Pega a Voga Cabeludo", de Gilberto Gil, num arranjo que mostra toda a verve do grupo e destaca já de cara os elementos que ganham um tratamento todo especial ao longo do disco, como percussão e guitarras. A parte vocal é interessante, mas as vezes chapa demais. O segundo tema do álbum leva a assinatura de Guilherme Dias Gomes e Luciano Bastos, "Canastra Real", tem uma veia meio Wes Montgomery no início que é bem legal, essa composição concorreu no IV FIC, segue abaixo um texto sobre a composição e o episódio:
"..."Canastra Real" foi composta por Guilherme Dias Gomes e Luciano Bastos, ela recebeu tratamento luxuoso para entrar no IV Festival Internacional da Canção com pé direito. Com orquestra regida por Rogério Duprat (o maestro da Tropicália) e a banda Os Brazões, que acompanhava a turnê de Gal Costa, a canção era vista como possível surpresa da competição. No dia da apresentação, Os Brazões também defenderam "Gotham City", composição de Jards Macalé e Capinan, cujo experimentalismo não foi bem recebido pelo público. "Gotham City" foi soterrada por vaias e a banda ficou marcada. Quando os músicos voltaram para tocar "Canastra Real", o público não quis saber de uma segunda chance. Para frustração de Guilherme, foram vaias massacrantes do começo ao fim da música."
A terceira faixa do álbum é mais uma composição assinada pela dupla Macalé / Capinan, "Módulo Lunar", que, creio, se tivesse participado do festival, seria tão vaiada quanto foi "Gothan City", rsrsrs, isso porque leva a mesma linha de experimentalismo, acho essa até mais exótica que "Gothan...". Seguindo temos mais uma de Gilberto Gil, "Volks Volkswagen Blue", num arrajo bem econômico, porém certeiro, gostei do arranjo. Ainda no Lado A temos "Tão Longe De Mim", composição de autoria de Lais Marques que me lembrou um pouco de "Paralamas Do Sucesso"! Deveria ser o oposto, não? rsrsrs. Essa é uma música que caberia nos 80 bem de boa... Com relação ao compositor, talvez o trabalho mais conhecido de Lais Marques seja a trilha da novela "A Idade Do Lobo" de 1972. Fechando o Lado A temos, de Jorge Ben e Toquinho ,"Carolina, Carol Bela", que ganhou uma introdução genial com uma "vibe" bem samba-rock.
O Lado B abre com uma composição de Tom Zé chamada "Feitiço", essa faixa também foi registrada por Tom Zé no mesmo ano mas lançada somente em compacto. Depois temos mais uma de Lais Marques, "Planador", seguida de "Espiral", a única canção assinada de fato por integrantes da banda, os autores são: Miguel de Deus e Sergio Luiz, eles deveriam ter assinado mais faixas pois é uma das melhores do álbum, o arranjo é excelente, aliás, falando em arranjo, o álbum foi todo arranjado pelo próprio grupo, isso aumenta ainda mais o mérito deles, tropicalistas sem Duprat! rsrs. A seguinte é a ultra-comentada "Gothan City".
Encerrando o álbum temos mais duas, a instrumental "Momento B/8" assinada por Rogerio Duprat e Brasilian Octopus, um Acid-Jazz genial, e "Que Maravilha", que ganhou um tratamento bem "nas coxas", é como se fosse continuação de "Carol, Carolina Bela" mas sem nenhuma novidade, eles fizeram uso da mesma base rítmica e acrescentaram um rifizinho bem jaguara, totalmente dispensável, deveriam ter concluído o álbum com "Momento B/8". Tirando esse detalhe, acho um disco bem legal.
Para Saber Mais: Bio Miguel De Deus - Bio Os Brazões
Pesquisa e Texto de MARCEL CRUZ do blog Sacundinbenblog: http://sacundinbenblog.blogspot.com/