É claro que eu conhecia a obra de Edu Lobo, afinal de contas o cara é um ícone da música brasileira, quando adolescente comprei alguns de seus primeiros álbuns em vinil, mas na época foi apenas mais um nome na minha discoteca. Lembro que quando trabalhei na Rádio Educativa uma das vinhetas de abertura do programa da tarde tinha "Zanzibar" como música de fundo e "Ponteio" também era vinheta de abertura de um programa homônimo.
Bom, várias outras canções de Edu me rodeavam com frequência e eu nem "tchum". Lembro que a primeira música de Edu que me chamou bastante atenção foi "Resolução", canção que faz parte de seu segundo álbum "A Música De Edu Lobo Por Edu Lobo" de 1965, inclusive foi ela que me impulsionou a comprá-lo.
Algum tempo depois parei para ouvir Edu com calma e fiquei extremamente feliz com minha redescoberta. Três álbuns de Edu me deixaram realmente chapado e com aquela sensação de estar fora de órbita: "A Música De Edu Lobo Por Edu Lobo", "Sergio Mendes Presents Lobo" e "Cantiga De Longe". Hoje falarei de: "Cantiga De Longe" lançado em 1970.
O álbum aqui presente foi produzido por Aloisio De Oliveira, gravado em Los Angeles, conta com arranjos de Hermeto Pascoal e Edu Lobo e o lançamento no Brasil saiu pela gravadora Elenco. O time de músicos, como não poderia deixar de ser, é excelente. Existem boatos de que é um disco de Edu Lobo com o Quarteto Novo, essa informação é falsa, existe sim a participação de dois do integrantes mas não do Quarteto completo pois o mesmo havia se desfeito um ano antes, 1969. Participam do álbum: Hermeto Pascoal ex-Quarteto Novo, que além de tocar flauta e piano assina os arranjos, Airto Moreira, que era o outro ex-integrante do Quarteto Novo, na percussão, José Marino no baixo, Roberto Slon na bateria, Edu Lobo voz e violão e Wanda Sá que participa da faixa "Aguaverde".
O repertório do álbum é originalmente composto por 11 composições. A edição que vocês irão baixar contém 12 pois acrecentei um bônus. Vamos as composições:
O álbum abre com a genial "Casa Forte", canção originalmente gravada por Elis Regina no ano anterior, mas que aqui ganha sua versão definitiva, o que segue é o "Frevo de Itamaracá/Come e Dorme" faixa que contém dois frevos, um de Edu e outro de Nelson Ferreira. A singela "Mariana, Mariana", faixa seguinte e parceria de Edu e Ruy Guerra, tem uma introdução que pode ter sido precursora da excelente "Beatriz" que Edu comporia em 1983 para o espetáculo e disco do "Grande Circo Místico", pelo menos uma me lembrou a outra.
A segunda releitura do álbum é a marchinha "Zum-Zum" composição de Paulo Soledade e Fernando Lobo, pai de Edu. Seguindo temos a excelente "Aguaverde" que conta com a participação de Wanda Sá nos vocais e fechando o Lado A do álbum temos a faixa título "Cantiga De Longe", uma das melhores composições de Edu com um arranjo ultra moderno, só a introdução dessa faixa vale o disco todo, é uma de minhas preferidas no álbum.
O Lado B abre com outra que adoro, "Na Feira De Santarém", parceria de Edu e Guarnieri, os diálogos contidos no arranjo são geniais, na sequência temos "Zanzibar", Hermeto quebra tudo no improviso final. Outra parceria entre Edu e Guarnieri que aparece no álbum é "Marta e Romão" que juntamente com "Memórias De Marta Saré" fizeram parte da trilha composta para a montagem teatral da peça de Guarnieri. Em seguida temos outra marchinha, "Rancho de ano Novo", as intervenções da flauta de Hermeto dão um toque especialíssimo na canção, fechando o volume temos "Cidade Nova".
Como bônus acrescentei "Memórias de Marta Saré", que ficou entre as finalistas do 4º Festival da Record em 1968. Escutem esse álbum com calma e muita atenção, garanto que vai valer cada segundo.
Para Saber Mais: Edu Lobo Home
Para assistir: Memórias de Marta Assaré
Edu Lobo - Sergio Mendes Presents Edu Lobo (1970)
É incrível o que Edu Lobo conseguiu realizar em 1970, dois álbuns com várias canções em comum mas que são totalmente distintos entre si. Tudo bem que não foram realizados pelos mesmos produtores, fato a que se deve parte da façanha, mas de qualquer maneira creio que foi a palavra final de Edu que vigorou, e há de se concordar comigo... Quanto bom gosto!!!
Esse foi um álbum pensado para o mercado internacional e é aí que visualizamos o diferencial impresso por Sergio Mendes que assinou a produção da empreitada, tarefa que deve ter sido extremamente prazerosa e, pelo que constatamos nas palavras de Sergio impressa na contra-capa do álbum, gratificante, motivo de orgulho! E não era pra menos, Edu era da linhagem direta precedente de Tom Jobim, Baden Powell e afins. Aliás, uma coisa que não sei se esta seria a postagem ideal de se comentar, mas que mesmo assim o farei: a meu ver Edu Lobo é junto com Moacir Santos e Baden precursor e também criador dos Afro-Sambas um gênero que ficou diluído no movimento Bossa Nova mas que é bem distinto e genialíssimo, esse é um fato que não vejo ninguém comentar. Mas voltando...
Esse álbum como o postado anteriormente foi gravado em Los Angeles CA em 1970, esse especificamente em Julho daquele ano. Com produção de Sergio Mendes o álbum também contou com instrumentistas do mais alto calibre. Lá estavam novamente o trio Hermeto Pascoal - Piano, Piano Eletrico - Flauta, Airto Moreira - Percussão e Cláudio Slon - Bateria, músicos que gravaram o "Cantiga De Longe", e mais Oscar Castro Neves junto com Edu nos violões/guitarras, Sergio Mendes assumiu junto com Hermeto o Piano e além disso tudo ainda temos um quarteto de cordas, um fagotista (Norman Herzberg) e o vocal de Gracinha Leporace em algumas das faixas. Quer mais? Bom, Edu, Sergio e Hermeto assinam os arranjos, nos três nomes temos a tag de "co-arranger".
O volume é composto por 9 faixas, quase todas escolhidas a dedo, dando um breve panorama da produção de Edu entre 1966 e 1970. Sete delas de autoria de Edu e seus parceiros, uma de Hermeto e a última, totalmente desnecessária a meu ver, é uma releitura de Lennon e McCartney.
A abertura do álbum ficou por conta de "Zanzibar", com um arranjo menos cru que o original, aqui Edu é acompanhado por Gracinha Leporace nos vocais, na mesma linha Edu segue com "Ponteio", música de Edu e Capinam que até então só havia sido lançada em compacto e no álbum do III Festival Da Record, a versão que temos aqui também tem a participação de Gracinha Leporace nos vocais. Fica bem evidente o direcionamento que deram para a concepção dos arranjos se fizermos a comparação com as versões originais, moldaram tudo de maneira magistral para atingir outro mercado. Seguindo temos ainda no Lado A: "Even Now", versão em inglês feita por Paula Stone para "Cantiga De Longe" e "Crystal Illusions" versão em inglês de Lani Hall para "Memórias de Marta Saré".
O Lado B inicia com uma versão excelente de "Casa Forte" seguida de outra parceria de Edu e Capinam lançada originalmente em 1967: "Jangada". Na sequência temos uma composição de Hermeto Pascoal chamada "Sharp Tongue" e mais uma versão em inglês de outra composição que se tornou clássica de Edu e Torquato Neto: "To Say Goodbye", a nossa "Pra Dizer Adeus", a adaptação para o inglês foi obra de Lani Hall. Pra mim o álbum deveria ter acabado aqui, mas não acaba.
Não sei se foi pra encher linguiça, ou por estratégia mercadológica, ou pressão da gravadora, ou sei lá o que, enfim, a última faixa do álbum é uma versão de "Hey Jude", eu particularmente acho essa música uma grande porcaria, rsrs, não sei se é por causa do Roupa Nova ou porque não gosto mesmo, apesar que o arranjo ficou legal, mas puta que o pariu! Tanta música legal dos Beatles pra fazer versão e eles escolhem logo essa! Pior que isso só Ob-la-di Ob-la-dá, rsrsrsrs. Mas tudo bem o resto é realmente genial!!!!
Espero que gostem!!!
Postado originalmente por Marcel Cruz no superblog SACUNDINBENBLOG
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