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sexta-feira, 25 de março de 2011

TONY TORNADO

TONY TORNADO - 1972





Faixas:
01.Mané beleza
02. Não grile a minha cuca
03. Torniente
04. Eu duvido muito
05. Sinceridade
06. Podes crer, amizade
07. Aposta
08. Bochechuda
09. Uma idéia
10. Eu tenho um som novo
11. Tornado


Ele já está com 80 anos de idade, mas semelhante a outros membros de nossa etnia, isso não é percebido visualmente – ainda é aquele jovem, que no V Festival da Canção, cantava BR-3, com o punho levantado, imitando a atitude dos integrantes dos Panteras Negras. Antonio Viana Gomes, ou, Toni Tornado.

O ator e cantor nasceu no dia 26 de maio de 1930, em Mirante de Paranapanema, estado de São Paulo, região hoje muito mais conhecida pela concentração de assentamentos do Movimento Sem Terra, liderados por José Rainha.

Sua vida mudou quando aos 11 anos, em 1941, resolveu sozinho, ir para o Rio de Janeiro, onde foi morar na rua como menino de rua. Para sobreviver, ganhava alguns trocados como engraxate e vendedor de amendoim, na praia e nos sinais de transito. Após uma breve passagem por uma instituição de acolhimento a adolescentes carentes, acaba se alistando no Exercito do Brasil, chegando a servir na expedição ao Oriente Médio.

A rápida convivência com soldados norte-americanos, Toni passa a cantar rock, e logo é revelado na Radio Mayrink Veiga, no programa Hoje é dia de rock. Seu talento, logo lhe gerou a oportunidade de integrar o elenco da peça Brasiliana. Foram anos de excursões internacionais, e na passagem pelos Estados Unidos, acabou separando-se do grupo.

Toni Tornado viveu clandestinamente nos Estados Unidos por três anos, sendo fortemente influenciado pelo Movimento Black Power e por James Brown. Em Nova Iorque, no bairro harlem, de predominância negra, por falta de oportunidade acaba trabalhando para traficantes. Neste período também conhece um brasileiro, que viria se tornar famoso no país: o Tião Maconheiro, hoje conhecido como Tim Maia. Mas quando compra um Cadillac chama atenção da policial, e acaba preso e deportado para o Brasil.

Em solo nacional Toni Tornado tem o primeiro choque com o Governo Militar – agentes do DOPS, assustam-se com as cores berrantes e sua roupa, e sua postura altiva, incomum no afro-brasileiro do período e prendem o artista. Mas sua sabedoria negra, o estimula a dar declarações desconexas, deixando nos agentes a imagem de um negro doido. O libertam, mas antes o humilham.

Mas não seria seu primeiro problema com a Ditadura Militar. Em um show da Elis Regina, quando ela canta a musica Black is Beautiful, sobe no palco, dança com o punho levantando, novamente lembrando uma atitude Black Power. Policiais o prendem novamente e eles tentam de novo o humilhar, sem conseguir sucesso. O negrão tinha uma grande força de vontade e resistência.

Em 1972, a fama teatral o leva para a TV Tupi onde interpreta em novelas. Tornado fez inúmeros filmes, com destaque para o papel de Ganga Zumba em Quilombo, dirigido pro Caca Diegues.

Nesta fase televisiva, dois fatos o marcaram: os seis anos de namoro com a atriz Arlete Salles, que foi inclusive perseguida por namorador um negro. E o papel como Rodesio, capanga da viúva Porcina e Roque Santeiro, onde Dias Gomes, o novelista, queria mostrar um final, onde os dois ficassem juntos, mas que o medo do preconceito racial, fez que a idéia fosse abandonada.

Recentemente em entrevista a Revista Carta Capital, o velho Toni Tornado renasceu ao criticar inclusive as novelas da Rede Globo, onde ele e outros atores negros são relegados a pequenos papeis, e as histórias não ajudam na auto-estima da comunidade negra.

O que vai marcá-lo é sua interpretação de Br-3, com o Trio Ternura. Uma atitude no palco que faz falta em muitos cantores negros, excetos nos rappers – alguém que assuma a própria cor.

Texto de Marco Antonio dos Santos, publicado originalmente no blog Marco Negro

Fazer o download de Toni Tornado - Toni Tornado (1972).

quinta-feira, 24 de março de 2011

ANTÔNIIO ADOLFO & A BRAZUCA

ANTÔNIO ADOLFO & A BRAZUCA - 1969






Faixas:
01. Juliana
02. Futilirama
03. Moça
04. Dois tempos
05. Vôo da Apolo
06. Porque hoje é domingo
07. Maria Aparecida
08. Psiu
09. A cidade e eu

10. Pelas ruas do meu bairro
11. Teletema


O TÍTULO de uma música de grupo em questão já diz tudo: "Que se dane". Se algum dia a música brasileira teve uma atitude dessas, com certeza foi numa das sessões de gravação de um dos antigos LPs de Antonio Adolfo & A Brazuca. Foi uma das fases mais criativas da nossa música, um daqueles raros momentos em que se percebe que tudo é possível. Até mesmo misturar toada, soul, samba, rock e psicodelia.

A receita acima aparece no dois discos que o tecladista e compositor Antonio Adolfo gravou ao lado da Brazuca, pela antiga Odeon. Para quem quiser conferir, ambos os discos estão em catálogo em CD - o primeiro, que contém o sucesso "Juliana", saiu já há algum tempo, na série Odeon 100 anos, e o segundo, fora de qualquer série, já pode ser encontrado em algumas lojas. Um pouco de história, para quem não conhece: Antonio, nascido Antonio Adolfo Maurity Sabóia (sim, ele é irmão do sumido Ruy Maurity) vinha da mistura de jazz e bossa nova em grupos como Samba 5 e Conjunto 3D - o apreço pela mistura de brasilidade e tecnologia, que dá as caras nas letras e melodias da Brazuca, já aparece aí. Antonio trabalhou com muita gente, mas é mais conhecido pela parceria com o letrista Tibério Gaspar, que deu em um rico leque de canções gravadas por Wilson Simonal ("Sá Marina"), Toni Tornado ("BR-3"), Trio Ternura ("Manequim"), Evinha ("Teletema"), etc. Sucesso não faltou: "Teletema" teve a glória de ser uma das primeiras músicas do país veiculadas em trilhas de novelas (Véu de noiva, 1970, lançada pela Philips). E "BR-3", soul lisérgico de primeira linha, foi classificada num Festival Internacional da Canção.

Pouco antes dessa época, Antonio & Tibério já haviam se juntado a um time daqueles: as vocalistas Bimba e Julie, o baixista Luizão Maia (acompanhante de artistas como Elis Regina e Erasmo Carlos e tio do também baixista Arthur Maia), o guitarrista Luiz Cláudio Ramos e o baterista Vitor Manga. O primeiro disco do novo grupo, Antonio Adolfo & A Brazuca, saiu em 1969 saudado por Carlos Imperial, Roberto Carlos, Chico Anísio, Augusto Marzagão e Luizinho Eça (que escreveram os textos da contra-capa) e puxado por "Juliana", outro hit turbinado por festivais (2º lugar no IV FIC). No recheio, toada-soul (a própria "Juliana"), sons influenciados por Beatles ("Futilirama", "Dois tempos"), uma espécie de ciranda moderna ("Moça"), soul brasileiro psicodélico ("Vôo da Apolo", com pioneiros efeitos de teclados) e outras melodias de emocionar, como "A cidade e eu", "Pelas ruas do meu bairro" e a animadinha bossa-soul "Maria Aparecida", além da versão original de "Teletema", fechada por conversas de estúdio e pelo bater de uma porta. Um trabalho maravilhoso que, sabe-se lá porquê, nunca havia sido relançado. E como já saiu há algum tempo, reze para encontrar algum por aí.

O segundo Antonio Adolfo & A Brazuca saiu em 1971 e marcou várias mudanças na banda. Pelo astral hippie da capa, já dá para perceber que o mergulho no soul e no rock foi total. Julie deixou a banda e foi substituída por um vocalista, Luiz Keller. E uma história curiosa: Vitor Manga deixara o grupo para excursionar com Wilson Simonal no México, um ano antes. Seus problemas com drogas acabaram fazendo com que o cantor de "Sá Marina" o despedisse - e ele, desgostoso, acabou morrendo de overdose. A tristeza com a partida de Vitor acabou gerando a carregadíssima balada "Tributo a Vitor Manga", literalmente chorada e berrada por Keller. Uma curiosidade: Vitor era sobrinho do homem-de-televisão Carlos Manga, que após a morte do músico, decidiu se vingar procurando Wilson Simonal durante meses, munido de um revólver - fato que foi revelado pelo próprio Carlos Manga, numa entrevista à Playboy, já nos anos 90. Vários amigos em comum acabaram impedindo que o encontro entre os dois acontecesse.

Mais surpresas podem ser encontradas em músicas como "Panorama" (inspiradíssima em Marcos Valle), "Pela cidade", no clima samba-jazzy "Cláudia", na psicodelia de "Atenção! Atenção!", no progressivismo de "Transamazônica" e no soul pesado e hippie de "Que se dane". A primazia da parceria Antonio & Tibério é substituída por várias composições da dupla Luiz Cláudio Ramos/Mariozinho Rocha e por músicas creditadas à Brazuca. Após os dois discos gravados ao lado do grupo, Antonio lançaria mais um pela Philips, em 1972, e depois passaria a se dedicar à produção independente, gravando e distribuindo seus discos por conta própria, a partir do pioneiro selo Artezanal. Tibério iniciaria uma parceria com o cantor e compositor Guilherme Lamounier - que geraria um disco solo de Guilherme pela Continental em 1973 e o sucesso "Cabeça feita", gravado pela banda cearence O Peso - e recentemente lançou um CD solo. E mesmo não aparecendo tanto na mídia, a usina de criações da dupla já chamou a atenção até de pessoas improváveis - pode perguntar ao punk Jello Biafra, que já andou citando Antonio Adolfo em entrevistas.

Texto de Ricardo Schott, publicado no site discotecabasica.com.

Fazer o download de Antonio Adolfo & A Brazuca - Antonio Adolfo & A Brazuca (1969)
 
ANTÔNIO ADOLFO & A BRAZUCA - 1971






Faixas:
01. Panorama
02. Cláudia
03. Tributo a Victor Manga
04. Pela cidade
05. Grilopus nº 1 (1ª parte)
06. Que se dane
07. Atenção, Atenção!
08. Cotidiano
09. Transamazônica
10. Cortando caminho
11. Grilopus nº 1 (2ª parte)
12. Caminhada


Fazer o download de Antonio Adolfo & A Brazuca - Antonio Adolfo & A Brazuca (1971).
 

RITA LEE

BUILD UP - 1970







Faixas:
01. Sucesso, Aqui Vou Eu (Build Up)
02. Calma
03. Viagem ao Fundo de Mim
04. Precisamos de Irmãos
05. Macarrão com Linguiça e Pimentão
06. José ( Joseph )
07. Hulla-Hulla
08. And I Love Her
09. Tempo Nublado
10. Prisioneira do Amor
11. Eu Vou Me Salvar


No início de 1970, 0s Mutantes já traziam em sua bagagem três albuns e diversos sucessos. 0 stress já batera à porta e o grupo liderado por Rita Lee e pelos irmãos Arnaldo e Sérgio Dias Baptista estava em férias. Quinteto desde o último disco, A Divina Comédia ou Ando Meio Desligado (1970), com a oficialização dos membros Liminha (baixo) e Dinho (bateria), os Mutantes aguardariam o vôo solo de Rita Lee. Estimulada pela diretoria da gravadora, notadamente pelo então presidente André Midani, Rita - que vinha fazendo diversos shows de moda, desfiles e happenings - acabou entrando em estúdio em São Paulo com seu marido e parceiro de banda, Arnaldo Baptista, que assumiria a direção musical, enquanto que Manoel Barenbein produziria o disco e Rogerio Duprat faria os arranjos. Os Mutantes so não estiveram inteiramente presentes neste primeiro álbum solo de Rita Lee porque o guitarrista Sérgio Dias não entendeu como bom para a banda que seus membros tivessem projetos paralelos. O lendário Lanny Gordin acabou fazendo os belos solos.

O repertório procurou afastar Rita dos Mutantes, trazendo diversas parcerias dela com Élcio Decário. Mas, casualmente, foi com a versão José, do original francês Joseph (de Georges Moustaki), curiosamente assinada por Nara Leão (que na época morava em Paris e também versionou outras musicas), que este "Build Up" entrou para a história. Podendo ser considerado o disco #0 na carreira de Rita Lee, este trabalho foi logo seguido pelo projeto Tecnicolor dos Mutantes no final de 1970, arquivado em prol de Jardim Elétrico (71) - até ser enfim lançado pela Universal Music no ano 2000, exatos 30 anos após sua realização em Paris.

Quando os Mutantes desejaram gravar um segundo LP em 1972, após País dos Baurets, a notícia de que não poderiam (ou deveriam) fazer dois trabalhos num mesmo ano acabou levando a um "jeitinho brasileiro": Hoje é o Primeiro Dia do Resto da sua Vida acabou sendo creditado a Rita Lee, como se fosse seu segundo álbum solo. A cantora eventualmente saiu da banda no início de 1973, montando a dupla Cilibrinas do Éden com a amiga Lucia Turnbull por alguns meses e finalmente criando o grupo Tutti Frutti - que sobreviveu acompanhando Rita por cinco anos.

Tutti Frutti seria o terceiro (ou primeiro?) album solo de Rita Lee em 1973, mas o trabalho da banda não agradou a diretoria da gravadora que determinou seu arquivamento em função da idéia de que Rita gravasse um disco verdadeiramente solo para a Philips. Atrás do Porto Tem Uma Cidade acabou saindo em 1974, com o sucesso Mamãe Natureza final mente solidifiicando Rita Lee como artista solo alguns anos depois de seu primeiro trabalho individual. Tutti Frutti, o disco arquivado, chegou a ser resgatado e remasterizado para lançamento no ano 2000, para cair novamente no limbo.


Texto de Marcelo Fróes, encartado na reedição em CD

Fazer o download de Rita Lee - Build Up (1970).
 
 
HOJE É O PRIMEIRO DIA DO RESTO DA SUA VIDA - 1972






Faixas:
01. Vamos Tratar da Saúde
02. Beija-me Amor
03. Hoje é o Primeiro Dia do Resto da sua Vida
04. Teimosia
05. Frique Comigo
06. Amor Branco e Preto
07. Tiroleite
08. Tapupukitipa
09. De Novo Aqui Meu Bom José
10. Superfície do Planeta



Cada vez mais dedicados a sua musica, ensaiando e viajando direto, Os Mutantes vibraram com a inauguração em São Paulo de um então moderno estúdio de 16 canais. Em meados de 1972, ano em que já haviam gravado e lançado um disco (Mutantes e seus cometas no país do baurets), eles resolveram experimentar a novidade. Entraram no recém-inaugurado Estúdio Eldorado e gravaram Hoje é o primeiro dia do resto da sua vida, que sairia em outubro como se fosse um lançamento solo de Rita Lee. De fato, Rita brilha no disco. Participa da composição de sete das dez faixas, canta quase todas e ainda por cima desenhou a capa.

Mais um trabalho produzido por Arnaldo Baptista, que também toca teclados e canta, e que tem como músicos Sérgio Dias Baptista (guitarra e voz), Arnolpho Lima Filho, o Liminha (baixo e vocal), e Ronaldo Paes Leme, o Dinho (bateria), é um disco dos Mutantes. Se alguém ainda tiver duvidas, basta colocar o CD no aparelho e aumentar o som.

Canto de cisne de um dos mais criativos grupos de rock deste país, Hoje é o primeiro dia do resto da sua vida é tambem o mais experimental dos discos do grupo. Da primeira faixa, Vamos tratar da saúde, a última, a clímática Superficie do planeta, espirram ousadias sonoras, competência instrumental e apuro técnico. Hoje é o primeiro dia... tem um tango (Beija-me a boca) cantado por Rita e pela guitarra de Serginho. Não é um exagero. Usando a boca para fazer ressonância, Sérgio Dias faz sua guitarra cantar.

Em outra faixa, o delicioso samba-homenagem ao Corinthians, Meu amor branco e preto, Sérgio volta a usar o truque e faz a guitarra soar como um pato de desenho animado. Na gravação, os Mutantes usaram outro truque, muito repetido anos depois. Como fundo, puseram a narração de um jogo de futebol. O disco está repleto dessas ousadias, que culminam com um papo de estúdio sobre como gravar determinada música. Rita sugere o uso de quatro vozes em cada um dos 16 canais. Dito e feito. A sobreposição forma o gigantesco coral de 64 vozes que enfeita De novo aqui meu bom José. Foi uma despedida e tanto. No ano seguinte, Os Mutantes estreariam um show no Rio já sem Rita Lee. O que era doce, acabou. Ou melhor, espalhou-se.

Texto de Fábio Rodrigues, encartado na reedição em CD

Fazer o download de Rita Lee - Hoje é o Primeiro Dia do Resto da Sua Vida (1972)
 
 
 
ATRÁS DO PORTO TEM UMA CIDADE - 1974






Faixas:
01. De Pés no Chão
02. Yo No Creo Pero...
03. Tratos à Bola
04. Menino Bonito S
05. Pé de Meia
06. Mamãe Natureza
07. Ando Jururu
08. Eclipse do Cometa
09. Círculo Vicioso
10. ...Tem uma Cidade


QUANDO Rita Lee deixou os Mutantes, já havia deixado uma incipiente e até hoje desvalorizada carreira solo (composta pelos discos Build Up, feito para um projeto da Rhodia, e por Hoje é o primeiro dia do resto da sua vida, um álbum dos Mutantes lançado em seu nome para não concorrer com o disco do grupo que havia sido lançado pouco antes). Sem saber o que fazer da vida, havia cogitado várias hipóteses, até a de desistir da música. E até a de suicídio.

Praticamente seguindo, mesmo sem querer, os passos de seu ídolo David Bowie, Rita tentara começar no folk: juntou-se com a amiga e afilhada musical Lucia Turnbull e montou as Cilibrinas do Éden, que tocavam rock acústico fantasiadas de fadas voadoras. A dupla durou o suficiente para realizar um show flopado no festival Phono 73 (breve neste blog), em 1973, e desistir. A época era para rock progressivo, hard rock, coisas impávidas e colossais. Quem fizesse rock teria que soar alto. Lá fora, o glitter rock já dominava a cena, os precursores do punk eram o que havia de mais moderno, o progressivo ainda reinava, David Bowie era o fodão e a guitarra espacial de Marc Bolan era o que havia de bom. No Brasil havia MPB politizada e censurada, torturas, um cenário rockeiro incipiente e relegado ao underground, além da indefectível dupla samba e futebol. Foi nesse pé que Atrás do porto... chegou nas lojas.

ANTES: A maneira como Rita Lee deixou os Mutantes é algo obscuro até hoje: se foi expulsa, se saiu porque quis... Conta-se que, ao tentar utilizar instrumentos como moog e mellotron (privados de bandas de rock progressivo, estilo que os Mutantes estavam fazendo por volta de 72/73) nos ensaios da banda, Rita ouviu piadinhas - chegou a tentar inserir seu sintetizador no arranjo do jazz-rock enfezado "Mande um abraço pra velha" (irônico canto do cisne da banda) e foi vetada de cara. Segundo o biógrafo Carlos Calado, a coisa foi num crescendo até que Arnaldo disse que não havia mais lugar para Rita na banda (e não havia mesmo - com músicas de dez minutos, vôos instrumentais e o guitarrista Serginho cantando cada vez mais, Rita parecia relegada a um papel decorativo, injusto para com quem havia bolado boa parte das loucuras dos Mutantes).

Separada dos Mutantes, Rita casou-se de novo (com Mick Killingbeck, um misto de produtor, empresário, agitador cultural e guru do LSD) e começou a compor um novo repertório, diferente do que vinha fazendo com os Mutantes e totalmente livre das amarras progressivas de então. "Mamãe Natureza", a primeira música que saiu dessas sessões de composição, trazia na letra um relato ora conformado, ora esperançoso de Rita em relação às suas expectativas de carreira solo, no qual Rita se lançava e entregava tudo pra Deus ("Estou no colo da Mãe Natureza/Ela toma conta da minha cabeça/É que eu sei que não adianta mesmo a gente chorar/A mamãe não dá sobremesa"). Nem parecia que a mesma Rita dominaria as paradas de sucesso anos depois.

Após uma experiência mal-sucedida de se apresentar abrindo para os Mutantes (com as Cilibrinas, que faziam um som folk e pífio para a época), Rita resolveu cair de boca no hard rock. Juntou-se a uma galera que, como ela, vinha da Pompéia (bairro-celeiro de músicos de São Paulo), e montou o Tutti-Frutti. O nome do grupo pode ser entendido tanto como uma referência ao famoso hit cantado por Little Richard, quanto à ascendência italiana dos músicos da banda (Luiz Sérgio Carlini na guitarra, Emilson Colantonio na bateria e Lee Marcucci no baixo, sem contar a amiga Lucia Turnbull). Seguindo a cartilha meio hard meio glitter da época e influenciadíssima por grupos e artistas como Slade, David Bowie e outros, Rita se lançava no mercado de forma definitiva, como se este fosse o seu primeiro disco. Vale lembrar que nos anos 70, mulheres rockeiras não eram algo que se achasse por aí em qualquer esquina - mulheres band-leaders, então, eram um verdadeiro absurdo.

O SHOW: Com a banda formada, Rita começou a fazer suas primeiras apresentações em São Paulo. Os primeiros shows, que tiveram colaborações de gente como Zé Rodrix, Mônica Lisboa (ex-empresária de Rita) e Antonio Bivar na direção, tornaram-se clássicos. O show foi ganhando elogios da crítica e tornando Rita (já definitivamente em carreira solo) mais famosa. A única coisa bisonha que rolava era que, em quase todas as apresentações, Arnaldo costumava ir, sentar-se na primeira fila, e ficar fazendo caretas de desaprovação para Rita (!). Na época, os dois pouco se falavam, embora Arnaldo tenha chegado até mesmo a morar com Rita tempos depois, quando estava afundado nas drogas.

O DISCO: O LP Atrás do porto tem uma cidade saiu em junho de 1974 e de cara enfrentou problemas com a gravadora. Como a Philips sempre desejou tirar Rita dos Mutantes (fato que foi revelado pelo próprio Liminha, ex-baixista do grupo, em uma entrevista nos anos 80), Rita começou a ser mais trabalhada pela gravadora que o normal. Enquanto Arnaldo Baptista gravou seu disco Lóki?, do mesmo ano (e que ficou às moscas) em São Paulo mesmo, Rita mudou-se para o Rio e ficou hospedada num apartamento em Santa Tereza, junto com o pessoal da banda. A intenção da gravadora era que Rita pudesse ser melhor orientada pelo "grupo de trabalho" da Philips - formado por pensadores, intelectuais e gente da gravadora, como Paulo Coelho, Roberto Menescal, Nelson Motta, André Midani e outros - de modo a poder gerir melhor sua carreira. As reuniões aconteciam geralmente em hotéis cariocas como o Copacabana Palace e o Meridién. A Philips queria que Rita fosse no mínimo uma superstar. Rita queria fazer roquenrol, "rock pauleira", como se dizia na época.

Produzido por Mazola, o disco acabou não saindo lá muito ao gosto de Rita - que declarou que "a gravadora exigiu de mim uma star e o disco saiu malfeito". Problemas conceituais entre ela e a produção acabaram deixando o disco distante do que ela sonhava: a gravação foi feita no estúdio carioca da Philips - o melhor estúdio para se gravar rock na época era o Eldorado, em São Paulo - e a mixagem acabou saindo meio estranha. A banda Tutti-Frutti nem apareceu inteira - Emilson acabou sendo substituído por músicos de estúdio e as sessões tiveram participação de gente como a banda Azymuth. Isso, no entanto, não diminuiu o valor do disco: mesmo com tantos problemas, Atrás do porto... continua sendo até hoje um dos melhores discos de Rita. Nas letras, Rita mandava recados cifrados para amigos, para a gravadora, para os Mutantes e até para os homens do poder.

FAIXA-A-FAIXA

"DE PÉS NO CHÃO": A primeira faixa do disco era um fox-hard-rock bem T.Rex, cuja letra é cheia de mensagens irônicas e cifradas. Na época, até mesmo a sexualidade de Rita foi posta em dúvida, o que certamente gerou os versos da música.

"YO NO CREO, PERO...": Meio mística, meio anti-ditatorial ("Segura a barra/A bruxa está solta...") a segunda música é um dos momentos mais progressivos do álbum, com direito a Rita tirando algumas notas do mellotron e fazendo solinhos de moog.

"TRATOS À BOLA": Rock´n roll animadaço, acompanhado por palmas, com letra claramente dirigida a Arnaldo Baptista ("Eu ontem encontrei um amiguinho de infância/Aquele que vivia me chamando de bobinha"). Se um dia o pessoal do Stone Temple Pilots bota a mão nesse disco vai ficar doido.

"MENINO BONITO": Diz a lenda que a gravadora pediu que o disco tivesse pelo menos uma música mais romântica e Rita fez essa, que tornou-se o maior sucesso do LP. O arranjo original era bem minimalista, só com piano, baixo e voz - e Rita nem chegou a ouvir o resultado final. Com o disco nas lojas, um dia Rita fazia compras no supermercado quando de repente toca "Menino bonito" no rádio: a gravadora tinha acrescentado um arranjo breguíssimo de cordas sem avisar à artista.

"PÉ DE MEIA": Boogie rock com riffs quase stonianos (ou Sladianos, com um pouco de boa vontade), cantado em dueto por Rita e Lúcia.

"MAMÃE NATUREZA": Rockarnaval visceral e explícito, mostrando a cara própria de Rita e do Tutti-Frutti. Foi o primeiro sucesso da cantora após deixar definitivamente os Mutantes. Luiz Carlini, um dos melhores guitarristas do Brasil, faz alguns dos solos mais legais já feitos em território pátrio.

"ANDO JURURU": Resgatado nos anos 90 pelos Raimundos e por Kiko Zambianchi, o desabafo de Rita diante do esquemão do showbiz ainda soa atual. Milênios antes do Planet Hemp (que aliás tocou essa música em alguns shows) Rita já rimava "I know I have to do" com "cogumelo de zebu".

"ECLIPSE DO COMETA": O momento paulocoelhal do disco - na verdade um bom recado para uma nação que, na época, vivia cabisbaixa. "E as pessoas precisavam dele/para levantar as cabeças/mas olhe bem, baby/Não é preciso cometas"

"CIRCULO VICIOSO": Com trechos da letra surrupiados de "Neurastênico" (de Betinho, sucesso pré-Jovem Guardista), é outro momento prog do LP. Inclui um longo trecho instrumental no qual o Tutti-Frutti deita e rola. A frase "eu só quero brincar com a sua cabeça..." diz tudo a respeito da música.

"...TEM UMA CIDADE": Estranha vinheta instrumental, de inspiração claramente blacksabbathiana, composta apenas por Rita. Dá a entender que havia alguma coisa a mais ali, que pode ter sido censurada.

Texto de Ricardo Schott, publicado no site discotecabasica.com.

Fazer o download de Rita Lee - Atrás do Porto Tem uma Cidade (1974).

ARNALDO BAPTISTA

ARNALDO BAPTISTA - LOKI - 1974?



















Faixas:
01. Será que Eu Vou Virar Bolor?
02. Uma Pessoa Só
03. Não Estou Nem Aí
04. Vou Me Afundar na Lingerie
05. Honky Tonky
06. Cê Tá Pensando que Eu Sou Lóki?
07. Desculpe
08. Navegar de Novo
09. Te Amo Podes Crer
10. É Fácil

No pop brasileiro, são raros os que driblaram a barreira lingüística e edificaram trabalhos fundamentais. Em meio às síndromes progressivas, à invasão da Nordésia e do "rockão pauleira", no início de 74, o LP em questão surgiu não apenas como antídoto a essas tendências, mas também como uma obra única e radical do rock brasileiro.

Gravado em terríveis condições emocionais - Arnaldo havia perdido Rita Lee para sempre -, após sua saída dos Mutantes, o disco conta, além da participação de três ex-integrantes (o baterista Dinho, o baixista Liminha e Rita nos backing-vocals), com arranjos de Rogério Duprat. A gravação feita às pressas proporcionou um punch inigualável e, dado seu estado emocional, Loki? acabou por ser o maior tratado existencial do rock brasileiro, algo digno do desespero suicida da nouvelle vague, da dolorosa raiva incontida dos angry young men ingleses e de poetas visionários que enxergaram o lado obscuro da realidade.

Arnaldo demonstrou o que significa amar até perder o nome, buscar os paraísos artificiais a partir da desintegração da alma e percorrer os porões proibidos dos sentimentos, dando vazão aos abismos da vida e anunciando esboços da morte tateada, ainda que não consumada. Nessas antevisões, ele já parecia estar ciente das amargas metamorfoses que delineariam seu destino tatuado por uma tentativa de suicídio em 1980, após ter criado a alucinada Patrulha do Espaço.

Se, textualmente, provou genialidade, em nível musical nada deixou a dever; ou seja, a partir de sua voz arrancada do âmago e de um sensível piano de concepção clássica, ele percorre o tecido rock com eclética maestria, indo das mais tristes baladas até progressive rocks, passando por tons de bossa, jazz, funk e blues.

A primeira faixa do LP, a linda rock'n'roll ballad "Será Que Eu Vou Virar Bolor?", usando o título como mote, traça ironicamente um paralelo entre o futuro de seu amor e o do rock'n'roll, ambos ameaçados de extinção. A seguinte "Uma Pessoa Só", arranjada por Duprat, remonta os lindos sonhos dourados de 71/72, quando os Mutantes viviam em comunidade na Serra da Cantareira, numa trip coletiva em que era possível ser "uma pessoa só". "Não Estou Nem Aí" é uma beat-ballad pulverizada por tons bluesísticos/jazzísticos em que, sombreado pela (im)possibilidade de esquecer os "males", ele desafia a morte de forma sarcástica. Em "Vou Me Afundar na Lingerie", um bluesy-popster de primeira linha, instala a evasão absoluta do mundo real "deslanchando bem embaixo" e propondo afogar as mágoas no deslumbre da natureza e na relatividade das pequenas. A instrumental "Honky Tonky" é um delicioso mergulho ao piano.

A segunda face traz a memorável "Cê tá Pensando Que Eu Sou Loki?", esmerado exercício bossístico que desbanca a loucura, mas não exime o prazer pelas viagens. Na baladaça "Desculpe", penetra na angústia passional, um "Jealous Guy" à brasileira, que sentindo "o pulso de todos os tempos" exige o amor a qualquer custo. Na fragmentada "Navegar de Novo", desvenda sua particular "passagem das horas" e as dimensões (im)possíveis do tempo. "Te Amo, Podes Crer", uma balada de amour fou, encarna o pranto de um abandonado que revela: "Dentro de algum tempo eu paro de tocar/espero o apocalipse de então eu te encontrar", um verso que resumiria profeticamente seu futuro. Fechando, a folk-psicodélica "É Fácil", microssíntese do amor absoluto.

Se hoje sua obra é mítica, saiba que Arnaldo pagou muito caro por toda essa paixão levada às últimas conseqüências. "Já leu todos os livros" e sabe que "a carne é triste".

Texto de Fernando Naporano, publicado originalmente na Revista Bizz, Edição 43, de Fevereiro de 1989

Fazer o download de Arnaldo Baptista - Loki? (1974).

ROGÉRIO DUPRAT, GILBERTO GIL & CAPINAM - BRASIL ANO 2000

ROGÉRIO DUPRAT, GILBERTO GIL & CAPINAM - BRASIL ANO 2000 - 1969


Antes de começar o texto sobre o álbum quero deixar aqui meus sinceros agradecimentos ao especialíssimo Chico Arruda que ao saber que eu estava a procura deste álbum entrou em contato e teve a bondade de me enviar uma cópia dessa obra que até então estava perdida no tempo. Valeu mesmo Chico, essa postagem dedico a você!
Agora vamos ao disco:
O elo perdido! A lacuna que existia na discografia tropicalista acaba de ser preenchida!!! "Brasil Ano 2000", é a trilha do filme homônimo lançado em 1969. Os responsáveis pela trilha fazem parte da cúpula tropicalista. Gil, Capinam, Duprat e Caetano Veloso assinam as composições contidas no filme.
20 faixas das quais três são de Gil e Capinam, uma de Caetano Veloso e as 16 restantes levam a assinatura de Duprat. O tempo total do LP dura cerca de 32 minutos e carrega momentos memoráveis. De começo temos Gal Costa interpretando a excelente "Canção Da Moça", de Gil e Capinam, na ficha técnica não diz quem é o violonista que a acompanha, mas tenho quase certeza de que é o proprio Gil que o faz. Seguindo temos duas vinhetas de Duprat e outra canção de Gil e Capinam "Homen de Neandertal", interpretada por Gal e Bruno Ferreira. Mais uma vinheta e caimos no tema chamado "Retreta", tema que caberia em qualquer filme de Fellini sem destoar em nada, Duprat compôs um dobrado que deixaria Nino Rota morrendo de inveja (ah! Se Fellini tivesse ouvido isso! rsrs). Na sequência temos mais 5 vinhetas de tamanhos variáveis e que entre as quais Duprat desfolha citações de Felix Mendelssohn e de G. Rossini e são com elas que finaliza o Lado A do LP.
O Lado B abre com "Show de Me Esqueci", uma espécie de síntese do filme interpretada por Gal , Ênio Golçalves e Bruno Ferreira, nela estão praticamente quase todas as melodias que permeam o filme. O que segue é a composição "Coração", aqui Duprat re-utilizou a base do arranjo orquestral de "Coração Materno" gravado um ano antes para o LP "Tropicália ou Panis Et Circenses" e substituiu o vocal de Caetano Veloso por um solo de clarinete fazendo outra melodia, creio, sem dúvida alguma, que Duprat fez uso dos tapes de "Coração Materno" para o seu 'novo' "Coração" como uma espécie de play back, é curioso ouví-las uma seguida da outra.
Mais quatro vinhetas seguem na continuidade do álbum, duas merecem ser comentadas: "Duelo De Garfo e Faca", me arremete aos experimentos de Walter Smetak com suas propositais desafinações e diálogo entre os instrumentos e "Relógio Do Tempo", que devido a instrumentação escolhida é o tema mais singelo do álbum, impossível não gostar. Mais duas e concluímos o repertório do disco: "Escolha Da Liberdade", novamente Duprat revisita os temas que aparecem no filme e cria nova melodia que vai servir de ponte para o último tema do álbum. "Não Identificado", composição de Caetano Veloso que foi escolhida como canção adicional e que encaixou perfeitamente, não poderia ter sido melhor a escolha. Mais uma vez Gal deixa seu recado concluindo o volume de maneira magistral.
"...Vou andando, vou sonhando, vou sorrindo, seu sorriso sonho antigo em minha dor..."





Para Saber Mais: O Filme


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PAULINHO DA VIOLA

PAULINHO DA VIOLA - 1968
A elegância magistral do samba!
No conturbado Brasil de 1968 Paulinho da Viola lançava aos 26 anos de idade seu primeiro disco solo, a primeira aparição fonográfica de Paulinho acontecera 3 anos antes no registro, também lançado pela Odeon, do espetáculo "Rosa De Ouro" idealizado e dirigido por Herminio Belo De Carvalho. Entre o primeiro registro e o primeiro disco solo tiveram 5 outros álbuns, dois lançados no mesmo ano de 1968, ou seja, a produção de Paulinho em 1968 foi intensa.
Como não poderia deixar de ser Paulinho sempre deixou clara sua origem, seu berço e sua herança musical, fato que transparece claramente na escolha do repertório de seu debute, desse seu 'andar com as próprias pernas' musical.
A composição que abre o volume, "Vai Amigo", é assinada pelo mestre mangueirense Angenor de Oliveira - o excelentíssimo bamba mais conhecido como Cartola - a canção inédita em disco até então recebeu arranjo do maestro Gaya.
Lindolpho Gaya dividiu os arranjos do disco com o Maestro Nelsinho, ficando responsável por apenas mais três das faixas contidas no álbum: "Dôce Veneno" de Valsinho, Carlos Lentine e Goulart, "Amor Proibido" também de Cartola e "A Gente Esquece" do próprio Paulinho. Das 12 faixas contidas no volume apenas 5 levam a assinatura de Paulinho. É desse álbum uma das composições mais geniais já feitas por ele: "Coisas do Mundo, minha nega". Essa composição ficou em 6º lugar na primeira bienal do samba (Junho/1968), na ocasião quem a defendeu foi Jair Rodrigues.
Outros compositores que aparecem no repertório são: Candeia (Batuqueiro), Casquinha (Maria Sambamba), Elton Medeiros e Herminio Bello De Carvalho (Samba Do Amor), Cacaso (Meu Carnaval) e Garcez, Nelson Silva e Monteiro (Não Te Dói A Consciência). Sei que é bater na mesma tecla falar que o álbum é excelente, mas é fato, todas as faixas se complementam formando a unidade perfeita. Como diria um certo candidato recentemente eleito em São Paulo: "FantáááááRdigo!!!" rsrs.
Quanto a mim, não sei ao certo quando comecei a gostar de Paulinho da Viola, creio que já nasci gostanto, são tantas coisas bonitas que ele fez e faz que datas passam a ser mero detalhe sem muita função. Suas obras nascem atemporais e com fortíssima identidade, são músicas que ao ouvirmos afloram em nós o orgulho de ser brasileiro, de ser do samba, de ser do Brasil. Ele tem a manha!
Com esse álbum dou aqui o início a saga "Paulinhovioliana", espero que gostem, mais um débito sendo pago! rs. Aguardem os próximos e...
Viva o Paulinho da Viola!!!








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FOI UM RIO QUE PASSOU EM MINHA VIDA - 1970
Eu realmente não lembro de quando comecei a gostar de Paulinho da Viola, mas lembro claramente qual foi o primeiro disco dele que comprei. E o interessante é que cheguei até esse álbum depois de ouvir a versão dos Ambitious Lovers - duo formado por Arto Lindsay e Peter Sherer em meados da década de 80 - de "Para Não Contrariar Você", chapei e achei a música excelente já de cara, como todo curioso fui atrás de saber de quem e de quando era aquilo. Quando descobri e ouvi a versão de Paulinho aí tive overdose! É uma das melhores e de lambuja tem o arranjo do Maestro Gaya, muito bom!
A música fazia parte do clássico "Foi Um Rio Que Passou Em Minha Vida" um dos álbuns mais emblemáticos de Paulinho e que foi lançado em 1970.
Em 1969 Paulinho foi o vencedor do V e derradeiro festival de MPB da Record e na ocasião lançou um compacto que além da música vencedora - a mais sutil e impactante música de protesto - "Sinal Fechado" continha mais três composições, duas fariam parte do álbum que viria, ou seja, o compacto além de divulgar a música do festival também serviu como uma prévia do elepê que viria.
O elepê é composto por 11 faixas, quatro das músicas contidas no álbum se tornaram clássicas, não só do samba como da música brasileira de uma maneira geral, tais como: "O Meu Pecado" composta por Zé Ketti, "Foi um rio que passou em minha vida", "Tudo Se Transformou" e "Jurar Com Lágrimas" de Paulinho. Diferentemente do primeiro álbum, nesse Paulinho assina a autoria de 9 das faixas, os outros que assinam são Mauro Duarte (Lamentação) e o já citado Zé Ketti. Na edição em CD foi acrescentada mais duas faixas que saíram apenas no compacto citado acima "Ruas que sonhei" e "Sinal Fechado".
Quanto ao grupo que acompanha Paulinho nada temos de informação, a única informação contida na ficha técnica do volume é relacionada a direção musical de Lyrio Panicali e aos arranjos do Maestro Gaya. No site diz que teve participação do Maestro Nelsinho também, já na contra capa do álbum nada diz a esse respeito. Sem dúvida nenhuma é a galera da Portela que deve estar ao redor de Paulinho, agora, nomes exatos só perguntando pro Paulinho, rsrs.
Um fato que achei curioso e me dei conta ao reouvir esse álbum é o de que a famosa introdução com o "...Laiaaaaaaa, laiaaaaaa, laiaaa, laaaaia..." de "Foi Um Rio Que Passou Em Minha Vida" não existe em sua versão original, hoje em dia é praticamente impossível cantar essa música sem sua intro, não pesquisei pra saber em que momento ela surge. Ta bom de papo né? Então vamos nos deleitar com a elegância dos sambas de Paulinho...

"... Fico no meu samba, se quiser pode ficar / Vou lá na Portela mesmo que você não vá... Não darei ouvidos se você me provocar, mas aceito um beijo se você quiser me dar, se você quiser me dar..."





Para Saber Mais: Homepage PV - Biografia DCA




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PAULINHO DA VIOLA - 1971

Vamos novamente mergulhar na obra de um dos músicos e compositores mais geniais do nosso riquíssimo cancioneiro popular: Paulinho Da Viola!
Herdeiro da mais nobre linhagem do samba e choro proveniente dos subúrbios cariocas Paulinho como vimos anteriormente teve sua estréia fonográfica em 1965, de lá pra cá o 'menino' tomou gosto pela coisa - e nos presenteou com várias preciosidades ao longo de todos esses anos - tanto que em 1971 lançou logo dois álbuns excelentes e um atrás do outro.
O primeiro, tema desta postagem, é composto por 12 faixas e contém músicas que posteriormente se tornariam grandes sucessos como: "Para Ver as Meninas" de Paulinho, "Filosofia do Samba" de Candeia e "Minha Vez De Sorrir" de Nelson Sargento.
Esse é a meu ver o álbum mais moderno de Paulinho, tanto em termos de orquestração quanto de flertes com gêneros extra-samba. Fiquei boquiaberto ao encontrar nesse álbum elementos que podemos considerar como inusitados para um clássico álbum de samba de raiz. Paulinho inovou e mostrou que não estava alheio ao que estava acontecendo a sua volta.
Dois grandes exemplos são as composições "Num Samba Curto" e "Consumir é Viver".
Em "Num Samba Curto", faixa de abertura do volume, encontramos elementos do que mais tarde seria cunhado como drum'n'bass, digamos que sem saber Paulinho é um dos precurssores da mistura de breakbeat com samba (estou tentando saber quem é o batera, pois tais informações e ficha técnica inexistem no LP). Já em "Consumir é Viver" de Marcus Vinícius temos uma introdução funkeada que logo cai numa 'vibe' bem samba-rock! É isso mesmo! Nem Paulinho conseguiu ficar imune ao suingue genial de James Brown e Jorge Ben!
Em termos de orquestração vejamos por exemplo a utilizada em "Para Ver As Meninas", temos nela apenas: Violão, Caixa de fósforos (magistralmente tocada por Elton Medeiros) e Cravo! Até então não se tinha notícias de Cravo no samba! A combinação ficou perfeita! O Cravo também foi usado muito bem em outras faixas ao longo do elepê.
Bom, creio que esses elementos já bastam para despertar em vocês a curiosidade/vontade de ouví-lo pelo menos uma vez e conhecer também o não dito!
É isso aí... e como diria Candeia...
"...Mora na filosofia, morô? Maria, morô Maria..."


Para Baixar: Paulinho Da Viola - 1971 - Paulinho Da Viola


Para Assistir: Mora Na Filosofia
 
 
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PAULINHO DA VIOLA - 1971

Segundo disco da safra de 1971, não possui nenhuma ousadia 'extra-samba' como no álbum anterior, mas meu neguinho confesso que não faz a menor falta!.
71 foi realmente um ano extremamente fértil para Paulinho. Tão bom quanto o anterior esse álbum também é recheado de preciosidades sonoras. Originalmente o volume é composto por 12 faixas, mas aqui trago a versão digital remasterizada que possui duas faixas bônus lançadas somente em compacto na época.
No álbum temos as geniais: "Perder e Ganhar", que abre o volume seguida de "Sol e Pedra", composição dedicada a Nelson Cavaquinho. A terceira faixa é a divertida crônica de "Dona Santina e Seu Antenor", depois temos "Para um amor em Recife" que segundo informações contidas no site oficial de Paulinho é uma declaração de amor dedicada a amiga e quase mãe pernambucana Dedé Aureliano. Na versão em elepê as duas seguintes encerram o lado A do mesmo: "Mal De Amor", um samba suingadíssimo do capixaba Raul Sampaio gravado originalmente em 1961/62 e "Depois da Vida", mórbida e poética composição de Nelson Cavaquinho que me lembra um pouco o roteiro de um dos filmes de José Mojica, excelente!!!
O labo B abre com o partido "Moemá Morenou", parceria de Paulinho e Elton Medeiros que também participa da gravação, em seguida temos "Óculos Escuros", composição feita por Orestes Barbosa e Valzinho em 1948 e gravada em 1955 por Zezé Gonzaga, esse música ficou entre as 100 mais tocadas no ano em que foi gravada. Paulinho da continuidade ao álbum com "Cuidado, Teu Orgulho Te Mata", do então desconhecido do grande público, Walter Alfaite - é atribuida a essa gravação a descoberta do compositor. Outro compositor que dá as caras e contribui com o repertório do álbum é o portelense Monarco com "Lenço" feita em parceria com Francisco Santana e interpretada magistralmente por Paulinho num arranjo simples e genial.
Fechando o bolachão temos "O Acaso Não Tem Pressa" parceria de Paulinho e Capinan e "Um Certo Dia Para 21", ambas excelentes!
Meu elepê não tem ficha técnica mas no site encontrei os nomes dos integrantes do time que segurou a cozinha e os metais: Flautas e Clarinete ficaram a cargo do inconfundível Copinha, trombone a cargo de Norato, Maurílio no piston, Dininho no contrabaixo, Marçal, Elton Medeiros e Oscar no ritmo e Elizeu e Juquinha nas baterias. Arranjos e regência por Lindolfo Gaya. Ouvi rumores de que o Duprat teria feito alguns arranjos desse álbum, mas creio serem apenas boatos mesmo, pois apesar de algumas coisas soarem 'a la Duprat' nada consta que confirme o fato. Com relação as duas faixas bônus nada tenho a dizer além de que são muito boas! rs. é isso aí...
"...Meu mal, é o mal de amor, não há remédio que cure a minha dor..."


 
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DANÇA DA SOLIDÃO - 1972
Bom meus queridos, eu (como sempre) me desculpando novamente pela ausência, mas enfim, aqui estou para dar continuidade a saga musical em torno da obra do genial Paulinho Da Viola.
O que temos agora é o 5º álbum solo de Paulinho (irei até o 7º), lançado em 1972 e que carrega em seu âmago preciosidades sonoras das quais algumas tornaram-se clássicos do cancioneiro popular como "A Dança da Solidão", faixa que da título ao álbum, o partido alto "No Pagode Do Vavá", "Acontece", composição de Cartola que ganhou uma roupagem 'abolerada' e "Falso Moralista" de Nelson Sargento, além dessas ainda temos os hits "Guardei Minha Viola" e "Meu Mundo é Hoje" composição de Wilson Batista também gravada por Jorge Veiga.
Li uma resenha em que o crítico colocava esse como um dos melhores álbuns de Paulinho, apesar de ser composto por vários hits pra mim não chega a entrar na lista dos melhores, é um bom disco mas fico por aqui, rsrs. Na verdade as vezes ele me cansa um pouco. Mas de qualquer maneira vale a pena conhecer. Acho que é isso, não to muito inspirado hoje né? Então por hora basta, rsrs.
Ah! O link do youtube que deixo ali embaixo vale a pena ser visto, não deixe de assisti-lo.
É isso aí!!! Vamo que vamo!!! Uhullll!!!



 
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