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domingo, 1 de abril de 2007

THE BEATLES

  


The Beatles foi uma banda de rock de Liverpool, Inglaterra, com suas raízes no final da década de 1950 e formada na década de 1960. Constituído principalmente por Paul McCartney (baixo, piano e vocais), John Lennon (guitarra e vocais), George Harrison (guitarra solo e vocais) e Ringo Starr (bateria e vocais), o grupo é reconhecido por ter liderado a “Invasão Britânica” nos Estados Unidos, no início dos anos 60. 

Embora inicialmente o estilo musical do grupo tenha sido influenciado pelo rock and roll e pelo skiffle de 1950, a banda explorou durante a carreira gêneros que vão de rock melódico à rock psicodélico. Os “garotos de Liverpool”, ou “Fab Four” – “quarteto fabuloso”, como eram chamados, obtiveram fama, popularidade e notoriedade até hoje inéditas para uma banda musical, e tornaram-se a banda de maior sucesso e de maior influência do século XX. Suas vestimentas, os cortes de cabelo, e sua crescente consciência social influenciaram a forma de ser dos jovens daquela geração; por causa disso, criou-se o termo beatlemania. Após a banda se separar em 1970, os quatro membros iniciaram carreiras solo de sucesso.

Considerado o grupo musical mais bem-sucedido da história, sendo os seus membros aclamados por público e crítica, com mais de um 1,5 bilhão de álbuns vendidos em todo o mundo, e com vinte canções que atingiram o primeiro lugar nas paradas de sucesso apenas nos Estados Unidos da América, além de conseguirem ocupar em determinado momento os cinco primeiros lugares em meados de 1964 números recordes até os dias atuais, os Beatles influenciaram e influenciam bandas do mundo todo. Pela inventiva criatividade e originalidade em suas canções, John Lennon e Paul McCartney criaram a mais celebrada e famosa dupla musical de todo o planeta.

Os Beatles incluíram em sua carreira feitos que influenciaram todas as gerações seguintes: foram os precursores da música indiana no pop/rock ocidental; foram a primeira banda a fazer vídeos musicais de suas canções, e o álbum Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band foi o primeiro do mundo a conter um encarte com fotos e letras de suas canções. Em 2003, a Rolling Stone americana classificou-o como o melhor álbum de todos os tempos e, em 2004, incluiu os Beatles em primeiro lugar na Lista dos Cem Maiores Artistas de Todos os Tempos. De acordo com essa mesma revista, a música inovadora e o impacto cultural dos Beatles ajudaram a definir a década de 1960, e sua influência cultural e pop ainda continua viva e intensa nos dias de hoje.



Integrantes.

Paul McCartney (nascido James Paul McCartney em Liverpool, 18 de junho de 1942, tornado Sir James Paul McCartney quando condecorado com o OIB em 1997): compositor, baixista, pianista, cantor, percussionista, guitarrista (ocasionalmente) e baterista (ocasionalmente), membro de 1957 à 1970.

McCartney é autor de músicas muito aclamadas dos Beatles. Desde a primeira música do primeiro disco Please Please Me, I Saw Her Standing There, passando por hinos históricos como Hey Jude, Let It Be, Eleanor Rigby, Yesterday entre outras, até a última música do último álbum dos Beatles, Let It Be, “Get Back”, além de idealizar muitas criações conceituais da banda como o álbum Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band. Formou, com Lennon, a dupla mais celebrada do rock and roll. 


John Lennon (nascido John Winston Lennon em Liverpool, 9 de outubro de 1940, tornado John Ono Lennon quando casado com a artista plástica Yoko Ono em 1969; foi assassinado em Nova Iorque, em 8 de dezembro de 1980, ao lado do Central Park): fundador do grupo e integrante dele de 1957 – quando ainda era o The Quarrymen – até 1970 (quando os integrantes se separaram antes da dissolução legal da justiça), compositor, cantor, multi-instrumentista tocando piano, guitarra, gaita, instrumentos de percussão, teclados (como clavioline, cravo, mellotron e órgão), baixo (ocasionalmente), violão, maracas, pandeiro (em canções dos álbuns Revolver e Magical Mystery Tour) e tape loops. Compôs alguns dos maiores sucessos dos Beatles, inclusive a canção All You Need Is Love, apresentada na primeira transmissão por satélite ao vivo do mundo e que ainda hoje é um hino para várias gerações. 


George Harrison (nascido em Liverpool, 25 de fevereiro de 1943, e morto de câncer em Los Angeles, em 29 de novembro de 2001): compositor, guitarrista solo, cantor, tocava sitar e outros instrumentos da Índia, percussionista, tocava teclado e sintetizador, membro de 1958 à 1970. Harrison tornou-se célebre por introduzir a música indiana no rock and roll, e produziu canções que com o tempo tornaram-se muito famosas: “While My Guitar Gently Weeps”, “Here Comes the Sun”, a balada “Something” e outras. Na década de 1970, Harrison desenvolveu uma carreira solo de grande sucesso, lançando álbuns aclamados pelo público e pela crítica. 

Ringo Starr (nascido Richard Starkey em Liverpool, 7 de julho de 1940): baterista, percussionista, cantor, compositor (ocasionalmente), membro de 1962 à 1970. Starr foi o último músico a entrar na banda. Depois de sair dela, ainda nos anos 70, construiu uma carreira solo de sucesso considerável.


“Quinto Beatle”.

“Quinto Beatle” é um termo informal usado pelos fãs da banda e por vários comentaristas da imprensa ou de entretenimento, relacionado a pessoas que tiveram uma forte associação com o “quarteto de Liverpool”, com exceção de John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr. Foi e ainda é atribuído a: Stuart Sutcliffe, pelo seu papel no início do grupo como baixista;
Pete Best, baterista do grupo de 1960 a 1962; substituído por Ringo Starr;
Neil Aspinall, gerente dos Beatles de sua criação até 1963 e, em seguida, seu assistente pessoal. Foi ao leme da empresa Apple Corps de quase quarenta anos antes de aposentar em fevereiro de 2007, um ano antes da sua morte em março de 2008; Klaus Voormann, artista, amigo dos Beatles e designer das capas do Revolver e do The Beatles Anthology; Brian Epstein, descobridor do grupo e, em seguida, empresário dos Beatles até a sua morte em 1967;
George Martin, patrono da gravadora Parlophone, uma divisão da EMI, que contrata os Beatles em 1962. Neste ano em diante, ele produziu quase todos os álbuns do grupo, e escreveu a maior parte dos acordos e instrumentação com os Beatles, tocando teclados com freqüência. Ele continua, até hoje, produzindo álbuns póstumos, como a série The Beatles Anthology e a compilação Love; Jimmy Nicol, baterista que substituiu Ringo Starr quando ficou doente, para uma dezena de concertos durante a turnê australiana dos Beatles em junho de 1964; Derek Taylor, assessor de imprensa e confidente dos Beatles. George Harrison disse em 1988: “Só haviam dois ‘quinto beatle’: Neil Aspinall, e Derek Taylor”; Billy Preston, tecladista que participou da gravação do álbum Let It Be, e também em algumas faixas de Abbey Road (1969).


História.

1957-1962: Formação.

Em Março de 1957, empolgado com o skiffle que Lonnie Donegan popularizou com seus sons improvisados, John Lennon criou uma banda composta por colegas da escola Quarry Bank School — que incluía seu melhor amigo na época, Pete Shotton — primeiramente chamada de The Black Jacks, mas logo definida como The Quarrymen (em homenagem à escola). Inicialmente, sem contar os dois, a banda era composta por Eric Griffths (violão), Bill Smith (baixo improvisado) e Rod Davis (banjo). Em 6 de julho de 1957, Paul McCartney havia assistido uma apresentação da banda em uma festa na Igreja St. Peter e Ivan Vaughan, amigo de John Lennon e colega de classe de Paul, apresentou-lhe a Lennon; Paul foi convidado a ingressar na banda e, no mesmo ano, apresentou a Lennon a composição “I’ve Lost My Little Girl”. Em 6 de fevereiro de 1958, o jovem guitarrista George Harrison juntou-se à banda, apresentado por Paul que o teria conhecido por acaso num ônibus. Apesar da relutância inicial de Lennon pelo fato de Harrison ser três anos mais novo que ele (na época, com quinze anos), McCartney insistiu depois de uma demonstração de George e este terminou ingressando no grupo. Lennon e McCartney desempenharam a guitarra rítmica durante esse período e, após o baterista oficial do Quarryman Colin Hanton deixar a banda em 1959, depois de uma discussão com os outros membros, teve um alto negócio de bateristas. Stuart Sutcliffe, colega de Lennon numa escola de arte de Liverpool, aderiu ao baixo em Janeiro de 1960, a pedido do amigo.

Como Paul e George estudavam no Instituto de Liverpool, não seria mais apropriado chamar a banda por Quarryman e, então, o grupo passou por uma progressão de nomes, incluindo “Johnny and The Moondogs e “Long John and The Beatles. Sutcliffe sugeriu o nome “The Beetles” como homenagem a Buddy Holly e The Crickets. Após uma turnê com Johnny Gentle na Escócia, a banda mudou seu nome para “The Beatles”. A primeira esposa de John, Cynthia Lennon, argumenta que o título “The Beatles” veio a John no Renshaw Hall bar, depois dele beber cerveja. Lennon, que era conhecido por dar diversas versões da história, ironizou num artigo da revista Mersey Beat de 1971 que teve uma visão onde “um homem, numa torta flamejante, disse:‘Vocês são Beatles com A’. Durante uma entrevista em 2001, McCartney atribuiu a si o nome definitivo da banda, afirmando que “John tivera a idéia de nos chamar de ‘The Beetles’; eu disse: ‘por que não Beatles?; você sabe, como a batida do tambor.

Em Maio de 1960, os então Silver Beetles realizaram uma turnê no norte da Escócia, com o cantor Johnny Gentle, a quem a banda havia conhecido uma hora antes de sua primeira apresentação.McCartney refere-se à viagem como uma grande experiência para a banda. Naquela época os Beatles não tinham um baterista fixo, assim, profissionais desse gênero tocavam para eles apenas em determinadas ocasiões.



1960-1962: Hamburgo, o Cavern Club e Brian Epstein.

Encontrando-se sem um baterista antes de seu próximo compromisso, em Hamburgo, Alemanha, o grupo convidou Pete Best para assumir a posição em 12 de agosto de 1960. Best tinha até então tocado com o grupo The Blackjacks no The Casbah Coffee Club — uma adega em Derby, Liverpool, onde os Beatles tocavam e visitavam algumas vezes — que pertencia à sua mãe Mona Best. Quatro dias após a entrada de Best, o grupo partiu para Hamburgo; lá, eram obrigados a se apresentarem seis ou sete horas por noite durante sete dias por semena e provavelmente estimulavam-se com bebidas e drogas. O repertório era de covers de rock’n’roll dos anos 1950, basicamente americanos. Em 21 de novembro de 1960, Harrison foi deportado por ter mentido às autoridades alemãs sobre sua idade. Após um incêndio acidental — envolvendo Paul e Pete — no quarto onde dormiam, a polícia os prendeu e os deportou em dezembro. John retornou para Liverpool com eles em meados de dezembro, sem dinheiro e triste. O grupo reuniu-se para uma performance em 17 de dezembro de 1960 no Casbah Club, com Chas Newby, músico que substituía Sutcliffe. Ele havia ficado em Hamburgo, com sua nova paixão – Astrid Kirchherr – que conheceu por lá; embora Sutcliffe tenha voltado a Liverpool no ano seguinte, em fevereiro, para visitar amigos e a família, retornou novamente para o território alemão duas semanas depois. Astrid mudou o corte de cabelo de Stuart e logo John, Paul e George adotaram penteados semelhantes, o que mais tarde se tornaria uma marca registrada da banda.Os Beatles retornaram à Hamburgo em abril de 1961, com apresentações no “Top Ten Club”. Enquanto tocavam nesse local, foram recrutados pelo músico Tony Sheridan à agirem como sua banda de apoio em suas apresentações na Alemanha e numa série de gravações para a Polydor Records Alemã, produzidas pelo famoso Bert Kaempfert. Paul afirmou posteriormente que o grupo chamava Sheridan de “o professor”; foram as primeiras gravações dos Beatles. Mais tarde, Tony foi premiado com o disco de ouro pela vendagem acima de um milhão de cópias do LP Tony Sheridan and The Beatles. Quando o grupo retornou à Liverpool, Sutcliffe permaneceu em Hamburgo, mais uma vez, com Kirchherr. McCartney assumiu as funções de baixista.

Retornando à Liverpool, o grupo realizou sua primeira aparição no famoso The Cavern Club, numa terça-feira de 21 de fevereiro de 1961. A banda se apresentou 292 vezes no Cavern Club entre 1961 e 1963. Em 9 de novembro de 1961, Brian Epstein, dono da loja de música North End Music Store (NEMS) na Great Charlotte Street, viu o grupo pela primeira vez no clube. Intrigado com o som da banda, e maravilhado com seu carisma (sobretudo o de John), Epstein decidiu empresariá-los.

Em uma reunião com os Beatles na NEMS, em 10 de dezembro de 1961, Epstein propôs a idéia de gestão da banda. Os Beatles assinaram um contrato de cinco anos com Epstein em 24 de janeiro de 1962 e ele tornou-se empresário oficial deles. Com Brian Epstein como empresário do grupo, o primeiro passo foi mudar a imagem dos integrantes, substituindo as roupas de couro por algo mais formal. Epstein conduziu a procura dos Beatles na Inglaterra em encontrar um contrato de gravação. Ele era gerente do departamento de gravações da NEMS, ramo que seu avô deixou de herança, uma loja de instrumentos musicais, discos de música, entre outras coisas. Nessa época, ele apostou no status da NEMS como uma importante distribuidora para obter acesso à empresas de gravações e à produtores executivos. O executivo Dick Rowe da agora famosa troca Decca Records A&R respondeu-lhe na época que “bandas com guitarras estão fora de moda, Sr. Epstein”.

Enquanto Epstein negociava com a Decca, ele também abordou o executivo de marketing Ron White, da EMI. White, que não desempenhava funções de produtor musical na gravadora, por sua vez contatou os produtores Norrie Paramor, Walter Ridley e Norman Newell (todos da EMI) e todos os três negaram produzirem gravações dos Beatles. Contudo, White não havia abordado o quarto produtor da EMI, e também administrador — George Martin — que estava de férias na época. Os Beatles voltaram à Hamburgo a partir de 13 de abril à 31 de maio de 1962, onde fizeram uma aparesentação de abertura no The Star Club. Após a chegada, foram informados que Stuart Sutcliffe estava morto devido uma hemorragia cerebral.



1962: Contrato de Gravação e Ringo Starr.

Ainda abalados com a morte de Stuart e sem perspectivas de progresso profissional, os Beatles continuaram a fazer shows em Hamburgo e Liverpool, mas visivelmente desanimados. Enquanto isso, depois de não conseguir impressionar a Decca Records, Epstein foi para a loja HMV na Rua Oxford, em Londres, e transformou os teipes que havia utilizado na Decca em um disco. Epstein conseguiu encontrar com George Martin da Parlophone (subsidiária da EMI) e levou o material. Martin, interessado no som da banda e, segundo o próprio, “considerado um produtor rebelde e independente à época, aceitou uma audição. A banda então assinou um contrato de um ano renovável com a EMI. A primeira sessão de gravação dos Beatles na EMI com Martin foi marcada no dia 6 de junho de 1962, no famoso Abbey Road Studios, no norte de Londres. Musicalmente, George Martin não se impressinou com os Beatles, mas a personalidade dos integrantes lhe agradou. George Martin concluiu que a banda tinha um talento cru e muito humor, e que poderiam melhorar musicalmente.

Martin resolveu contratá-los, mas teve um problema com Pete Best, considerando-o, na época, “fraco”. Martin sugeriu à Epstein, particulamente, que utilizassem outro baterista nos estúdios em vez dele. Assim, a conclusão foi que Martin contrataria um baterista para as gravações, enquanto Brian poderia usar Pete Best nas apresentações. Isso ocorreu, principalmente, pelo fato de que os fãs dos Beatles na época não poderiam suportar vê-los sem Best. Os três membros-fundadores da banda–George, Paul e John–pediram à Brian que ele demitisse Pete Best, e ele foi demitido. No dia 16 de agosto de 1962, Pete chega ao escritório de Brian, e esse lhe diz: “George [Martin] não quer você no grupo”, o que deixa Neil Aspinall–motorista nas excursões da banda–furioso. A partir disso, o grupo começou a cogitar alguns nomes para assumir a função de baterista. Entre esses nomes, estavam o de Johnny Hutchinson, que recusou por ser amigo de Pete. A grande esperança deles foi convidar Richard Starkey – conhecido como Ringo Starr–que já era baterista da famosa Rory Storm and the Hurricanes, e que também já havia tocado com os Beatles em algumas apresentações de Hamburgo. Em 19 de agosto, três dias após a demissão de Pete, Ringo, definitivamente como baterista, tocou com os Beatles no Cavern; a apresentação gerou confusão, pois o público repudiou a nova formação, e chegaram a gritar “Pete para sempre, Ringo nunca!”, e “queremos o Pete!”; Harrison teria sido agredido nessa apresentação.

O Abbey Road Studios lateralmente, focando o estacionamento, em 2007: com o “Please Please Me”, lançado em 22 de março de 1963 e gravado entre 11 de setembro de 1962 à 11 de fevereiro de 1963, a banda gravouprofissionalmente pela primeira vez neste prédio.

A primeira gravação dos Beatles com Lennon, McCartney, Harrison e Starr juntos aconteceu em 15 de outubro de 1960, na demonstração de uma série de gravações registradas particulamente em Hamburgo, onde atuaram simultaneamente como grupo de apoio da cantora Lu Walter. Starr tocou com os Beatles em sua segunda sessão de gravação na EMI, em 4 de setembro de 1962, e Martin “alugou” o baterista Andy White – que já havia tocado com Bill Halley em 1957, apresentação que Paul assistiu em Liverpool para tocar na próxima sessão, no dia 11 de setembro. A única apresentação realizada por White foi nas canções “Love Me Do” e “P.S. I Love You”, incluídas no primeiro álbum da banda. Nessa sessão, produzida por Ron Richards, Ringo tocou pandeiro ou outro instrumento de percussão quando a função de baterista era desenvolvida por Andy.

A primeira sessão dos Beatles na EMI de Londres, em 6 de junho de 1962, não rendeu uma gravação digna de lançamento, mas as sessões de setembro produziram o hit “Love Me Do”, compacto que, certo tempo depois do mesmo ano, alcançou o primeiro lugar na lista dos vinte melhores da revista Mersey Beat (em 18 de outubro) e entrou na lista dos vinte compactos mais vendidos da revista Billboard (em 1 de dezembro).



1962-1963: Fama no Reino Unido.




Em 26 de novembro de 1962, a banda gravou seu segundo som, “Please Please Me” (não confundir com o álbum homônimo), que atingiu o primeiro lugar na Inglaterra no início de 1963. Com o lançamento da canção “Love Me Do” em outubro de 1962, os Beatles apareceram pela primeira vez na televisão, no programa People and Places, transmitida ao vivo em Manchester, na TV Granada, em 17 de outubro de 1962. A crescente histeria que a banda começou a criar nesta época, principalmente em jovens do sexo feminino, ficou conhecida como “Beatlemania”.


Em 4 de novembro de 1963, os Beatles apresentaram-se no Royal Variety Performance, em Londres, na presença da família real britânica e, consequentemente, da rainha Isabel II do Reino Unido. Nessa apresentação, John teria dito: “Para a próxima música vamos pedir ajuda da platéia. As pessoas que estão nos lugares baratos, aplaudam. O resto pode chacoalhar as jóias. Mais tarde, gravaram seu segundo álbum, With the Beatles, que acabou com a hegemonia de trinta semanas de Please Please Me no primeiro lugar das paradas britânicas.

A banda também começou a ser notada por críticos musicais sérios. Em 23 de dezembro de 1963, o crítico musical William Mann, do The Times, publicou uma resenha descrevendo algumas teorias musicais a respeito de canções como “Till There Was You” e “I Want to Hold Your Hand. A respeito do álbum With the Beatles, Mann, em 27 de dezembro de 1963, destacou a estrutura harmônica da canção “Not a Second Time”, como sendo “também típica nas canções de andamento mais rápido dos Beatles, e ficamos com a impressão que pensam simultaneamente em harmonia e melodia, tal a firmeza com que as sétimas e nonas maiores e sobredominantes estão incorporadas nas canções, tal a naturalidade da cadência eóliano no fim de Not a Second Time (a sequência que conclui a Das Lied von der Erde, de Gustav Mahler. Contudo, os Beatles não tinham conhecimento profundo de teoria musical na época e a resenha de Mann tranformou-se em parte do mito da banda, principalmente pelo termo “cadências eólicas” que Lennon, em 1980, comentou: “até hoje não sei o que elas são. Parecem aves exóticas.



1963-1964: Sucesso Americano.

Embora a banda experimentasse uma popularidade enorme nas paradas britânicas no início de 1963, a gravadora norte-americana Capitol Records, subsidiária da EMI (em que o grupo estava contratado), negou produzir os compactos “Please Please Me” e “From Me to You”, primeiro sucesso do grupo que alcançou primeiro lugar no Reino Unido. Se a produção acontecesse de primeiro momento, o grupo inglês arriscaria, na mesma época, sucesso nos EUA. A Vee-Jay Records, uma pequena gravadora de Chicago, Estados Unidos, lançou esses singles como parte de um negócio para os direitos de outro intérprete. Art Roberts, diretor musical da estação de rádio World’s Largest Store (WLS) de Chicago, incluiu “Please Please Me” na rádio em Fevereiro de 1963, provavelmente a primeira vez que foi ouvida uma canção dos Beatles no território americano, embora isso seja discutido; os direitos do Vee-Jay aos Beatles foram cancelados mais tarde por não-pagamento de royalty.

Em Agosto de 1963, a Swan Records lançou “She Loves You”, que também não foi executada nas rádios. Em 3 de janeiro de 1964, Jack Paar mostrou em seu programa uma apresentação de “She Loves You” gravada ao vivo na Inglaterra: foi a primeira aparição dos Beatles na televisão americana. Embora tivessem feito sucesso rapidamente na Inglaterra e sido igualmente bem sucedidos em alguns países europeus, os Beatles ainda não tinham conquistado o mercado norte-americano. Pensando em conquistar os Estados Unidos, Brian Epstein, no começo de Novembro de 1963, procurou o presidente da gravadora Capitol Records para lançar um single com a canção “I Want To Hold Your Hand”, e conseguiu firmar um contrato com um popular apresentador de televisão americano, Ed Sullivan, para que os Beatles fossem até lá se apresentarem em seu programa. Antes da Capitol, como já foi citado, algumas gravadoras já haviam lançado discos dos Beatles naquele país, como a Vee-Jay e a Swan, mas nenhum sucesso tinha sido obtido.

Embora não houvesse grandes expectativas pela Capitol em relação aos Beatles, a CBS (canal de televisão americano) apresentou um documentário de cinco minutos sobre o fenômeno da beatlemania na Inglaterra, no programa CBS Evening News. A primeira demonstração desse pequeno documentário seria mostrada de manhã no CBS Morning News em 22 de novembro e uma reprise passaria na tarde do mesmo dia no CBS Evening News, mas a transmissão foi cancelada por conta do assassinato de John F. Kennedy naquele dia.

Diversas estações de rádio nova-iorquinas já começavam a tocar “I Want to Hold Your Hand” na sua programação. A resposta positiva para a gravação que havia começado em Washington duplicou em Nova Iorque e rapidamente se espalhou à outros mercados. A gravação vendeu um milhão de cópias em apenas dez dias, e a revista Cashbox certificou-a em número um. Era o momento dos Beatles irem aos Estados Unidos.

No começo de 1964, a Capitol decidiu fazer valer a pena os direitos que detinha do grupo nos Estados Unidos para coincidir com a primeira excursão da banda à América. Brian Epstein foi um dos grandes responsáveis pela data marcante. Indo à Nova Iorque, elaborou com a Capitol uma mídia enorme: foram colocados seis milhões de cartazes pelas ruas dos EUA com mensagens do tipo “Os Beatles Vem Aí”; todos os discotecários das rádios receberam discos dos Beatles; e foram distribuídos um milhão de jornais com quatro páginas contando a carreira do grupo. Essa elaboração de expectativa de que um grande grupo estaria vindo em direção foi a mais importante viagem na carreira dos quatro integrantes, como veremos a seguir.



1964-1966: A Beatlemania Atravessa o Atlântico.

Em 7 de fevereiro de 1964, uma multidão de quatro mil fãs ingleses no Aeroporto Heathrow acenou para os “garotos de Liverpool”, que partiam pela primeira vez aos Estados Unidos como um grupo. Estavam acompanhados por fotógrafos, jornalistas (incluindo Maureen Cleave, que realizou entrevistas com diversas personalidades famosas), e pelo produtor musical Phil Spector, que se tinha registrado no mesmo vôo. Quando o vôo 101 da PanAm tocou o solo do recém-nomeado Aeroporto JFK em Nova York, à 13:20 da tarde do dia 7 de fevereiro de 1964, uma grande multidão de pessoas se aglomeraram no local. Os Beatles foram saudados por cerca de três mil pessoas (estima-se que o aeroporto nunca tenha experimentado tal número) Após uma coletiva de imprensa, os Beatles partiram em limusines para a Nova Iorque. No caminho, McCartney ouviu o seguinte comentário corrente numa rádio local: “Eles [The Beatles] acabaram de deixar o aeroporto e estão próximos de Nova Iorque.

Quando alcançaram o Plaza Hotel, foram recepcionados por diversos fãs – a maioria garotas – e repórteres. Harrison teve uma febre de 39 °C no dia seguinte e teve que permanecer em repouso, de modo que Neil Aspinall o substituiu no primeiro ensaio da banda para a aparição deles no The Ed Sullivan Show. A persuasão de Epstein havia dado certo.

Os Beatles quando chegaram no Aeroporto JFK, na Cidade de Nova Iorque, em 7 de fevereiro de 1964: essa primeira visita dos Beatles aos Estados Unidos é um dos momentos fundamentais da história da banda e, mais amplamente, do rock mundial.
Os Beatles fizeram sua primeira aparição ao vivo na televisão americana no The Ed Sullivan Show, em 9 de fevereiro de 1964. Aproximadamente 74 milhões de telespectadores – cerca da metade da população americana – assistiu o grupo tocar no programa. Na manhã seguinte, muitos jornais escreveram que The Beatles não era nada mais do que uma “moda passageira, e que não levariam sua música por todo o Atlântico. Em 11 de fevereiro de 1964, fizeram seu primeiro concerto ao vivo nos Estados Unidos, no Washington Coliseum, em Washington, D.C.. Se a apresentação no London Palladium é considerada como o início da histeria em torno dos Beatles na Inglaterra, nos Estados Unidos esta beatlemania tomou porporções ainda maiores desde a primeira ida do conjunto em terras norte-americanas.

Acredita-se que essa primeira visita dos Beatles aos Estados Unidos é um dos momentos fundamentais da história da banda e, mais amplamente, do rock mundial.

A importância dessa visita é analisada por diversos ângulos através de muitos fatores, como, por exemplo, o fato de que, desde a década de 1960, os Estados Unidos já eram o maior mercado consumidor de discos do mundo; para Epstein e para o grupo, seria um prestígio começar a ser conhecido e bem vendido por lá, como era e ainda é natural nos dias de hoje. O sucesso de diversas bandas inglesas e européias – U2, Oasis, Cranberries – é tido como resultado em grande parte devido à carreira dos Beatles e, particulamente, à sua estadia nos EUA.


Depois do sucesso de 1964, as gravadoras Vee-Jay e Swan aproveitaram os direitos que detinham das primeiras gravações do grupo e decidiram reeditá-las; todas as canções atingiram o top dez desta vez (a MGM e a Atco também garantiram os direitos das primeiras gravações dos Beatles com o já citado Tony Sheridan e também tiveram hits menores, como “My Bonnie Lies over the Ocean” e “Ain’t She Sweet”, esta última com a voz de Lennon). Além de Introducing… The Beatles, primeiro LP da banda no mercado americano, a Vee-Jay também editou, em 1 de outubro de 1964, o The Beatles Versus The Four Seasons, um relançamento duplo do Introducing… The Beatles com outra capa, sendo que o lado B continha canções do grupo americano The Four Seasons. Através da sofreguidão da Vee-Jay em faturar em cima da recém iniciada beatlemania na América, lançou-se outros discos, como o Songs, pictures and stories of the fabulous Beatles, que foi lançado duas semanas após o disco duplo com The Four Seasons, e que nada mais era do que o quarto reingresso de Introducing The Beatles no mercado americano. “I Saw Her Standing There” foi editada como o lado B do disco da América I Want to Hold Your Hand , e também foi incluída no álbum Meet The Beatles, da Capitol. As faixas “She Loves You” e “I’ll Get You” da Swan foram editados em 10 de abril de 1964, no LP The Beatles’ Second Album, da Capitol. O Second Album vendeu 250 mil cópias no primeiro dia de lançamento nos EUA. A Swan também editou uma versão alemã da “febre” “She Loves You”, chamada “Sie Liebt Dich” e que está presente em stereo no álbum Rarities, da Capitol.
  

Em meados de 1964 a banda, em todo seu auge, iniciou suas primeiras aparições fora da Europa e da América do Norte, viajando para a Austrália, Escandinávia e Holanda; Ringo foi vítima de uma faringite e, hospitalizado, não pôde partir para o primeiro destino deles, o território australiano. Starr foi substituído temporariamente pelo baterista Jimmy Nicol, à convite de George Martin que, inclusive, estava lucrando juntamente com a banda desde o primeiro momento em que assinaram contrato na distante Liverpool. A estranha reação do público diante de uma figura diferente assumindo a bateria durou pouco, pois Ringo regressou com o tempo e eles partiram para a Nova Zelândia em 21 de junho de 1964. Antes da volta do baterista, em Adelaide, Austrália Meridional, os Beatles foram recepcionados por cerca de trezentas mil pessoas no Adelaide Town Hall (isso evidencia o estrondo que a banda já vinha fazendo por diversos países).



Em 6 de junho de 1964, o filme que se tornaria um clássico cult, sendo considerado por alguns como o grande precursor da idéia dos vídeos musicais. A Hard Day’s Night (Os Reis do Iê, Iê, Iê no Brasil) – foi lançado no Reino Unido, sendo o primeiro a estrelar a banda. Dirigido por Richard Lester, o filme é sobre os quatro membros que tentam, em território londrino, tocar em um programa de televisão. Lançado no auge da beatlemania, inclusive focando-a na maior parte das cenas, embora sem transformá-las em um documentário, o filme foi bem recebido pela crítica e continua a ser um dos mais influentes no que se diz respeito à música. Em paralelo, o álbum A Hard Day’s Night, lançado no mesmo ano, foi o primeiro do grupo a trazer só composições de Lennon/McCartney e serviu como trilha sonora para o filme. Em novembro, lançaram o compacto “I Feel Fine” e no mês seguinte o grupo lançou seu quarto álbum: Beatles for Sale.




Em Junho de 1965, Vossa Majestade Isabel II do Reino Unido condecorou os Beatles como Membros da Ordem do Império Britânico. O grupo foi nomeado pelo primeiro-ministro Harold Wilson, que também havia sido deputado em Huyton, Liverpool. A nomeação estimulou alguns conservadores do MBE – primeiramente militares veteranos e líderes cívicos – à devolverem suas próprias insignas como protesto. Em Julho do mesmo ano, o segundo filme estrelando os Beatles, Help!, foi lançado. O filme acompanhou o lançamento do álbum homônimo, que serviu como trilha sonora. Em 15 de agosto de 1965, os Beatles fizeram o primeiro concerto da história do rock and roll num estádio aberto, ao se apresentarem no estádio de beisebol Shea Stadium, Nova Iorque, para uma multidão formada por 55.600 pessoas. O evento obteve uma grande notoriedade e contou com os requintes de mídia disponíveis à época e a disposição de Epstein era fazer um evento grandioso, digno de filmagens e especiais de televisão nos EUA e Inglaterra. Chamados ao palco pelo já conhecido Ed Sullivan, o quarteto ampliou ainda mais seu sucesso nacional e internacional e o evento é tido como percursor: Cláudio Teran, articulista da Internet sobre os Beatles, diz o seguinte num texto sobre a data: “Sempre que um garoto for a um estádio de futebol, ou basebol para assistir ao show de uma grande banda de Rock and Roll, precisará saber que aquilo um dia começou com a ousadia dos Beatles em encarar um desafio que modificaria para sempre até o padrão técnico de sonorização de grandes ambientes pelo mundo afora. Quanto à ousadia e técnica de sonorização, Teran quer dizer sobre o fato de que os conjuntos de equipamentos que seriam necessários para o concerto acontecer e para a mídia filmar eram muito pesados e exigiriam grande esforço. Além disso, o sistema de iluminação, assim como o de áudio, favorecia menos facilidade do que os de hoje em dia; no entanto, as imagens que se tem registradas foram bem realizadas.




O sexto álbum da banda, Rubber Soul, realizado no começo de dezembro de 1965, foi recepcionado como um grande salto do grupo para a complexidade e maturidade em sua estrutura musical, por conter em suas canções letras e melodias mais elaboradas. O lançamento dos compactos “Day Tripper” e “We Can Work It Out” juntamente com o sexto álbum repetiram o sucesso grandioso que o grupo mantinha desde 1963: foram aos primeiros lugares nas paradas britânicas e americanas; segundo estimativas, venderam cinco milhões do álbum e quatro milhões do compacto.




1966: Chicotadas e Controvérsia.


O ano de 1966 é visto como a data em que a banda determinou o que seria até seu final, em 1970 Nessa época, o mundo já não era mais o mesmo e o grande responsável por essa mudança foram os Beatles. Entre os acontecimentos mais destacados, estão a recepção dos anglicanos frente ao Papa em Roma, a liderança de Martin Luther King na marcha pelos direitos civis nos Estados Unidos, e o bombardeio da Força Aérea Americana em Hanói, capital do Vietnam do Norte Pelo outro lado do planeta, a ciência se desenvolvia na chegada da espaçonava soviética à Vênus (primeira nave terrestre a pousar noutro planeta) e, na China, a proclamação da “Revolução Cultural”, que promoveu expurgos e perseguiu intelectuais. Há quarenta anos, essa agitação pelo mundo não se apresentou de forma menor nos quatro membros dos Beatles: Lennon, McCartney, Harrison e Starr.

Férias, casamento e prêmios: Nos três primeiros meses de 1966 a banda tirou férias, após desistirem da idéia de lançar um novo filme em cima de A Talent For Loving, cujo roteiro seria de Richard Condon. Nesses meses, tiveram encontros em festas com os músicos Mick Jagger e Brian Jones dos Rolling Stones, e compareceram na estréia do filme Alfie, cuja estrela era Jane Asher, namorada, na época, de Paul. John e Ringo não compareceram ao casamento de George em 21 de janeiro porque viajavam para fins de semana no Caribe e na Suíça; George e a modelo Patricia Anne Boyd embarcaram para uma lua de mel em Barbados, nas Bahamas. Enquanto isso, os Beatles obtiveram naquele ano dez indicações ao Grammy e, embora existissem restrições do regime político na Polônia, as canções da banda começavam a ingressar intensamente nas rádios deste país.

Entrevista com Cleave, e a “Capa do Açougue”: Em março, os Beatles foram convidados a uma entrevista com a jornalista Maureen Cleave, do jornal britânico “London Evening Standart”. Nesta entrevista, John declarou com tom crítico a seguinte frase: “O cristianismo vai acabar. Vai se dissipar e depois sucumbir. Nem preciso discutir isso. Estou certo, e o tempo vai provar.

Atualmente somos mais populares que Jesus Cristo. A declaração não causou nenhuma polêmica na Inglaterra. Depois, a banda posou para uma sessão com o fotógrafo Bob Whitaker, que produziu fotos com matizes surrealistas. Uma dessas fotografias foi utilizada na capa do próximo álbum Yesterday and Today, que ficou cinco semanas em primeiro lugar vendendo um milhão e meio de disco e só editado nos EUA, onde o quarteto está vestido com jalecos brancos e segura bonecas despedaçadas junto a pedaços de carne. O disco, referido frequentemente como “a capa do açougue” gerou polêmica nos Estados Unidos: algumas pessoas atribuíram à foto uma mensagem cifrada ou algo contra a Guerra do Vietnam, outros acharam que era uma crítica ao desmembramento dos álbuns originais dos Beatles na América. A Capitol recolheu os discos e substituiu as 750 mil capas prensadas.

Após estes problemas com a “capa do açougue”, o grupo iniciu sua turnê mundial de 1966 por cinco países, entre eles Alemanha, Japão, Filipinas, Estados Unidos e Canadá.

Humilhação nas Filipinas e prêmios na Inglaterra: Embora as Filipinas estivessem sob a ditadura de Ferdinando Marcos, na capital Manilha os Beatles foram recepcionados por cinquenta mil fãs que se aglomeraram no aeroporto. A polícia filipina os separaram de Epstein e apreendeu sua bagagem, que continua maconha: isto provocou problemas com as autoridades locais. Epstein obteve controle e, no dia seguinte, deram dois concertos no estádio superlotado Rizal Memorial Football Stadium. Após as apresentações, a primeira-dama Imelda Marcos organizou uma recepção no Palácio presendical para trezentos filhos de oficiais da alta patente do exército daquele país e gostaria de apresentá-los ao grupo. O não comparecimento à recepção promoveu consequências inesquecíveis. No dia seguinte, jornais filipinos traziam manchetes com expressões do tipo “Imelda plantada” (The Manila Times), destacando que os Beatles haviam esnobado a primeira-dama. Por causa desses acontecimentos, Epstein tentou esclarecer o mal-entendido numa coletiva, mas a transmissão sofreu interrupções técnicas. Starr lembraria anos mais tarde que o tratamento dos empregados no hotel tornaram-se mais frios depois do ocorrido e que havia ameaças de bombardeios onde os Beatles estavam hospedados. O grupo foi abordado pelo responsável do Escritório de Rendas Internas que disse que os Beatles não deixariam o país até pagarem os impostos que não haviam dado desde a chegada; Epstein pagou US$ dezoito mil. Os quatro membros fizeram a pé a caminhada até o avião e aproximadamente trezentos pessoas aguardavam a banda no aeroporto; na despedida, foram cuspidos, empurrados e agredidos; a renda que conseguiram nos dois concertos foi confiscada; após quarenta minutos de confusão, decolaram.

De volta à Inglaterra, eufórica pela conquista da Copa do Mundo de Futebol de 1966, o grupo presenciou boas notícias, como os três troféus Ivor Novello – premiação máxima da música inglesa – que receberam por “We Can Work It Out” e “Help!” como primeiro e segundo compacto mais vendido na Inglaterra em 1965, e por “Yesterday” como a canção mais executada do ano. Artistas como Connie Francis, Johnny Mathis, Bob Goldsboro, Cliff Richard, David McCallum, as duplas Jan and Dean e Peter and Gordon interpretavam diversas canções da dupla Lennon/McCartney. Contudo, as notícias da América eram preocupantes.

Presley, Dylan e o “Somos mais populares que Jesus Cristo“: A revista DateBook divulgava a entrevista que Lennon concedeu a Cleave destacando a frase “Somos mais populares que Jesus. Fundamentalistas cristãos se indignaram com a frase de Lennon e protestaram. Uma rádio em Birmingham, Alabama, organizou um boicote a execução das canções dos Beatles, e um ato onde os discos da banda foram queimados publicamente em uma fogueira. Rapidamente diversas estações de rádio americanas recusavam-se a tocar canções dos Beatles em suas programações e, na África do Sul, houve a banição de canções do grupo em suas estaçõs de rádio por cinco anos. Houve inclusive a manifestão de Papa Paulo VI e do governo fascista de Francisco Franco, que criticaram a postura do grupo.

Elvis Presley desaprovou o ativismo antiguerra e a legalização das drogas que os Beatles vinham afirmando e mais tarde pediu ao então presidente Richard Nixon que ele proibisse a entrada dos quatro membros nos Estados Unidos. Peter Guralnick escreve que “Os Beatles, segundo Elvis, [...] eram antiamericanos. Eles vinham para os EUA, faziam fortuna, e voltavam para a Inglaterra. E diziam coisas antiamericanas quando se encontravam por lá. Guralnick adiciona: “Elvis acreditava que os Beatles lançaram bases para muitos dos problemas que estávamos tendo com os jovens e suas aparências imundas, bases essas encontradas na música sugestiva deles que ao mesmo tempo divertia o país durante o início dos anos 60 e meados. Apesar das observações de Presley, em geral os Beatles o admiravam; Lennon, por exemplo, tinha sentimentos positivos para com ele: “Antes de Elvis, nada existia. Em contraste, o renomado Bob Dylan reconhecia a contribuição dos Beatles, e afirmou: “A América deve construir estátuas dos Beatles. Eles ajudaram a trazer de volta o orgulho do país.



1966-1969: Anos de estúdio e Espiritualidade.




Mais maduros, musical e pessoalmente, os Beatles dedicaram-se na gravação do Revolver, em que, em cada gravador – num total cinco equipamentos pesados que haviam sido levados ao estúdio 3 da Abbey Road Studios – um técnico operava e o outro segurava com um lápis a extremidade de laço feito pelas pontas das fitas emendadas; o resultado foi uma mistura de rock psicodélico, balada, R&B, soul e world music. Os Beatles haviam realizado seu último concerto no Monster Park, São Francisco, em 29 de agosto, 1966. Este foi o último concerto da banda onde o público pagava ingresso. Sua última apresentação foi nos telhados da Apple, onde o público não pagou nada; leia sobre na próxima sub-seção. A partir de então, a banda concentrou-se apenas em gravações. Foram os momentos mais criativos do grupo. Menos de sete meses após o Revolver, os Beatles voltaram ao Abbey Road em 24 de novembro para começar a produzir seu oitavo e mais aclamado álbum, Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, que os ocupou durante 129 sessões e foi lançado em 1 de junho de 1967.


Outro feito que popularizou o grupo – que caminhava rumo seu final – surgiu em um segmento no programa Our World, o primeiro programa do mundo ao vivo a transmitir, via satélite, imagens para o mundo inteiro. Os Beatles foram transmitidos diretamente do Abbey Road Studios e a nova canção, “All You Need Is Love”, escrita por Lennon, foi gravada ao vivo durante a apresentação, embora eles tivessem preparado antecipadamente – num período de cinco dias – as gravações e a mixagem antes da transmissão A canção trazia uma mensagem de paz nos tempos da Guerra do Vietnã. Os Beatles convidaram vários amigos para participarem do evento, cantando o coro da canção – Mick Jagger, Eric Clapton, Marianne Faithfull, Keith Moon e Graham Nash. O programa foi visto por cerca de 350 milhões de pessoas em 26 países.

Poste de entrada do Strawberry Fields com várias mensagens, em Liverpool: Lennon brincava pelo local quando criança e, mais tarde, essa recordação serviu de inspiração para a canção Strawberry Fields Forever. O grande portão de aço vermelho virou ponto turístico de Liverpool.


Em novembro e dezembro de 1966, e até janeiro de 1967, os Beatles gravaram dois compactos durante as sessões do Sgt. Pepper: “Strawberry Fields Forever” e “Penny Lane”, mas elas acabaram não entrando no álbum. A “Strawberry…”, escrita por Lennon, – embora creditada à Lennon/McCartney – diz respeito a um orfanato patrocinado pelo Exército de Salvação Inglês, chamado “Strawberry Fields Children’s home”, que se localizava perto da casa de John em Woolton, Liverpool, número 25 da Avenida Beaconsfield, e onde ele pulava o muro e brincava durante a infância no espaço arborizado, com os amigos Pete Shotton, Nigel Whalley, e Ivan Vaughan. Ele começou a escrevê-la em finais de 1966, em Almeria, Espanha, durante as filmagens de How I Won the War, de Richard Lester, o mesmo diretor de A Hard Day’s Night. A Tia Mimi sempre levava John a festivais de verão que aconteciam no orfanato de Strawberry Fields. O orfanato original, contruído nos anos 1950, acabou sendo demolido e, depois, reconstruído: o que sobrou do original foi o portão vermelho de aço, ponto bem famoso de Liverpool. Além dos festivais de verão continuarem acontecendo anualmente, em 1984 Yoko Ono e Sean Lennon visitaram o local e desde então contribuem para sua melhoria.


Tecnicamente, a estrutura desta canção é escrita com uma chave de Si bemol maior. Ela começa com uma introdução de mellotron – escrita e desempenhada por McCartney – e depois continua no refrão. Depois de um curto silêncio dos instrumentos, a canção volta para “tenebrosos” sons distintos com notas dissonantes, espalhadas com a bateria, e depois Lennon diz: “cranberry sauce”, ou seja, doce de oxicoco. Nessa mesma canção, John diz: “Eu enterrei Paul” e a canção foi incluída na lista de itens que reúnem fatos onde os Beatles queriam mostrar que Paul estava morto e que outro cantor o substituía (Para mais informações, veja Boato da morte de Paul McCartney.) A recepção da canção foi satisfatória: atingiu o oitavo lugar na parada dos EUA, onde numerosos críticos a consideraram a melhor canção do grupo e, em 2004, foi posta em 74ª na Lista dos 500 Maiores Sons de Todos os Tempos, da Rolling Stone americana.


Vista da Penny Lane, em Liverpool: os Beatles frequentavam o local diversas vezes e, mais tarde, essas rescordações fizeram Paul produzir Penny Lane. Repare na placa da rua, no canto esquerdo, como ela traz diversas mensagens, possivelmente criadas por fãs da banda.

Em contraste com “Strawberry…”, onde Lennon inspirou-se em recordações do passado, “Penny Lane”, escrita por Paul – embora igualmente creditada à Lennon/McCartney –, que traz melodia e ritmo menos “tenebrosos” que a anterior, também faz menção à recordações de McCartney: o cruzamento de cinco ruas formando uma rótula de trânsito – roundabout, como dizem os ingleses – em Liverpool, chamado “Penny Lane Roundabout”, é uma área, hoje muito famosa por causa da canção, onde John e George nasceram perto e, consecutivamente, onde os Beatles frequentavam muito. A primeira mulher de John, Cynthia Lennon, tinha um apartamento em Penny Lane e trabalhava na loja Woolworth, a uma quadra dali. Durante muito tempo, quase diariamente, a prefeitura local precisava trocar as placas da rua, pois, por virar ponto turístico, os fãs da banda a retiravam e levavam consigo ou, em outros casos, rabiscavam; agora as placas de Penny Lane foram abolidas e o nome passou a ser pintado diretamente nas paredes dos prédios da rua. Na letra da canção, é como se Paul fosse o guia-turístico de uma excursão para o local: ele refere-se, por exemplo, a um “barbeiro mostrando fotografias de cada cabeça que teve o prazer de conhecer” – há um edifício branco numa das esquinas da rua, chamado Tony Slavin, que era o local onde Mr. Bioletti, o barbeiro, trabalhava e onde a barbearia funcionava – e a outros pontos da cidade; Paul diz na canção: “Penny Lane está em meus ouvidos e em meus olhos”. Ao contrário do vídeo promocional de “Strawberry…”, o qual o grupo gravou em outro local que não o orfanato, o vídeo musical de “Penny Lane” foi filmado na própria Penny Lane. Entre os instrumentos usados no som, destacam-se a conga, o flautim e os pianos, ao todo quatro. A canção também obteve uma recepção satisfatória: alcançou o primeiro lugar na Billboard Hot 100 por uma semana e, em 2004, foi incluída pela Rolling Stone americana na Lista dos 500 Maiores Sons de Todos os Tempos, permanecendo em 449ª lugar.


Em 24 de agosto de 1967, os Beatles encontraram-se com o Maharishi Mahesh Yogi no Hotel Hilton de Londres. Poucos dias depois, foram para Bangor, norte do País de Gales, para assistirem uma conferência “inicial” de fim de semana. Lá, o Maharishi deu a cada um deles um mantra. Embora estivessem em Bangor, os Beatles ficaram sabendo que Brian Epstein, o empresário da banda, aquele cujo nome foi muito responsável pelo sucesso do grupo, estava morto, aos 32 anos, devido, segundo o laudo, “morte acidental por overdose de Carbitol”, medicamento para insônia. Em finais de 1967, receberam sua grande primeira crítica da imprensa britânica, crítica essa que era um conjunto de opiniões depreciativas sobre o filme de televisão surrealista Magical Mistery Tour. A trilha sonora de Magical Mistery Tour foi lançada no Reino Unido em um EP duplo, e nos EUA em um LP completo (atualmente, a versão oficial é esse LP).


Os quatro músicos passaram os primeiros meses de 1968 em Rishikesh, Uttar Pradesh, na Índia, estudando meditação transcendental com o Maharishi Mahesh Yogi. O ashram de Mahesh Yogi inspirou a criatividade do quarteto e devido à suas estadias nele, produziram algumas canções com referências à espiritualidade que a Índia tanto afirmava; canções essas que podem ser encontradas no White Album e em Abbey Road com composições de Lennon, McCartney e Harrison. Regressando, John Lennon e Paul foram para Nova Iorque anunciar a formação da Apple Records, uma corporação multimédia fundada em janeiro de 1968 pela banda com o intuito de substituir a sua empresa anterior (Beatles Ltd.), e de modo a formar um conglomerado. Em meados de 1968 a banda manteve-se ocupada no processo de gravação do álbum duplo The Beatles, conhecido popularmente como “Álbum Branco” por conta da capa ter cobertura branca. Essas sessões foram o cenário de desentendimentos entre os integrantes, com Starr deixando temporariamente a banda. Sem Starr, Paul assumiu a bateria e instrumentos de percussão nas faixas “Martha My Dear”, “Wild Honey Pie”, “Dear Prudence” e “Back in the USSR”. As dissensões tiveram diversos motivos, sempre muito debatidos: a excessiva presença da nova namorada de Lennon, Yoko Ono, nas gravações; a arrogância de McCartney, que passava a querer ser o líder do grupo; ficou ainda mais difícil o grupo aceitar novas canções de Harrison para serem incluídas em seus álbuns.




Com a morte de Epstein, o grupo necessitava de um novo empresário: em relação ao lado empresarial, Lennon, Harrison e Starr queriam o gerente nova-iorquino Allen Klein para gerir os Beatles, mas McCartney queria o empresário Lee Eastman, pelo motivo dele ser até então o pai da então-namorada de Paul, e futura esposa, Linda. Os outros três membros viam em Eastman um empresário que colocaria os interesses de Paul antes das do grupo (durante uma entrevista no Anthology, McCartney disse: “Olhando para trás, posso entender porque eles sentiam que Eastman tinha interesses tendenciosos a mim e contra eles.”) Em 1971, descobriu-se que Klein, que havia sido nomeado gestor, roubou cinco milhões de libras esterlinas das explorações dos Beatles.





Retomando: Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band.


Retomando a época de criação do Sgt. Pepper’s…, como é comumente tratado, “foi um momento decisivo na história da civilização ocidental”, segundo a descrição de um crítico do The Times. Semanas depois do lançamento do disco, Jimi Hendrix já tocava a faixa-título em seus concertos, o que deixou McCartney particulamente emocionado. Além de ter sido o primeiro álbum de rock a ganhar os Grammys de “melhor álbum do ano”, “melhor álbum contemporâneo”, a “melhor capa” e a “melhor engenharia de som, o Sgt. Pepper’s…, quando colocado no mercado, bateu todos os recordes de venda: vendeu um quarto de milhão de exemplares na Grã-Bretanha (somente na primeira semana), permaneceu durante quase meio ano consecutivo no primeiro lugar do topo de vendas – feito praticamente impensável hoje em dia – e é tido como vanguarda, principalmente pela originalidade da capa que, inclusive, inspirou artistas do mundo inteiro. McCartney é tido como o responsável pela idéia da capa. Ele havia esboçado um desenho onde uma multidão assistia a banda Sgt. Pepper e recebia do prefeito uma copa ou troféu. Robert Frazer, comerciante de arte e conhecido do grupo, levou Paul à conhecer Peter Blake, um dos artistas pioneiros e fundadores da Pop Art; Blake desenhou toda a capa, adicionando pessoas influentes de todo o mundo – escolhidas por Lennon, Harrison, Starr e, claro, Paul – caracterizadas como bonecos de papelão, sem contar os bonecos de cera dos Beatles.


1969-1970: Último Concerto e Fim.


O último concerto dos Beatles, no telhado da Apple Records, em 1969: a tarde fria, mas empolgante de Londres fez com que a já-então consagrada banda tocasse por quarenta minutos. George Harrison (casaco preto, calça verde clara), John Lennon (casaco marrom e calça preta), Ringo Starr (casaco vermelho) e Paul McCartney (casaco preto)(esq. para direita). Repare nas câmeras de gravações e nos fotógrafos em frente aos músicos.


Em janeiro de 1969, os Beatles iniciaram um projeto cinematográfico que documentaria a realização de sua próxima gravação, originalmente intitulado Get Back. Durante as sessões de gravação, a banda realizou sua última apresentação ao vivo no último andar do edifício da Apple, em Londres, na tarde fria de 30 de janeiro de 1969. A maior parte da apresentação foi filmada e, posteriormente, incluída no filme Let It Be. A idéia de tocar no telhado do prédio foi de Lennon. O concerto parou a rua inteira do prédio e, rapidamente, o lugar ficou lotado de pessoas; inclusive, os vizinhos da região logo espreitavam das sacadas o concerto. Os Beatles tocaram durante quarenta minutos até a polícia local interferir pedindo que abaixassem o volume dos instrumentos; Mal Evans explicou que não era qualquer pessoa que estava tocando, e sim os Beatles. A apresentação terminou antes do previsto, e tornou-se famosa. Com o projeto Let It Be temporiariamente suspenso, os Beatles gravaram seu penúltimo álbum, Abbey Road, no verão de 1969. A conclusão da canção “I Want You (She’s So Heavy)” para o álbum em 20 de agosto de 1969 foi a última vez que o quarteto reuniu-se em mesmo estúdio. Lennon anunciou sua saída para o resto do grupo em 20 de setembro, 1969, embora tenha concordado em não anunciar isso publicamente até que determinadas questões jurídicas fossem resolvidas.


Em março de 1970, a sessão de teipes do “Get Back” foram entregues ao produtor americano Phil Spector, que tinha produzido o compacto solo de Lennon – “Instant Karma!”. McCartney anunciou publicamente a dissolução em 10 de abril de 1970, uma semana antes do lançamento de seu primeiro álbum solo, McCartney. As cópias de pré-lançamento incluíram um comunicado à imprensa onde McCartney realizava uma entrevista consigo mesmo, explicando o fim dos Beatles e suas esperanças para o futuro. Em 8 de maio de 1970, a versão de “Get Back” produzida por Spector foi lançada como Let It Be, seguido com o documentário de mesmo nome. Legalmente, a parceria dos Beatles não foi dissolvida até 1975, embora Paul tenha apresentado uma ação para a dissolução em 31 de dezembro de 1970, efetivamente terminando a carreira em conjunto da banda.

O motivo do fim da banda ainda é muito discutido e pode ser descrito como uma série de eventos que, resumidamente, os itens abaixo pretendem desenvolver.

Morte de Epstein: Brian Epstein foi indiscutivelmente o homem mais influente no lançamento e na promoção da popularidade do grupo no mundo inteiro. Por ser o empresário da banda, ele pôde manter o grupo reunido e mediar determinados conflitos que o quarteto viesse a desenvolver entre si, mantendo-se na postura de ser a última palavra, a última decisão. Quando morreu em 1967, deixou um vazio na banda. McCartney provavelmente sentiu a situação precária e procurou iniciar projetos que estimulassem a banda. Em última instância, a discórdia sobre liderança gerencial seria um dos fatores precipitantes para a banda se dissolver.
George Harrison como compositor: Nos primeiros anos, Paul e John eram os únicos compositores da banda, enquanto que Ringo e George desempenhavam suas funções como baterista e guitarrista, respectivamente. No entanto, de 1965 adiante, as composições de Harrison ganharam maturidade e tornaram-se mais atraentes em suas qualidades. Gradualmente os outros membros reconheciam seu talento como compositor, mas cada vez mais George começou a se frustrar pelo fato da maioria de suas idéias e canções terem como fim a rejeição. Isso gerou confusão e, consecutivamente, desavenças, principalmente entre Lennon e McCartney.




Dificuldade em colaboração: De uma forma ou de outra, após o grupo parar de excursionar, cada um dos integrantes começaram a seguir comportamentos autônomos: enquanto McCartney via interesse no estilo pop e nas tendências da Grã-Bretanha e dos EUA, Lennon tendia à música introspectiva e experimental, enquanto que Harrison, por sua vez, estava cada vez mais entusiasmado com a música indiana. Por conseguinte, Paul começou a assumir o papel de líder dos projetos artísticos dos Beatles. Além de cada membro ter começado a desenvolver uma agenda cujos eventos exigiam cada vez mais individualidade – o que acabou comprometendo o grau de entusiasmo em conjunto – outro fator que contribuiu para a fragilidade da banda foi a evidente falta de acordo já exitente na época de produção do “Álbum Branco.
Yoko Ono: Lennon estava em um frágil estado de espírito após o regresso da banda a partir de suas estadias na Índia, no início de 1968. Ficou ressentido e desiludido com o fato do Maharishi não ter preenchido suas expectativas. Lennon começou a desenvolver um imenso interesse numa artista nipo-americana, Yoko Ono, que reuniu o músico britânico em uma de suas exposições em 1966. Tiveram uma relação platônica até a primavera de 1968. Enquanto a esposa Cynthia de Lennon estava afastade de férias, ele e Yoko lançaram uma fita que mais tarde seria lançada como a famosa (e polêmica) “Unfinished Music No.1: Two Virgins”. Até esse momento, os dois não estavam completamente entretidos entre si, pois o acordo da banda era que suas namoradas ou esposas não interferissem nos estúdios. Contudo, como a produção artística de Lennon cresceu sob influência de Yoko Ono, cada vez mais ele quis que ela entrasse nos processos de produção dos Beatles e, consecutivamente, ela passou a freqüentar os estúdios de gravação.



Frequentemente, Ono não comentava nem dava sugestões no estúdio de gravação, o que parece ter aumentado as confusões entre ela e os três companheiros de Lennon. Ono tem sido acusada por muitos fãs de ter “dividido os Beatles”, enquanto que outros argumentam que a sua presença não era nenhum problema, e que os Beatles realmente se separaram pelos outros itens aqui citados (acima e abaixo).


Situação empresarial: Outra coisa que agravou a situação da banda foi o fato de que, sem Epstein, eles procuraram empresários para geri-la, mas a tentativa desses empresários de estabelecerem um controle na banda The Beatles falhou e, antes disso, houve confusão entre os integrantes, pois não conseguiram entraram em acordo na escolha de um novo empresário.


A formação da Plastic Ono Band, grupo formado por Yoko e Lennon, foi uma saída que Lennon encontrou para largar de vez os Beatles. E, verdadeiramente, a idéia de sair da banda cristalizou-se quando, em setembro de 1969, Yoko e Lennon foram recepcionados entusiasticamente como artistas no Concerto de Rock and Roll de Toronto. Lennon informou a sua decisão para Allan Klein – até então empresário do grupo – e para McCartney em 20 de setembro de 1969. Ironicamente, no outono do mesmo ano, a banda assinou um contrato negociando com a maior taxa de royalities. Esta foi a última demonstração de unidade do grupo, embora de natureza transitória. Outra divulgação revelou que o contrato de dissolução dos membros da banda foi até 1976 coletivamente e separadamente. Assim, este contrato renegociado precipitou o final das ações legais que revogou a parceria em 1972.

Apesar de seus esforços em estimular a banda, McCartney admitiu numa entrevista na revista americana Life que a banda estava desestruturada, em novembro de 1969. Paul viu um conflito entre seu álbum solo, “McCartney”, e o projeto do álbum e do filme dos Beatles, Let It Be. “McCartney” foi lançado e a amargura de Paul por conta de alguns incidentes – como, por exemplo, o fato dele ter ficado insatisfeito com determinadas atitudes dos gerentes da banda – foi um fator contribuinte para sua declaração pública de que havia saído dos Beatles. No começo de 1971, McCartney abriu uma ação judicial para a dissolução da relação contratual dos Beatles e, posteriormente, foi decretado.

1970-Presente: Pós-Fim.


Pouco antes do fim dos Beatles, um tanto tímidos, e, posteriormente, de forma definitiva, todos os quatro membros lançaram álbuns solos. Alguns destes álbuns destacaram contribuições por outros ex-Beatles; o álbum Ringo (1973), de Starr, foi o único a incluir composições e apresentações do quarteto, embora em canções separadas. Harrison mostrou sua consciência socio-política e ganhou respeito por sua contribuição como arranjador do Concerto para Bangladesh em Agosto de 1971, em Nova Iorque, com o maestro de sitar Ravi Shankar. Com excepção de uma sessão não-editada em 1974 (produzida mais tarde como A Toot and a Snore in ‘74), Lennon e McCartney nunca mais gravaram juntos.

Como já foi citado, em 1975 expiraram-se, legalmente, os direitos que a EMI-Capitol mantinha em cima do trabalho dos Beatles. Por causa desse expiração do contrato que os Beatles tinham com a gravadora, a Capitol americana apressou determinadas produções com o intuito de receber dinheiro em cima da carreira do grupo, lançando cinco LPs: Rock ‘n’ Roll Music (compilação de trilhas consideradas por muitos como “quintessencial” do rock), The Beatles at the Hollywood Bowl (contendo canções gravadas ao vivo no Hollywood Bowl em Los Angeles durante a turnê de 1964 e 1965), Love Songs (compilação de cançõs gravadas entre 1962 e 1970), Rarities (compilação de faixas que nunca haviam sido realizadas nos EUA) e Reel Music (compilação de faixas apresentadas em seus filmes). Houve também um não-lançamento intitulado Live! at the Star-Club in Hamburg, Germany; 1962, uma gravação de uma antiga apresentação do grupo no Star Club, em Hamburgo, Alemanha, capturada em uma fita de má qualidade. De todas essas realizações póstumas, somente The Beatles at the Hollywood Bowl teve a aprovação dos quatro membros. Após o lançamento americano dos álbuns britânicos originais em 1986, todas essas compilações póstumas americanas foram suprimidas do catálogo da Capitol.

John Lennon foi morto a tiros em 8 de dezembro de 1980 por Mark David Chapman em Nova Iorque. Em maio de 1981, George Harrison lança All Those Years Ago, compacto que fala sobre seu tempo com os Beatles e homenageia Lennon. Conta com a participação de McCartney, Ringo e Linda McCartney. Em abril de 1982, Paul lança o álbum Tug of War, que inclui um som em tributo à John, chamado “Here Today”.

Em 1988, os Beatles foram incluídos no Hall da Fama do Rock and Roll durante seu primeiro ano de eligibilidade. Na noite de sua indução, George e Starr apareceram para aceitar sua adjudicação, juntamente com a viúva Yoko Ono Lennon e seus dois filhos. McCartney permaneceu longe, comunicando à imprensa que estava “resolvendo dificuldades” com Harrison, Starr e com as propriedades de Lennon.

Guitarras gigantes do lado de fora do Hall da Fama do Rock and Roll, em Cleveland, Estados Unidos da América: em 1988 os Beatles entraram para esse Hall do Rock and Roll.

Em fevereiro de 1994, os três Beatles ainda vivos se reuniram para produzirem e gravarem canções adicionais para algumas gravações que eram de Lennon.

Uma dessas canções, “Free as a Bird” estreou como parte da série de documentários The Beatles Anthology e lançada como compacto em dezembro de 1995, seguida de “Real Love” em março de 1996. Essas canções também foram incluídas nas três coleções de álbuns da Anthology, lançados em 1995 e 1996, cada uma composta por dois CDs de um material inédito dos Beatles, nunca lançado antes. Klaus Voormann, que tinha conhecido os Beatles desde a excursão em Hamburgo, e que tinha anteriormente ilustrado a capa do Revolver, dirigiu a concepção da capa do Anthology. Cerca de 45 mil exemplares do Anthology 1 foram vendidos em seu primeiro dia de lançamento. Em 2000, surgiu a compilação One, contendo quase todas as canções da banda de 1962 a 1970. A coleção vendeu 3,6 milhões de cópias em sua primeira semana e mais de 12 milhões de euros em três semenas em todo o mundo. A coleção também chegou ao primeiro lugar nos Estados Unidos e em outros 33 países, e tinha vendido 25 milhões de cópias em 2005 (tornando-se o nono álbum mais vendido de todos os tempos).

Em finais de 1990, Harrison foi diagnosticado com câncer de pulmão e, desde então, lutou contra a doença, porém sucumbiu a ela em 29 de novembro de 2001. Em 2006, George Martin e seu filho Giles Martin remixaram algumas gravações originais dos Beatles com o objeto de criar uma trilha sonora na produção teatral do Cirque du Soleil, intitulada LOVE. Em 2007, McCartney e Starr uniram-se para uma entrevista no Larry King Live e falaram sobre seus pensamentos em relação a essa apresentação e a outros momentos da carreira de ambos; as viúvas Yoko Ono e Olivia Harrison também apareceram com os dois únicos ex-Beatles restantes em Las Vegas, para a comemoração de um ano da apresentação.



Legado.

Evolução Musical.

Considera-de o hit She Loves You (1963), composto pela dupla Lennon/McCartney e baseado na idéia original de Paul, a primeira grande revolução musical protagonizada pela banda. Se até então, o rock era composto basicamente por 3 acordes simples, batida forte, insistente e uma melodia de fácil memorização, nesta canção, são utilizados acordes dissonantes de sexta maior e sétima maior, até então, possíveis apenas no jazz: Mi menor -> La Maior com 7º -> Do Maior -> Sol Maior (adicionando à 6º). A incorporação da dissonância ao rock, foi o primeiro grande legado do grupo à música popular do século XX. A letra, embora romântica, foge da dicotomia “menino-menina”, para a incorporação de um terceiro elemento: O protagonista, um rapaz que avisa ao amigo que a namorada o ama, e que, “com um amor assim, deveria sentir-se feliz”. Embora simples, “She Loves You” torna-se o embrião do espírito “paz e amor”, que viria a desenvolver-se na segunda metade dos anos 60. Destaque também para o uso do “Yeah”, que viria a tornar-se marca registrada do Rock. A constante busca dos Beatles em criar novos sons a cada gravação, combinada com as habilidades presentes nos arranjos de George Martin e, particulamente, com os conhecimentos técnicos da equipe do estúdio da EMI – como os produtores Norman Smith, Ken Townsend e Geoff Emeric – fez com que a banda influenciasse a forma como a música passou a ser gravada em vários sentidos. O conjunto dessas produções são apresentados em álbuns como Rubber Soul (1965), Revolver (1966) e Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (1967).

Os Beatles continuaram a absorver influências mesmo depois de seus primeiros sucessos, encontrando freqüentemente novas avenidas musicais e líricas escutando seus contemporâneos. As influências musicais incluem The Byrds e The Beach Boys, cujo álbum Pet Sounds foi um dos preferidos de McCartney. George certa vez comentou que “Sem Pet Sounds, Sgt. Pepper não teria existido… Pepper foi uma tentativa de igualar Pet Sounds. Outra influência da banda foi Presley, que Lennon chamou de faísca porque ele o fez se interessar pela música:
«Foi Elvis quem realmente me levou a comprar discos. Eu achava seus primeiros materiais ótimos. A era de Bill Haley passou perto de mim, de certa forma, pois quando suas gravações apareceram nas rádios, minha mãe começou a ouvi-los, mas não senti nada de especial por eles. Foi Elvis quem me fez ficar viciado no gênero de música beat. Quando ouvi seu ‘Heartbreak Hotel’, pensei: ‘isso é o que é.

Utilizando técnicas de estúdio como efeitos sonoros, colocações não-convencionais de microfone e outros instrumentos, loops em teipes, técnicas de double tracking e variações de velocidade em áudios, os Beatles começaram a aumentar as gravações onde seus intrumentos eram utilizados de maneiras que não as convencionais e suas músicas inovaram o rock da época e das outras gerações. Isso inclui conjuntos de bronze e corda, assim como instrumentos indianos como o sitar em “Norwegian Wood (This Bird Has Flown)” e o swarmandel em “Strawberry Fields Forever” Eles também utilizaram precocemente instrumentos eletrônicos, como o mellotron, que McCartney implentou junto com as vozes de flauta na introdução de “Strawberry Fields Forever, e o clavioline, teclado eletrônico que criou um som não-usual em “Baby You’re a Rich Man”.

Começando com a utilização de um quarteto de cordas – organizada por Martin com a ajuda de McCartney – em “Yesterday” (1965), os Beatles foram pioneiros em atualizar o gênero art music e mostrá-lo de forma moderna, exemplificados em duplo-quarteto de cordas em “Eleanor Rigby” (1966), “Here, There and Everywhere” (1966) e em “She’s Leaving Home” (1967). Uma apresentação de Concertos de Brandenburgo, de Bach, mostrada na televisão britânica na época, inspirou McCartney a usar o flautim no arranjo de “Penny Lane”. Os Beatles desenvolveram o rock psicodélico com “Rain” e “Tomorrow Never Knows” de 1966, e “Lucy in the Sky with Diamonds”, “Strawberry Fields Forever” e “I Am the Walrus” de 1967.

A reunião de música pop com música erudita, presente em “Yesterday”, em que os Beatles gravaram rock and roll com acompanhamento de uma orquestra de câmara foi pioneira. Um fator com maior e melhor prestígio ainda está presente em “A Day in the Life”, a primeira canção de rock a ser acompanhada por uma orquestra sinfônica. Presente em Sgt.Pepper, a faixa impressionou pelos barulhos e sons estranhos no meio da canção, porque, até então, nada havia de parecido na história do rock and roll. No ano seguinte, em 1968, direcionando o trabalho para o folk e hard rock, em composições como “Rocky Raccoon” ou “Revolution”, o grupo voltaria a inovar, com o que para muitos seria o primeiro “Heavy Metal” da história[146] (embora existam outras candidatas ao pódio, como “Summertime Blues”, pela banda “Blue Cheer”, composição original de “Eddie Cochran”: A canção “Helter Skelter”, contida no álbum duplo “The Beatles”, popularmente conhecido como “álbum branco”. McCartney, inspirou-se no guitarrista “Pete Townshend”, da banda “The Who”, em 1967, quando afirmou ter sido o último single da banda, “I Can See For Miles”, a música mais “alta, suja e barulhenta” que haviam feito até então. Ao ouvi-la, tratou de criar sua própria ópera barulhenta e suja.



Influência na Cultura Popular.

Pessoas atravessam a calçada na rua Abbey Road. Os pedestres imitam as poses em que os Beatles aparecem na capa do LP “Abbey Road”. Cenas como essas tornaram-se comuns e famosas devido o álbum dos Beatles.

A chegada dos Beatles na rádio é vista como um marco na música que sinaliza um fim à era do rock and roll da década de 1950: diretores de programas radiofônicos, como Rick Sklar da WABC (AM) de Nova Iorque, proibiam DJs de lançarem na programação qualquer música “pré-Beatle”.

Alguns lançamentos dos Beatles, como seus álbuns, foram imitados por diversos artistas, inclusive brasileiros. Por exemplo, a capa do Abbey Road é muito parodiada por diversos lugares, desde capas de outras bandas, como fotos de usuários da Internet, que, em Londres, passam pelas faixas brancas imitando os Beatles, ou fazem montagens em cima do original. Na televisão americana, foram muitos os desenhos animados que se referiram aos Beatles, a maioria apresentando um tom cômico. Talvez o mais visível seja Os Simpsons, embora a banda tenha sido citada também em episódios do Bob Esponja e em outros desenhos-animados do canal Nickelodeon.


Pioneirismo.

George Harrison, quando nos Beatles, tornou-se o primeiro músico a fundir instrumentos e, respectivamente, sons orientais com a música do rock; embora famoso, no entanto, este feito – demonstrado em “Norwegian Wood”, onde há o uso da sitar – não foi o único que colocou a banda no patamar de pioneira.

Com “Twist and Shout”, “Can’t Buy Me Love”, “She Loves You”, “I Want To Hold Your Hand” e “Please Please Me”, lançados em março de 1964, tornaram-se iniciantes em ocupar os primeiros cinco lugares no topo norte-americano. Rubber Soul, de 1965, foi o primeiro álbum onde não havia o nome do artista em sua capa. Na época dos Beatles, os compactos eram curtos, mas “Hey Jude”, com mais de sete minutos, mudou esse conceito. Foram a primeira banda britânica a fazer sucesso fora de seu país e a primeira de rock a fazer sucesso mundial. Com “Yellow Submarine”, foram os primeiros roqueiros a escreverem canções com temáticas infantis. Em suas peregrinações à Índia, tornaram-se os primeiros a misturarem rock e misticismo. A primeira distorção de violão divulgada em gravação foi em “I Feel Fine”.

O concerto no Shea Stadium tornou-os pioneiros na produção e realização de apresentações em estádios a céu aberto e participaram da primeira transmissão mundial via satélite cantando “All You Need Is Love”, no projeto Our World. Foram a primeira banda de rock a fazer carreira no cinema e a primeira a produzir um disco conceitual de rock: Sgt. Pepper. Este mesmo disco fez com que eles fossem os primeiros a gravarem em quatro canais. Curiosamente, os Beatles foram o primeiro grupo a se separar.



Influência nos Países Falantes do Português.

Brasil.

Eu sou da América do Sul
Eu sei, vocês não vão saber
Mas agora sou cowboy
Sou do ouro, eu sou vocês
Sou do mundo, sou Minas Gerais”
-Trecho de “Para Lennon e McCartney”. Composição: Marcio Borges/Fernando Brant/Lô Borges.

Nomes de brasileiros como Arnaldo Baptista, Belchior, Caetano Veloso, Carlos Drummond de Andrade, Cassia Eller, Erasmo Carlos, Fernanda Takai, Gilberto Gil, Lulu Santos, Mauricio de Sousa, Milton Nascimento, Paulo Leminski, Pedro Bial, Raul Seixas, Renato Russo, Serginho Groisman, Rita Lee, Ronnie Von, Sávio Rangel, Zé Ramalho e muitos outros estão, de alguma forma, relacionados aos Beatles.

No início em que a banda causava um estrondo, e que o termo “beatlemania” já era lançada aos quatro ventos, a mídia brasileira os intitulou de “Reis do Iê iê iê”, por causa da letra da canção “She Loves You”. A primeira aparição do grupo em território brasileiro foi pelo cinema, com A Hard Day’s Night.

Passando pelos terríveis momentos da política a partir da implantação da ditadura militar, o Brasil via surgir, pouco a pouco, os Beatles em suas maiores cidades. Na mesma década, o carioca Newton Duarte, entusiasmado em músicas estrangeiras, passava por rádios do Rio de Janeiro levando discos piratas do quarteto, que adquiria com o americano Douglar Robert. Esses discos não tinham sido lançados no Brasil e Duarte conseguiu arrecadar dinheiro com o negócio pirata.

A revista nacional Fatos e Fotos tinha empregado o jornalista Janos Lengyel que, em 1966, realizou a primeira entrevista dos Beatles para a imprensa brasileira. Big Boy, como agora Newton Duarte era conhecido, começou a introduzir os Beatles nas rádios e a transmitir ao Jornal Hoje, da Rede Globo, informações sobre o quarteto: com a banda um tanto mais popularizada, a recepção brasileira assistiu seus ritmos tropicais sendo misturados com os ritmos que começavam a serem introduzidos do exterior.

Enquanto os Beatles faziam sucesso nos Estados Unidos e na Inglaterra, o Brasil passava pelo Golpe militar de 1964, que mudou a concepção do país. Embora tenha sido empregado no país uma política controlada e censurada, o Brasil não estancou, nem cultural ou economicamente e foi nessa época que a música do brasil desenvolveu-se com intensidade. Em 1967, nasce um movimento no país, tendo como precursores Caetano Veloso e Gilberto Gil, denominado Tropicália, que possuía o intuito de modificação cultural.

Apoiando-se na idéia da antropofagia promovida pelo modernista Oswald de Andrade, a Tropicália começou a popularizar a guitarra e o rock and roll no Brasil, sob forte influência dos Beatles. Antes do movimento, o baiano Raul Seixas foi o pioneiro do rock brasileiro, feito que lhe conferiu o título de “pai do rock brasileiro”; Seixas frequentemente citava Lennon, que era um de seus maiores ídolos, ao lado de Elvis Presley.

A articulista Clara Abdo resume a influência dos Beatles na Tropicália dizendo que o sistema, “[...]como movimento que abrangia vários recursos externos para a formação de uma nova música brasileira, acarreta em sua formação ícones culturais de várias épocas. Dentre eles, Carmen Miranda, Roberto Carlos, representando a Jovem Guarda, o escritor José de Alencar, o corte de cabelo e as vestimentas da contracultura hippie nos Estados Unidos e os Beatles. Na prática, a canção Senhor F, do grupo Os Mutantes, teve seu arranjo inspirado no álbum Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band; a última faixa do disco lançado em 1968 pelos tropicalistas, “Ave Gencis Khan”, modelou o estilo que Harrison tocava intrumentos orientais.

Rogério Duprat, que se envolveu no movimento e desenvolveu carreira musical com grande parte dos artistas citados nessa sub-seção, ficou conhecido como o “George Martin” da Tropicália e relatou o seguinte em 2002:
«Não é que eu fiquei dando aula para eles [os músicos da Tropicália]; ao contrário, eu que aprendi pra burro com os Mutantes, com o Gil, com o Caetano, com todo mundo, como fazer uma coisa, que pode ser ao mesmo tempo com certa correção, com uma correção que a gente já conhecia, de músicos, e fazer isso, de uma coisa popular e avançada, uma coisa na frente dos Beatles.

Portugal.

Por estar em território europeu, mesmo continente de origem dos Beatles, Portugal teve estreitas relações com os Beatles, particulamente com Paul: McCartney já desejou ter uma propriedade em território português, em 1989. A casa é uma mansão do século XVII, com vista pro mar, e situada em uma estrada, um dos motivos pelos quais fez com que Paul desistisse da compra, pois sua privacidade estaria em jogo. Em 9 de dezembro de 1987, McCartney concedeu a sua primeira entrevista a um jornalista português, onde, entre outras coisas, relatou: “O que faço ao dinheiro? Ponho-o no banco… Não, faço imensas coisas: obras de beneficência, tenho uma família para sustentar, tenho a minha mulher e, como tu sabes, as mulheres gastam muito dinheiro!
Segundo o articulista Luís Pinheiro de Almeida, a letra de “Yesterday” foi escrita em Portugal, dentro de um carro, numa trajetória entre Lisboa e Faro. “Sempre detestei perder tempo e a viagem era muito longa”, relatou Paul McCartney sobre a inspiração para a letra. Paul havia escrito outras canções em território português. Em 1968, por exemplo, produziu “Penina”, em Algarve, quando estava de férias com Linda McCartney no sul do país. A letra foi entregue para o grupo português Jotta Herre. Embora Paul tenha afirmado que não gravaria “Penina” ela aparece gravada pelos Beatles no álbum pirata Unheard Melodies, The Songs The Beatles Gave Away, juntamente com a versão dos Jotta Herre e de Carlos Mendes.


Angola.

Sempre foi difícil ouvir Beatles nas rádios angolanas, devido o inicial balanço comunista que a República da Angola estava reforçando. Contudo, a banda exerceu forte popularidade em Angola: “And I Love Her” e “Girl” foram as duas canções que mais podiam ser encontradas na indústria radiofônica angolana.



Filmografia.


Os Beatles estrelaram cinco filmes, todos os quais relacionados à trilha sonora de seus álbuns. A banda participou de dois filmes filmados por Richard Lester, A Hard Day’s Night (1964) e Help! (1965). O grupo produziu, dirigiu e atuou no filme de televisão Magical Mystery Tour (1967), e no filme de animação psicodélico Yellow Submarine (1968). Seu último filme, o documentário Let It Be, lançado em 1970, mostrou as sessões de ensaios e gravações para o projeto Get Back de 1969, e ganhou o Oscar de Melhor Canção Original. Recentemente foi lançado um musical somente com as músicas dos Beatles, o Across the Universe, porém, este foi lançado depois do fim da banda, sendo somente inspirado em suas músicas, e não com participação de nenhum deles. Existe também um espetáculo em DVD do Cirque du Soleil, inspirado nas músicas da banda, e também com a trilha sonora original. 

Texto: Wikipédia. 

Senha dos Arquivos / Password Files: muro


Links e para download e postagem original de Alex Sala do excelente blog Muro do Classic Rock
http://murodoclassicrock4.blogspot.com.br/




Álbuns.


New Year's Day (1962)
01. Like Dreamers Do
02. Money (That’s What I Want)

03. Till There Was You
04. The Sheik Of Araby
05. To Know Her Is To Love Her
06. Take Good Care Of My Baby
07. Memphis, Tennessee
08. Sure To Fall (In Love With You)

09. Hello Little Girl
10. Three Cool Cats
11. Crying, Waiting, Hoping
12. Love Of The Loved
13. September In The Rain
14. Besame Mucho
15. Searchin’ 


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Please, Please Me (1963)
01. I Saw Her Standing There
02. Misery
03. Anna (Go To Him)

04. Chains
05. Boys
06. Ask Me Why
07. Please Please Me
08. Love Me Do
09. P.S. I Love You
10. Baby It’s You
11. Do You Want To Know A Secret
12. A Taste Of Honey
13. There’s A Place
14. Twist And Shout 


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With The Beatles (1963)
01. It Won’t Be Long
02. All I’ve Got To Do
03. All My Loving
04. Don’t Bother Me
05. Little Child
06. Till There Was You
07. Please Mister Postman
08. Roll Over Beethoven
09. Hold Me Tight
10. You Really Got A Hold On Me
11. I Wanna Be Your Man
12. Devil In Her Heart
13. Not A Second Time
14. Money 


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A Hard Days Night(1964)
01. A Hard Day’s Night
02. I Should Have Known Better
03. If I Fell
04. I’m Happy Just To Dance With You
05. And I Love Her
06. Tell Me Why
07. Can’t Buy Me Love
08. Any Time At All
09. I’ll Cry Instead
10. Things We Said Today
11. When I Get Home
12. You Can’t Do That
13. I’ll Be Back 


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Beatles For Sale (1964)
01. No Reply
02. I’m A Loser
03. Baby’s In Black
04. Rock and Roll Music
05. I’ll Follow The Sun
06. Mr. Moonlight
07. Medley:
Kansas City
Hey, Hey, Hey, Hey

08. Eight Days A Week
09. Words Of Love
10. Honey Don’t
11. Every Little Thing
12. I Don’t Want To Spoil The Party
13. What You’re Doing
14. Everybody’s Trying To Be My Baby 


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Help (1965)
01. Help!
02. The Night Before
03. You’ve Got To Hide Your Love Away
04. I Need You
05. Another Girl
06. You’re Going To Lose That Girl
07. Ticket To Ride
08. Act Naturally
09. It’s Only Love
10. You Like Me Too Much
11. Tell Me What You See
12. I’ve Just Seen A Face
13. Yesterday
14. Dizzy Miss Lizzie 


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Rubber Soul (1965)
01. Drive My Car
02. Norwegian Wood (This Bird Has Flown)

 03. You Won’t See Me
04. Nowhere Man
05. Think For Yourself
06. The Word
07. Michelle
08. What Goes On
09. Girl
10. I’m Looking Through You
11. In My Life
12. Wait
13. If I Needed Someone
14. Run For Your Life 


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Revolver (1966)
01. Taxman
02. Eleanor Rigby
03. I’m Only Sleeping
04. Love You To
05. Here, There and Everywhere
06. Yellow Submarine
07. She Said, She Said
08. Good Day Sunshine
09. And Your Bird Can Sing
10. For No One
11. Doctor Robert
12. I Want to Tell You
13. Got to Get You into My Life
14. Tomorrow Never Knows 


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Yesterday And Today (1966)
01. Drive My Car
02. I’m Only Sleeping
03. Nowhere Man
04. Doctor Robert
05. Yesterday
06. Act Naturally
07. And Your Bird Can Sing
08. If I Needed Someone
09. We Can Work It Out
10. What Goes On
11. Day Tripper
 


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Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club band (1967)
01. Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band
02. With A Little Help From My Friends
03. Lucy In The Sky With Diamonds
04. Getting Better
05. Fixing A Hole
06. She’s Leaving Home
07. Being For The Benefit Of Mr. Kite!
08. Within You Without You
09. When I’m Sixty-Four
10. Lovely Rita
11. Good Morning Good Morning
12. Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (Reprise)

13. A Day In The Life 

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Magical Mystery Tour (1967)
01. Magical Mystery Tour
02. Fool on the Hill
03. Flying
04. Blue Jay Way
05. Your Mother Should Know
06. I Am the Walrus
07. Hello Goodbye
08. Strawberry Fields Forever
09. Penny Lane
10. Baby You’re a Rich Man
11. All You Need Is Love
 


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The Beatles (White Album) (1968)
01. Back In The USSR
02. Dear Prudence
03. Glass Onion
04. Ob-La-Di, Ob-La-Da
04. Ob-La-Di, Ob-La-Da
06. The Continuing Story Of Bungalow Bill
07. While My Guitar Gently Weeps
08. Happiness Is A Warm Gun
09. Martha My Dear
10. I’m So Tired
11. Blackbird
12. Piggies
13. Don’t Pass Me By
14. Why Don’t We Do It In The Road
15. I Will
16. Julia
17. Birthday
18. Yer Blues
19. Mother Nature’s Son
20. Everybody’s Got Something To Hide Except Me and My Monkey
21. Sexy Sadie
22. Helter Skelter
23. Long Long Long
24. Revolution 1
25. Honey Pie
26. Savoy Truffle
27. Cry Baby Cry
28. Revolution 9
29. Good Night
 


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Os 40 anos do álbum branco dos Beatles

Fonte: O Globo
Texto: Jamari França


"The Beatles", mais conhecido como o álbum branco, foi lançado na Grã-Bretanha em 22 de novembro de 1968. É considerado o começo do fim dos Beatles porque já não demonstravam a mesma união de antigamente. John, Paul e George trabalharam várias canções sozinhos e os três usavam os demais como se fossem músicos de estúdio. O álbum branco tem 13 músicas de John, 11 de Paul, quatro de George, uma de Lennon e McCartney e uma de Ringo.

Em fevereiro, os quatro Beatles foram a Rishikesh, na Índia, para o centro de meditação do guru Maharishi Mahesh Yogi, que tinham conhecido no ano anterior durante um período de meditação no País de Gales em agosto. Concentrados lá com seus violões, eles compuseram adoidado e John até brincou que Ringo tinha composto sua primeira canção, "Don't pass me by", graças às vibrações inspiradoras da meditação. Ainda na Índia eles gravaram demos acústicas da maioria das canções.

As gravações começaram dia 30 de maio em Abbey Road com “Revolution 1”, de John Lennon, e terminaram dia 13 de outubro com "Julia", do mesmo Lennon. Eles também gravaram nos Trident Studios onde havia uma máquina de oito canais e, antes de acabarem, “Abbey Road” também ganhou oito canais. A idéia era fazer um disco de rock não rebuscado como o anterior ''Sgt Pepper's Lonely Hearts Club Band'', com os instrumentos usados pela própria banda.

A capa toda branca é um contraponto à de Sgt Pepper's, excessivamente rebuscada, com mil elementos visuais. A simplicidade não vingou totalmente porque o álbum duplo trazia encartado um grande poster com colagens na frente e as letras atrás e um retrato de cada um dos quatro. O nome da banda estava impresso em alto relevo na frente, também em branco, e as primeiras edições tinham o número de cada cópia. Na segunda capa havia os nomes das músicas e, na terceira capa, fotos individuais em preto e branco.

1968 foi um ano de grandes acontecimentos. A guerra encarniçada no Vietnam e a revolta se espalhando pelas universidades americanas. O maio de 1968 na França (foto), o endurecimento da ditadura no Brasil e a primavera de Praga sufocada pelos tanques soviéticos em agosto. Um ano de grandes discos: "John Wesley Harding" (Bob Dylan), "We're only in it for the money" (Frank Zappa and the Mothers of Invention), "A saucerful fo secrets" (Pink Floyd), "Beggar's banquet" (The Rolling Stones) e "Electric Ladyland" (Jimi Hendrix Experience), entre outros. E filmes marcantes como "Z" (Costa Gavras), "Teorema" (Pier Paolo Pasolini), "O bebê de Rosemary" (Roman Polanski). Nos livros destaque para "Do androids dream of electric ship" (Philip K Dick), inspirador de "Blade runner", "The armies of the night" (Norman Mailer), "The electric kool aid acid test" (Tom Wolfe) e "Castaneda: Os ensinamentos de Don Juan: o caminho yaqui do conhecimento" (Hellen Ker e outros).

Back in the USSR (Paul McCartney) - Os Beatles eram proibidos na União Soviética e esta música saiu três meses depois de as tropas soviéticas sufocarem a Primavera de Praga, o que provocou acusações de que seu autor, Paul McCartney, estivesse defendendo o comunismo. Claro que não era nada disso. Paul disse que fez uma paródia dos Beach Boys e um contraponto com "Back in the USA" de Chuck Berry. Ele achou divertido falar da URSS como se fosse os EUA e das garotas da Ucrânia como se fossem as garotas da Califórnia (''California girls'', música dos Beach Boys).

A canção foi gravada nos dias 22 e 23 de agosto sem a presença de Ringo Starr, que brigou com Paul por causa da levada de bateria e resolveu deixar o grupo (voltou dia 5 de setembro). No dia 22 gravaram a base com Paul na bateria, George na guitarra solo e John no baixo num rock energético. No dia 23 gravaram mais duas baterias, Paul e George nas guitarras solo, dois baixos (Paul e George), Paul colocou a voz, John e George fizeram vocais a la Beach Boys e bateram palmas. O engenheiro Ken Scott levanta a hipótese (mas não afirma) que John e George gravaram as duas baterias e foi feita uma montagem. Naquela época isto era feito com gilette, cortando e colando as fitas.

O som do avião a jato foi gravado no aeroporto de Londres. O chefe da seção de efeitos especiais Stuart Eltham afirmou que se tratava de um avião Viscount, não disse de que companhia, e estava arquivado como "Volume 17: Motor a jato e a pistão".

Dear Prudence (John Lennon) - A Prudence do título é irmã da atriz Mia Farrow. Ambas estavam na Índia e Prudence se mostrava muito arredia, trancada em seu bangalô com seus exercícios de meditação. A letra a chama para sair e brincar que o sol brilha, o céu está azul, está tudo lindo e ela também. John e George gravaram as guitarras em estilo dedilhado - John no canal direito segurando a música inteira, George solando no canal esquerdo. Paul gravou a bateria, tudo isso no dia 28 de agosto. No dia seguinte, Paul gravou o baixo, John o vocal com dobra e os vocais, pandeiro e palmas gravados por Paul e George. O primo de Paul, John MCCartney, o cantor e guitarrista contratado da Apple Records, a gravadora dos Beatles, Jackie Lomax e o roadie Mal Evans ajudaram nos vocais e palmas. No dia 29, Paul gravou piano e flugelhorn. Paul dá uns vacilos na bateria durante a levada, mas no final ele manda ver nas viradas. A canção devia terminar com palmas e gritos, gravados por todos, mas não vingou na forma final. A canção começa em fade in e acaba em fade out.

Glass Onion (John Lennon) - John sempre se divertiu com as interpretações que davam às letras dos Beatles e gostava de colocar coisas sem sentido. A letra de "Glass Onion" é toda construída para provocar um curto circuito nesse povo. Ela se refere a outras músicas dos Beatles num texto totalmente non sense que fala em olhar através de uma cebola de vidro/monóculo. As canções citadas são "Strawberry fields forever" ("I told you about Strawberry Fields/ you know the place where nothing is real"), "I am the walrus" ("Well here's another clue for you all/The walrus was Paul''), "Lady Madonna" ("Lady Madonna trying to make ends meet"), "Fool on the hill" ("I told you about the fool on the hill") e "Fixing a hole" ("Fixing a hole in the ocean").

A canção foi gravada nos dias 11, 12 e 13 de setembro. No primeiro dia foram 34 takes da base com John (violão), Paul (baixo, piano), George (guitarra solo) e Ringo (bateria). No dia seguinte, gravou-se o vocal de John e um pandeiro de Ringo e, no dia 13, piano e bateria. No dia 10 de outubro, foram gravadas as cordas por um octeto com quatro violinos, duas violas e dois cellos. Na mixagem, a bateria ficou no canal direito, o baixo seco de Paul no esquerdo. Quando John cita "Fool on the hill'' há, no canal direito, uma breve flauta tirada da música e gravada no dia 16 de setembro com auxílio de um gravador por Paul e John.

Ob-la-di Ob-la-da (Paul McCartney) - Uma canção infantil de Paul em ritmo de ska que ele sugeriu como single, mas os outros discordaram. O grupo Marmalade gravou e foi ao primeiro lugar. A história de Desmond, dono de uma carrocinha no mercado, e Molly, cantora numa banda. Eles se casam, têm dois filhos, de dia trabalham no mercado, de noite ela canta num bar. Paul levou a banda à loucura fazendo e refazendo a canção num total de 42 horas de trabalho nos dias 3,4,5,8,9,11 e 15 de julho. Paul cantou, fez vocais dobrados e tocou baixo; John fez vocal e tocou piano; George fez vocal e tocou violão e Ringo bateria, bongôs e percussão. Todos bateram palmas e fizeram "percussão de boca", além dos inúmeros barulhinhos e falas ouvidos ao longo da canção. Exemplos: John canta "arm" e George canta "legs" depois de Paul cantar "Desmond let the children lend a hand". E George ainda canta "foot".

Paul gravou uma guitarra em tom grave para soar como um baixo, John o piano da introdução com o detalhe de ter tocado em desespero porque Paul não se dava satisfeito, gravando mais e mais takes. No dia 11 gravaram três saxofones e um piano elétrico por Nicky Hopkins, o grande músico que tocou muito tempo com os Rolling Stones. Paul levou uma cópia da canção para casa e, no dia 15, gastou boa parte da sessão, que foi de 15h30 às 3h30 da madrugada, refazendo a voz.

Wild honey pie (Paul McCartney) - Gravada por Paul sozinho no dia 20 de agosto, enquanto John e Ringo trabalhavam em “Yer blues” e em “Revolution 9” em outro estúdio. George tinha viajado para a Grécia, na primeira vez em que um Beatle se ausentava durante a gravação de um álbum. É uma brincadeira em cima de outra música de Paul no disco, "Honey pie".

"The continuing story of Bungalow Bill" (John Lennon) - Canção bem humorada que John fez na Índia inspirado em um americano que também estava em Rishikesh: Ele se ausentou por uns dias para caçar tigres e depois voltou para continuar seus estudos de aperfeiçoamento espiritual. Diante de uma figura dessas, John partiu para a gozação: "Ele saiu para caçar tigres com sua arma e um elefante/ Em caso de acidentes, ele sempre levava sua mãe/ Ele é aquele americano saxão filho da mãe com cabeça em forma de bala", daí ele chamava para o refrão com "Cantem todas as crianças". Todo mundo que estava em Abbey Road foi convocado para cantar o refrão e fazer uma zona para o final da canção, incluindo Yoko Ono e Maureen Starr, mulher de Ringo. Yoko Ono canta em dois versos na terceira estrofe. Ela faz "But when he looked so fierce", aí John "his mummy butted in". Em seguir ela e John cantam "If looks could kill it would have been us instead of him".

A canção foi gravada num único dia, 8 de outubro, numa sessão de gravação que durou 16 horas, de quatro da tarde às oito da manhã do dia nove (aniversário de John, 28 anos) com gravações de “Long long long”, “I'm so tired” e “Bungalow Bill”. John e George tocaram violões, Paul tocou baixo, Ringo bateria e pandeiro. Chris Thomas tocou mellotron fazendo sons de bandolim e trombone.

"While my guitar gently weeps" (George Harrison) – George teve dificuldades em gravar suas quatro canções incluídas no álbum branco. "Tive que fazer umas 10 de John e Paul antes que me dessem uma chance", contou ele em 1987. Foram cinco sessões nos dias 25 de julho, 16 de agosto, três, cinco e seis de setembro. George tocou violão e órgão e a voz principal com dobra, Paul piano, órgão e baixo distorcido (canal direito), John guitarra e Ringo bateria e pandeiro. O grande trunfo é o solo de Eric Clapton, gravado no dia seis de setembro com uma Gibson Les Paul depois de muita insistência de George. "Ninguém toca num disco dos Beatles," relutou Eric e George respondeu que a música era dele e queria que Eric tocasse. Os dois eram muito amigos, moravam perto e se freqüentavam, a ponto de Eric se apaixonar pela mulher de George, Pattie Boyd.

George disse que a presença serviu para que os demais Beatles trabalhassem com entusiasmo, em vez de relutância. Eric não foi creditado na época por problemas contratuais. A letra era uma aplicação dos ensinamentos aprendidos na Índia com uma abordagem condescendente que mereceu críticas: "Eu não sei como alguém te controlou. Eles te compraram e te venderam. Eu olho para todos vocês e vejo o amor dormindo, enquanto minha guitarra gentilmente chora." A música partiu de duas palavras "gently weeps" numa página do I Ching que George abriu ao acaso.

"Happiness is a warm gun" (John Lennon) – O título violento foi achado por John numa revista de armas, uma sugestão de que a felicidade é uma arma quente, ou seja, que acabou de ser usada contra alguém. A letra é mais um exercício de non sense para perturbar os que buscam significados nas letras dos Beatles. "Ela não é uma garota que perde muito. Ela conhece bem o toque da mão de veludo como um lagarto numa janela" e por aí vai, com alusão também a drogas "Preciso de um pico porque estou indo para baixo". O nome da música também foi associado a drogas, como se "arma" quisesse dizer "seringa". O recém falecido Neil Aspinall, assessor dos Beatles desde Liverpool, disse que ele e John fizeram muitos versos juntando palavras aleatóriamente. Uma referência pelo menos é verdadeira, o "homem na multidão com espelhos multicoloridos nas botas" é referência a um cara que botava espelhos nas botas para olhar por baixo das saias das mulheres em jogos de futebol.

A interpretação é uma das melhores de John em disco. Começa suave e vai num crescendo à medida que ele enuncia a letra, até a parte final inspirada em doowop, com sua voz gritada (canal direito) e o coro de resposta feito por ele, Paul e George (canal esquerdo). John tocou guitarra, George guitarra distorcida, Paul baixo, órgão e piano. Foram 70 takes nos dias 20, 23 e 24 de setembro. John decidiu que a primeira parte do take 53 e a segunda parte do take 65 eram as melhores. Daí fizeram a edição no dia 25.

Os 40 anos do álbum branco dos Beatles (Segunda parte)

Os Beatles como o guru Maharishi Mahesh. Foi no ashram dele na Índia que foram compostas a maioria das canções do álbum branco

“The Beatles”, o álbum branco dos Beatles, entrou em várias listas de melhores de todos os tempos. Numa eleição promovida em 1997 pela loja inglesa de discos HMV em parceria com o Canal 4, o jornal “The Guardian” e a “Classic FM”, o álbum ficou em 10º lugar na lista de “Músicas do milênio”. A mesma posição ele ocupou na lista dos 500 discos mais importantes de todos os tempos da revista americana “Rolling Stone”. A revista ''Time'' colocou o álbum entre os 100 mais importantes de todos os tempos numa lista por década, sem ordem de classificação. Nos Estados Unidos, é o décimo disco mais vendido da história com 19 discos de platina ou 19 milhões de cópias vendidas. O álbum foi lançado em 22 de novembro de 1968 na Grã-Bretanha, e no dia 25 nos Estados Unidos.

Nas entrevistas que deu para a série de DVDs “The Beatles anthology”, Ringo Starr disse que, para ele, o pior da fase de gravação mais elaborada da banda era ficar um tempo sem fazer nada nos estúdios até chegar sua vez. E, muitas vezes, quando chegava, o baterista tinha que reproduzir o que o autor da canção queria, em vez de o deixarem livre para elaborar sua participação. Nas gravações do álbum branco, Ringo perdeu finalmente a paciência. Irritado com as instruções de Paul McCartney na gravação de “Back in the USSR”, saiu batendo a porta (metaforicamente) e disse que estava fora da banda. Isso aconteceu em 22 de agosto de 1968. O trabalho não parou. Enquanto cortejavam o baterista para que voltasse, o trio gravou “Back in the USSR” e “Dear Prudence” com Paul na bateria. No dia cinco de setembro, Ringo voltou e encontrou seu kit decorado com flores azuis, brancas e vermelhas (idéia de George Harrison). No futuro, ele se referiu ao incidente como o início de “meses e anos de angústia”.

“Martha my dear” – Paul McCartney – Gravada sem os demais Beatles nos estúdios Trident, Paul se revezou entre piano, baixo, guitarra, bateria, palmas e vocal com dobra. Foram dois dias de trabalho, quatro e cinco de outubro, com 14 músicos fazendo sopros e cordas: quatro violinos, duas violas, dois cellos, três trumpetes, flugelhorn, trombone e tuba. A maior parte foi gravada na sessão do dia quatro, que durou de quatro da tarde às quatro e meia da manhã. No dia seguinte, Paul gravou baixo e guitarra. Na sessão do dia quatro, foram gravados também os sopros de outra música de Paul, “Honey pie”. Martha era a cadela pastor de Paul, que morava no mesmo bairro da gravadora EMI, St. John’s Wood, e ele de vez em quando a levava para passear. Um grupo de fãs que fazia plantão diante de sua casa às vezes recebia o privilégio de levar Martha para passear. Paul também sentava na janela de noite com o violão e cantava para elas, assim reza a lenda. Apesar do nome, a letra não é sobre a cadela, mas sobre um caso de amor complicado, a menos que alguém ache que versos como “eu e você fomos feitos um para o outro, garota boba” se referem à cadela. O arranjo de cordas e sopros é de George Martin. Paul costumava passar para ele de boca o que queria e Martin orquestrava. Na mixagem, o piano fica no canal esquerdo junto com cordas e palmas. No canal direito, estão os sopros e baixo. A bateria está no meio e a voz, no direito para o esquerdo.

“I’m so tired” (John Lennon) – John compôs esta música na Índia, numa referência ao seu cansaço com tanto estudo e meditação no ashram do Maharishi Mahesh Yogi. Ela se conecta diretamente com “I’m only sleeping”, do LP “Revolver”, pela semelhança do tema. Naquela, John pede que não o acordem porque está ferrado no sono. Em “I’m so tired”, ele tenta combater a insônia com um drinque e um cigarro e, de quebra, xinga Sir Walter Raleigh, o cara que introduziu o tabaco na Inglaterra, de “babaca”. No final da canção John murmura “Monsieur, monsieur, what about another one?”

A gravação foi feita num único dia, 8 de outubro, com John na voz, violão guitarra e órgão. Paul tocou baixo, piano elétrico e fez vocal, George guitarra e Ringo bateria. A sessão durou de quatro da tarde às oito da manhã com os quatro trabalhando também em “The continuing story of Bungalow Bill”, de John, e na balada “Long long long”, de George. Na mixagem, voz, vocal e órgão no meio, guitarras à direita e bateria da esquerda para a direita (não é pan).

“Blackbird” – Paul McCartney – Paul compôs esta música na Índia e a inspiração foi um acordar com o canto de pássaros antes do dia raiar. O músico usou a imagem do pássaro negro, um melro, para se referir às experiências que estava tendo com o guru indiano. “Melro...pegue estas asas quebradas e aprenda a voar/ Você esperou por este momento toda a sua vida”. E “Melro...pegue estes olhos encovados e aprenda a ver/ Em toda sua vida você estava apenas esperando este momento para ser livre”. Paul gravou em 11 de junho, sozinho, em Abbey Road, com violão Martin D-28 e voz , com uma afinação em ré das duas cordas mi com execução dedilhada. Apesar de simples, Paul gravou 32 takes, 11 deles completos. O canto do pássaro na faixa veio do volume sete da biblioteca de efeitos de Abbey Road: “Pássaros de pena”. A mixagem pôs um clique (metrônomo) marcando no canal esquerdo como se fosse percussão e o restante no meio. Paul trabalhou no estúdio dois de 18h30 a 0h15, enquanto John trabalhava nos efeitos de “Revolution 9” no estúdio três de 19h às 22h15.

“Piggies” – George Harrison – Canção de George que ecoa “Animal Farm” ("A revolução dos bichos"), de George Orwell, em que os porcos dominam os demais animais com o mote de que todos são iguais, mas uns são mais iguais do que outros, o que se encaixa perfeitamente no conceito ocidental de democracia. A letra fala de porcos pequenos que apenas têm a lama para chafurdar e dos grandes porcos acima deles, sempre com roupas limpas, que saem com as esposas para jantar e comem bacon, dos porcos pequenos, supõe-se.

A canção tem um arranjo barroco com quatro violinos, duas violas e dois cellos. O co-produtor Chris Tomas, que dirigia as sessões na ausência de George Martin, tocou cravo. Paul tocou baixo, Ringo bateria e John fez os loops de fita com os roncos dos porcos usando o volume 35 da biblioteca de áudios: “Animais e abelhas”. George gravou a voz com dobra em alguns pedaços e distorção. O engenheiro Ken Townshend explica como conseguiu o efeito: “Passamos o sinal do microfone por filtro de câmara de eco muito agudo que cortou tudo acima e abaixo do nível de três kilohertz, criando uma faixa de som bem estreita”. Na mixagem, o trecho em que Paul imita o ronco de um porco fica no canal esquerdo com baixo e pandeiro. A voz de George está no meio com dobras que vão para o canal direito. Violinos e cravo estão no meio, com cellos à direita. O loop dos porcos à direita.

George contou com ajuda de Lennon, autor do verso “clutching forks and knives to eat their bacon” (“Empunhando facas e garfos para comer seu bacon”) e sua mãe, Louise, fez o verso “What they need is a damn good whacking” (o que eles precisam é de uma boa surra”). A canção foi interpretada como sendo contra a polícia porque pigs é uma gíria para policiais. Charles Manson, o líder de uma seita que trucidou quatro pessoas numa mansão da Califórnia se disse inspirado pela canção “Helter Skelter”, deste álbum, e escreveu “morte aos porcos” na porta, uma referência, ao que parece, à música de George. Uma de suas vítimas foi a atriz Sharon Tate, oito meses e meio grávida do marido, o cineasta Roman Polanski, e três amigos, dois homens e uma mulher.

“Rocky Raccoon” – Paul McCartney – Canção com relato cômico de Paul sobre um caubói chamado Rocky Raccoon que vivia nos morros do estado de Dakota. A mulher dele, Magill, foge com um tal de Dan, ele vai atrás para lavar a honra, encontra os dois mas Dan é mais rápido e atira nele. Paul fez parte da letra no estúdio. Gravada numa única sessão no dia 15 de agosto, das 19h às três da manhã, com Paul na voz e violão, John no vocal, gaita, harmonium e baixo, George no vocal e Ringo na bateria. O produtor George Martin gravou o solo com um piano de armário. Na mixagem, a voz está no meio, no canal direito estão violão, gaita, vocal e o solo de piano. A bateria e o baixo à esquerda. Alguns versos deixados de lado: “roll up his sleeves on the sideboard”; “roll over Rock...he said oh, it’s OK doc, it’s just a scratch and I’ll be OK when I get home” “This hear is the story of a boy living in Minnesota”.

“Don’t pass me by” – Ringo Starr – O baterista da banda sempre tentou fazer músicas, mas quando mostrava aos outros, eles caíam na gargalhada porque ele apresentava músicas que já existiam. Este country levou cinco anos para ficar pronto, uma canção de amor com versos pueris. Levou quatro sessões, em cinco e seis de junho e 12 e 22 de julho, com Ringo na voz, bateria, sineta, piano, Paul ao piano e baixo e Jack Fallon ao violino. Fallion era empresário de shows e músico e contratou os Beatles para alguns shows no começo da carreira deles. John e George não participaram da gravação. Na mixagem, os teclados e a voz estão no meio, o baixo à direita com o violino e a bateria à esquerda.

“Why don't we do it in the road?” – Paul McCartney - Um blues de verso único com apenas um minuto e 40 segundos gravado por Paul e Ringo em duas sessões nos dias nove e 10 de outubro, na reta final do álbum branco, no estúdio um. Paul tocou violão, guitarra, baixo e bateu palmas, Ringo tocou bateria e bateu palmas. Paul usa todos os seus recursos vocais nesta faixa, indo do gutural ao falsete num sonoridade bem crua. John adorou e ficou chateado por não ter sido convidado a participar quando Paul gravou as bases no dia nove. John e George estavam acompanhando mixagens em outro estúdio. Na mixagem, piano e guitarra à direita, baixo à esquerda e o restante no meio.

“I will” – Paul McCartney – Outra das belas baladas de Paul como “And I love her”, “Here, there and everywhere”, “For noone”, “Yesterday”, entre outras. Letra boba do tipo ''eu te amo e você sabe que vou te esperar", com um arranjo e interpretação tocantes, foi gravada em duas sessões, em 16 e 17 de setembro, com Paul na voz e violões, John na percussão e Ringo nas maracas, címbalos e bongôs. A canção exigiu nada menos que 67 takes até que Paul ficasse satisfeito com o take 65 na sessão que durou de sete da noite às três da manhã. No dia 17, Paul gravou um “baixo de boca” que pode ser ouvido melhor com fone de ouvido no canal direito e gravou vocais. O solo de violão está à direita , a percussão à esquerda, voz e vocal no meio.



John, aos 9 anos, com Julia

“Julia” - John Lennon – Homenagem de John à sua mãe, Julia Stanley, que cuidou dele apenas nos primeiros quatro anos, passando a responsabilidade à irmã Mary, ou melhor, a Tia Mimi, que criou John. Julia prezava sua liberdade, via John apenas ocasionalmente, mas ele sempre a adorou. Os dois foram mais próximos na juventude de John, quando ele formou os Quarrymen, a banda à qual se agregariam Paul e George. Julia morreu atropelada em 15 de julho de 1958, quando John tinha 17 anos, e ele sempre demonstrou um trauma em relação ao abandono. Na canção “Mother”, de sua carreira solo, ele canta “mãe, você me teve, mas eu nunca tive você”. “Julia” é uma canção de amor para a mãe e também cita Yoko Ono no verso “ocean child calls me”: Yoko significa “criança do oceano” em japonês. Os psicólogos de plantão interpretam que Yoko finalmente preenchera o vazio que ele sentiu com a morte da mãe, a quem amava muito. Julia fazia o papel de amiga e o encorajava criativamente e sua morte, segundo os supracitados, o levou a adotar uma postura rebelde e a tratar mal as mulheres até conhecer Yoko. John gravou sozinho cantando e tocando violão duas vezes e estas duas versões foram superpostas no estéreo, o que dá um efeito quando ele canta “Julia”. Esta canção foi a última a ser gravada para o álbum branco, em 13 de outubro, e encerra o lado dois.


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Yellow Submarine (1969)
01. Yellow Submarine
02. Only A Northern Song
03. All Together Now
04. Hey Bulldog
05. It’s All Too Much
06. All You Need Is Love
07. Pepperland
08. Sea Of Time
09. Sea Of Holes
10. Sea Of Monsters
11. March Of The Meanies
12. Pepperland Laid Waste
13. Yellow Submarine In Pepperland 


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Abbey Road (1969)
01. Come Together
02. Something
03. Maxwell’s Silver Hammer
04. Oh! Darling
05. Octopus’s Garden
06. I Want You (She’s So Heavy)

07. Here Comes the Sun
08. Because
09. You Never Give Me Your Money
10. Sun King
11. Mean Mr. Mustard
12. Polythene Pam
13. She Came in Through the Bathroom Window
14. Golden Slumbers
15. Carry That Weight
16. End
17. Her Majesty 


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Hey Jude (1969)
01. Can’t Buy Me Love
02. Should Have Known Better
03. Paperback Writer
04. Rain
05. Lady Madonna
06. Revolution
07 .Hey Jude
08 .Old Brown Shoe
09 .Don’t Let Me Down
10. Ballad of John and Yoko 


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Let it be (1970)
01. Two Of Us
02. Dig A Pony
03. Across The Universe
04. I Me Mine
05. Dig It
06. Let It Be
07. Maggie Mae
08. I’ve Got A Feeling
09. One After 909
10. The Long And Winding Road
11. For You Blue
12. Get Back
 


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LET IT BE 40 ANOS DEPOIS

Introdução

O Disco do Fim dos Beatles

A história oficial diz que o fim dos Beatles se deu naquela coletiva de imprensa do dia 10 de abril de 1970 na qual Derek Taylor anunciou que Paul McCartney estava deixando o grupo e não pretendia mais gravar com os ex-companheiros. No dia seguinte o fato ganhou o mundo e as primeiras páginas dos jornais. “Paul quits The Beatles”, estampou o Evening Standard. Mas o fim dos Beatles começou mais de um ano antes. Lentamente. Em janeiro de 1969 a tentativa de levar a banda de volta os tempos da coesão inicial não deu certo. As tensões registradas durante as gravações do Álbum Branco só se agigantaram. Quando 1969 chegou a convivência entre John, Paul, George & Ringo foi piorando. O dez de abril é tão somente a data de anúncio do desenlace. O fim da maior banda de ‘rock and roll’ da história foi motivado por uma série de fatores – nem todos muito claros, quarenta anos depois.

Despedida formal, não houve. Mas a histórica apresentação no teto da Apple, as gravações do projeto Get Back, e o derradeiro álbum Abbey Road, são documentos do fim. Só que o disco que estará para sempre associado ao encerramento das atividades dos Beatles é ‘Let it Be’. O emblemático LP de capa e contracapa preta com os integrantes do grupo separados numa colagem de quatro fotos ao melhor estilo, ‘cada um no seu quadrado’, personifica o adeus como nem Abbey Road consegue. Se Abbey Road ‘glamouriza’ o fim, ‘Let it Be’ é o retrato da fratura. O álbum foi iniciado por um produtor e finalizado por outro. Os mixes foram trabalhados por um engenheiro sem a presença dos Beatles ou do produtor na sala de edição. Duas mixagens foram feitas e rejeitadas. Nenhum LP dos Beatles demorou tanto a chegar aos fãs quanto este. Nenhum outro seria finalizado da forma que este foi, sem os Beatles para lapidar a coisa em favor do produto final.

Concebido para se chamar, ‘A Volta’, o disco do fim acaba por uma suprema ironia do destino rebatizado com o título conformista ‘Deixe Estar’, ou quem sabe, ‘Deixa Prá Lá’.


‘I Don’t Believe in Magic’

A vida de John, Paul, George & Ringo seguiria seu rumo, e os empurrava para a carreira individual. Desde 1968 discos solo brotavam, embora oficialmente o grupo estivesse ativo. A individualidade refletida no Álbum Branco inaugurou o ‘cada um por si’. O que talvez ninguém mensurasse era a extensão da influência do fenômeno. Os Beatles saíram de cena sem se despedir porque talvez intuíssem que seu tempo e sua obra jamais passariam.

Eu tinha sete anos de idade quando a separação dos Beatles aconteceu. Não sabia direito do grupo, mas esses nomes – John Lennon; Paul McCartney; George Harrison; Ringo Starr eram pronunciados com facilidade pelas pessoas em toda parte. Inclusive nos confins do Brasil. Milton Nascimento publicara por aquela época uma injusta canção chamada ‘Para Lennon & McCartney’ em cuja letra se dizia que eles jamais saberiam da América do Sul. Não precisavam saber! A América do Sul e todos os continentes sabiam deles e amavam aqueles quatro sujeitos. Eles foram os precursores da globalização. Com o som de suas guitarras e canções unificaram o mundo num tempo sem internet nem satélite. Não havia download nem i-Pod. Um mundo analógico. Os Beatles aproximaram matutos, ianques, cossacos, lusitanos, brancos, pretos, pobres e ricos com um canto exato e novo que enfeitiçou todos. Um som contemporâneo que nem o peso de quatro décadas conseguiu suplantar.

A coluna Pop Go The Beatles se orgulha de contar a história do último álbum lançado pelos Fab Four de Liverpool. A regra que norteou o trabalho foi evitar repetições. A preocupação centrou-se nos bastidores do LP Let it Be, já que para o filme homônimo dedicamos duas revistinhas virtuais. Outra tentativa foi a de resgatar e esmiuçar fatos, sempre com o propósito de levar ao internauta e fã dos Beatles uma modesta contribuição brasileira à vastíssima historiografia da banda mais ‘contada’ em verso e prosa de todos os tempos. Boa leitura...


OS PORQUES DO PROJETO “GET BACK”

A idéia inicial de Get Back partiu de Paul McCartney, e começou a ser debatida pelo grupo no final das sessões do Álbum Branco. Quando o disco duplo foi finalizado havia um consenso de que eles estavam ‘tecnológicos’ demais. Os quatro sentiam saudade de se apresentar ao vivo novamente, o que não ocorria desde agosto de 1966. Outro fator é que alguns contemporâneos como os ‘Rolling Stones’ e ‘The Who’, continuavam nos palcos. Sem falar em Jimi Hendrix, que eletrizava multidões em seus shows. O temor de John, Paul, George & Ringo era voltar a tocar ao vivo e enfrentar toda aquela histeria e precariedade que prejudicava sua música. Mas porque os outros não pararam? Porque a música que produziam era diferente e, com todo respeito, bem mais básica.

Na segunda metade dos anos 60 os grupos de rock tinham adotado o teclado no palco, coisa que os Beatles também fizeram a partir de 1965. No caso dos Stones, ‘Ian Stewart’ virou presença obrigatória nos shows com seu piano ou órgão Hammond. A interrogação era: se os Beatles retornassem aos palcos o que tocariam? O conceito de voltar às raízes, produzindo com simplicidade como nos tempos do primeiro álbum, ‘Please Please Me’, surgia aí. Paul McCartney propôs gravar um LP só com os quatro no estúdio, em clima de ‘ao vivo’. E com o mínimo de overdubs. ‘Sem George Martin’, conclamou John Lennon, rejeitando o eficiente e virtuoso trabalho de pós-produção do maestro.

Nesse estágio da discussão, John Lennon parecia o mais entusiasmado com a proposta. Ele era o que mais reclamava da demora dos Beatles para finalizar uma música. Na visão dele, desde Sgt. Peppers a banda estava aprisionada à tecnologia dos estúdios e não conseguia mais gravar sem dedicar um excessivo tempo aos overdubs. Para John, todo aquele material pós Rubber Soul não poderia ser reproduzido nos palcos, dada sua complexidade. Então produzir rocks básicos e tocar com simplicidade parecia de fato uma ótima idéia.

Era também um desafio. À proposta do novo álbum ‘ao vivo’ no estúdio se seguiu outra. Produzir-se um documentário para a televisão mostrando o dia-a-dia das sessões de gravação e os ensaios. Estava claro que, voltassem ou não a se apresentar nos palcos os Beatles não pretendiam retomar as turnês. A intenção com o documentário seria fazer ‘filme e disco’ excursionarem pelo mundo. Não se falava em produção para o cinema. Como a Televisão era a mídia da moda no final dos anos 60, os Beatles entendiam que o documentário lhes permitiria tocar novamente ao vivo sem subir aos palcos. Seriam vistos por público diversificado que jamais conseguiriam reunir em estádios ou ginásios, as pessoas em casa diante dos receptores de TV.

Ringo Starr tinha a preocupação de que se os Beatles pretendiam mesmo tocar ao vivo, teriam de fazê-lo bem. Fosse onde fosse. O mais refratário à idéia era George Harrison. Para ele não havia sentido em retornar aos palcos para não ser ouvido. Ele não se impressionava com os shows dos Rolling Stones por achar que o ambiente de balbúrdia no qual Jagger e companhia tocavam, era incompatível com os Beatles. Mas concordava que seria interessante tentar uma ‘guinada’ no som do grupo no final dos anos 60. Também se convenceu de que um disco em clima de ‘ao vivo’ no estúdio poderia ser divertido. Mas o que ele queria mesmo era mais espaço para sua acumulada produção musical.

Nesse clima o ano de 1968 chegou ao fim com algumas definições. Os Beatles ensaiariam nos estúdios Twickenham, espaço conhecidíssimo do cinema na Inglaterra e utilizado nas filmagens de A Hard Days Night e Help. A estrutura do local era considerada perfeita para documentar os ensaios na opinião do cineasta Michael Lindsay-Hogg, contratado para dirigir o documentário musical. Como a proposta era ‘voltar às raízes’, bastaria um engenheiro de som por perto, e por sugestão de John Lennon chamaram Glyn Johns. George Martin ficaria em segundo plano. Outra definição é que as gravações seriam ‘em casa’, ou seja, os Beatles deixariam Abbey Road para trabalhar nos estúdios Apple. O ano de 1969 começou com esse planejamento romântico que se transformaria numa saga, a saga do Projeto Get Back...


CAPÍTULO I 02 de janeiro a 31 de janeiro de 1969

Apenas 11 semanas haviam se passado entre o lançamento do Álbum Branco e o começo dos trabalhos de produção de um novo álbum dos Beatles. O disco que somente em abril de 1970 ganharia o título definitivo, Let it Be, começou a ser gravado bem antes, no primeiro mês de 1969. Se White Album foi uma produção conturbada, a seguinte apenas contribuiu para aumentar as tensões, tornando por vezes insuportável o ambiente do grupo. É impossível contar a história de ‘Let it Be’ sem falar de ‘Get Back’ já que este era o título original do ambicioso projeto de filme e disco que os Beatles pretendiam jogar no mercado. Ninguém havia feito nada igual até então. A idéia original pretendia uma espécie de ‘nova invasão dos britânicos’ valendo-se da modernidade.

O grupo ganharia o mundo num documentário televisivo cujo título provisório (por idéia do executivo Denis O’Dell) seria ‘Beatles At Work TV Documentary’, produção gravada em 16 mm dividida em duas partes. Na primeira meia hora a banda apareceria ensaiando as novas canções. Na segunda meia hora, com o trabalho finalizado promoveria um mini-concerto tocando ao vivo parte do material do futuro álbum Get Back. Parecia perfeito. Afinal, dar ao público a oportunidade de ver e ouvir os Beatles ‘work in progress’ sem dúvida era instigante. E inédito! O filme também atenderia uma ‘saudade’ que movia o grupo: voltar de alguma forma a tocar ao vivo. Não havia planos para a volta das turnês, mas se a TV se encarregava de levar os promos dos Beatles a ‘excursionar’ mundo afora desde a segunda metade de 1966, porque não um projeto visual onde o grupo poderia se divertir novamente tocando ao vivo sem o pandemônio a precariedade e a pressão dos estádios e ginásios? Obvio que a idéia multimídia se completava com um álbum de canções inéditas com a trilha sonora. ‘Get Back’ foi finalizado duas vezes. E rejeitado pelos Beatles. A foto histórica definida para a capa e o lay out foram adulterados em três ocasiões. ‘Get Back’ estava fadado a se tornar o disco que não foi. Não virou nome do próximo álbum e do filme porque os Beatles não estavam voltando. Estavam se despedindo...


1969

Terça-feira 02 de Janeiro a Quarta-feira, 15 de Janeiro

Twickenham Film Studios, Londres

Os Beatles não chegaram a passar duas semanas completas ensaiando em Twickenham para o projeto Get Back. Nos dias 4, 5, 11 e 12 de janeiro eles não trabalharam lá. Para os fãs esse pedaço da história do grupo sempre foi objeto de muita curiosidade, mas para a banda só representou tempo perdido. O primeiro entrave foi de ambientação. O expediente inicial, das oito da manhã às cinco da tarde num espaço enorme, muito frio e sem as facilidades que a banda tinha em Abbey Road, não foi seguido. Os Beatles chegavam às 11 da manhã e só iam embora a 1 da madrugada. O segundo problema era a presença de estranhos. Michael Lindsay-Hogg estava lá com sua equipe, registrando tudo - o diretor de fotografia Tony Richmond; quatro operadores de câmera; técnicos de iluminação e o engenheiro Glyn Johns, contratado para cuidar do áudio. Embora necessária para a idéia do documentário de TV, essa movimentação tirava a privacidade. O primeiro a reclamar foi George Harrison. Numa pausa dos ensaios ele ponderou que nada do que viesse a ser feito ali poderia ganhar a luz do dia porque não estava sendo profissionalmente gravado. Era verdade. Lindsay-Hogg fazia muitas imagens, mas o áudio-guia era registrado em gravadores Nagra. Para George não era razoável lançar material captado daquela maneira.

E de fato isso não aconteceu. Então porque perder tanto tempo naqueles ensaios? A justificativa é que ninguém sabia realmente o que o projeto seria de verdade. Talvez o único com uma concepção em mente fosse Paul McCartney, e ele não conseguia contagiar muito os outros. Imagens exibidas no Anthology (não aproveitadas no filme Let it Be) mostram um caminhão da Apple desembarcando um equipamento mono levado aos ensaios por Glyn Johns. Ele fez gravações profissionais ao longo de quatro dias alternados, mas nada foi utilizado. Pelo que se sabe as fitas não foram preservadas. Como a idéia em Twickenham não era gravar, mas ensaiar e fazer algumas imagens disso, o que foi produzido em termos de áudio acabou solenemente desprezado. E isso não deixa de ser absurdo.

Nas seqüências da primeira parte do filme Let it Be o áudio está em mono como capturado pelos Nagra Tapes. Na segunda parte também. A diferença é que nas cenas do ‘rooftop’ o som foi gravado profissionalmente e mixado em estéreo. No CD bônus Fly on the Wall encartado no álbum Let it Be...Naked, de 2.003, o primeiro lançamento oficial de trechos dos ensaios dos Beatles também está em mono. Isso leva a crer que a ‘fonte’ da trilha do filme vêm dos gravadores Nagra acoplados às câmeras ‘1’ e ‘2’ de Lindsay-Hogg. A justificativa plausível para o desprezo com o áudio da primeira parte do filme tem a ver com a época de sua concepção. O documentário iria ao ar em aparelhos mono de Televisão. O futuro casamento do áudio e do vídeo como nos tempos digitais de hoje, ainda levaria décadas para vir.

Se formos observar com visão critica o que se passou em Twickenham a primeira questão curiosa para uma banda cuja razão de existir era sua música é que não havia qualquer direção musical sendo seguida. As novas composições que o grupo ensaiou naquelas duas semanas eram em sua maioria esboços. Eles também não tinham material em condições de lançar porque descarregaram o que havia de melhor no repertório do Álbum Branco, que estava ‘fresco’ no mercado. Ao contrário dos velhos tempos, John & Paul pareciam não conhecer as composições um do outro até iniciarem os ensaios. A colaboração entre os dois parceiros, afinal, sempre foi um dos marcos de seu sucesso.

Havia outros problemas. George Harrison não suportava mais o desprezo às suas músicas e parecia determinado a seguir caminho próprio. O resultado do estado de ânimo geral está refletido nas gravações. E ficaria visível no filme. Os ensaios para ‘Get Back’ são marcados por improvisos nem sempre inspirados. Mais de uma centena de canções foram tocadas, entre material próprio e covers de dezenas de outros artistas. Algumas duravam apenas uma frase ou duas, e olhe lá. É visível, ou melhor, audível a maior parte do tempo a falta de convicção do grupo. Para realmente fazer uma avaliação crítica pessoal eu recomendo ao leitor a mastodôntica coletânea pirata Day by Day, com seus 130 CD’s onde é possível ouvir quase tudo que rolou naqueles ensaios.

O lado positivo está no material embrionário apresentado. Quase todas as ‘geniais’ canções do LP Abbey Road foram ensaiadas no todo ou em parte em Twickenham. ‘Something’ e ‘Oh Darling’, são apenas dois exemplos. A própria carreira-solo dos Beatles começaria nos ensaios de ‘Get Back’ porque os primeiros registros conhecidos de faixas como ‘All Things Must Pass’, ‘Jealous Guy’ e ‘The Back Seat of my Car’, surgiriam naquelas sessões. Ao mesmo tempo aquele foi também o mais frustrante período de toda a carreira dos Beatles, e decisivo para o fim. Depois das duas semanas de ‘nada’ em Twickenham e com o registro da saída temporária de George Harrison, a direção do projeto mudou.


“MAGIC ALEX”

Ninguém sabia exatamente o que seria feito com as imagens que Michael Lindsay-Hogg produzira até o dia quinze de janeiro de 1969 nos estúdios Twickenham. Nem o especial de TV era uma certeza, considerando que até aquele estágio não havia negociação formal com nenhuma emissora. Teoricamente o projeto estrearia na BBC. Independente disso o direcionamento da proposta mudara e a ordem era gravar profissionalmente. Sendo assim toda a estrutura mudou de endereço. Não havia mais clima para ensaios. Os Beatles realizariam o sonho de gravar em seu estúdio próprio. Isso, aliás, era uma tendência da época. Nomes consagrados do rock construíam estúdios particulares para se livrarem, ao menos no processo de produção, da tirania das gravadoras. Jimi Hendrix, vale registrar, foi um dos pioneiros.

A idéia com a Apple Records era gravar quando e da forma que os Beatles bem entendessem. O estúdio também serviria para que o selo Apple apostasse noutros artistas e tendências musicais. Outro objetivo era a montagem de uma estrutura mais moderna que a dos estúdios da EMI em Abbey Road, com a garantia integral dos registros em oito canais de áudio. Só que ao invés de trabalhar com profissionais experientes no ramo os Beatles, ou melhor, John Lennon preferiu confiar a estruturação da Apple Records a um amigo que conheceu na Grécia. Os Beatles deram dinheiro a um verdadeiro "charlatão", Alex Mardas, mais conhecido como Magic Alex, para que construísse o que ele mesmo descreveu em sua exposição de motivos como ‘o melhor estúdio possível’. John se convenceu de que Alex era um sujeito moderno, a frente do tempo e capaz de revolucionar a técnica de gravação em estúdios.

Quando George Martin e seus auxiliares foram fazer uma inspeção na Apple, desmascararam Magic Alex. O estúdio que ele montou foi “o maior desastre de todos os tempos”, lembra Martin. A mesa de mixagem era de madeira velha e o principal equipamento um osciloscópio antigo. Um dos argumentos de Alex Mardas que levou os Beatles a contratá-lo foi que montaria um estúdio de 72 canais! Nem nos ambientes de tecnologia mais avançada isso existia em janeiro de 1969. O resultado foi que dos prometidos 72 canais, só 16 foram possíveis, e assim mesmo combinando-se o óbvio, dois gravadores de 8 canais montados para funcionar de forma simultânea, o que nem no final dos anos 60 era novidade.

Num relatório que foi produzido e entregue ao comando da Apple, George Martin e seus técnicos constataram que “o local não tinha paredes isoladoras de som e era possível ouvir o barulho dos canos, das tubulações e o ronco do ar condicionado vazando para o ambiente onde se pretendia gravar música”. Consta que os Beatles ainda tentaram gravar alguma coisa só para ver se funcionava, mas naturalmente não deu certo. Magic Alex acabou demitido. O prejuízo ficou. A primeira conseqüência foi o atraso no início formal das gravações do LP Get Back em uma semana. E a questão só se resolveu porque George Martin agiu. Contratou técnicos que trabalharam noite e dia para desmontar a tralha de Magic Alex, ao tempo em que montaram às pressas a estrutura que seria usada em breves dias. George Martin também pediu socorro à EMI, conseguindo por empréstimo duas máquinas de 4 canais para conectar com o console de 8 canais da Apple e somente dessa forma viabilizar gravações na gravadora dos Beatles.


Terça-feira, 21 de Janeiro de 1969 – BBC Radio 1, London

Programa ‘Scene and Heard’

Começa a série de entrevistas radiofônicas individuais feitas pelo jornalista David Wigg com John, Paul, George & Ringo. O primeiro beatle a falar para o programa é Ringo Starr. Na abertura Wigg explica que gravara a entrevista no banco traseiro do Mercedes Benz de Ringo no trajeto entre Surrey (onde o baterista morava) e Londres. Naquele ano Wigg gravaria entrevistas com os demais Beatles e utilizaria no programa e também no jornal Daily Express. Em 1976 o jornalista publicou o LP duplo ‘The Beatles Tapes From David Wigg Interview’. John, Paul, George & Ringo tentaram impedir o lançamento. Em vão. No começo dos anos noventa o LP foi lançado em CD na Inglaterra.


Quarta-feira, 22 de Janeiro de 1969

Apple Studios, Londres

‘Billy Preston’

Primeiro dia de gravação formal do LP Get Back. Estava mantida a idéia de gravar um disco no clima de ‘ao vivo no estúdio’, como foi feito com ‘Please Please Me’, cinco anos antes. Tanto quanto possível as faixas não teriam pesada pós-produção como vinha ocorrendo desde ‘Revolver’. Pelo contrário. A idéia era fazer do novo álbum uma produção humana, capturada ao vivo. Até eventuais erros na execução seriam admitidos na mixagem final. Glyn Johns ganhou, nesses dias, um status jamais creditado. Virou informalmente produtor, e não um engenheiro de som. Isso ocorreu porque os Beatles estavam acostumados com George Martin por perto. A presença do maestro, vale lembrar, foi rejeitada inicialmente, mas, nesse estágio ele freqüentava os estúdios Apple, embora nunca tenha ficado claro o que realmente fazia.

Nas fitas gravadas ao longo desse período não é raro ouvir George Martin dando instruções no estúdio e respondendo perguntas dos Beatles. Também é possível ouvi-lo dando ordens a Glyn Johns. Há quem diga que George Martin atuou como um consultor. Glyn Johns estava com a carreira em ascensão. Vinha de trabalhos importantes, um deles o projeto de filme e disco dos Rolling Stones, Rock’n’Roll Circus. Outra cara nova na histórica sessão deste dia 22 foi Billy Preston, convidado a se juntar ao grupo por George Harrison. Como se sabe a presença de Preston contribuiu para aliviar a tensão no grupo.

A participação dele tinha um objetivo claro. Desde o começo do projeto, John Lennon se queixava que era inviável pensar num disco sem a inclusão de teclados, só que nenhum beatle tinha como fazer isso dentro da concepção de gravação ao vivo sem overdubs, o fio condutor do novo álbum. Com Preston o problema se resolvia. Os Beatles conheciam o músico desde 1962 quando Billy era um adolescente da banda de Little Richard. John, Paul & George fizeram amizade com ele no ‘backstage’ das apresentações em Hamburgo, na fase por assim dizer, pré Beatles.

Billy Preston recebeu 500 libras de cachê pelos dez dias de trabalho nos estúdios Apple. Aproveitou o ensejo para fechar um negócio. Assinou contrato para gravar seu primeiro álbum solo, que teria produção de George Harrison e mixagem de Glyn Johns. As gravações foram acertadas para maio. A amizade dos dois só se fortaleceria a partir de então. Preston participaria no futuro de vários álbuns solo de Harrison sem falar na importante presença dele no Concert For Bangladesh (1971) e na North American Tour (1974). Billy Preston também ajudou a garantir paz no estúdio enquanto as gravações profissionais do LP Get Back rolaram. Com seu talento e bom humor o tecladista se ‘enturmou’ com facilidade ao universo fechado dos quatro Beatles. Billy também conseguiu o feito de ter o nome creditado como músico na contracapa do single Get Back/Don’t Let me Down. Está escrito lá: ‘The Beatles with Billy Preston’. É uma façanha. Eric Clapton não teve o nome creditado por sua participação no Álbum Branco.

Outro registro a se fazer é que faltava às sessões de Get Back o clima dos bons tempos. Quem dera o entusiasmo e a cooperação da época do ‘LP Please Please Me’ estivesse presente. Não estava. Os Beatles trabalharam sem planejamento até o final, e a improvisação não era só uma idéia na cabeça, era a única forma possível de tentar algo. “Eles jamais fariam Sgt. Peppers num ambiente como aquele”, diria o engenheiro de som Richard Lush. “Foi a mais miserável sessão de gravação da terra”, estabeleceu John Lennon numa declaração famosa. Não devemos esquecer a presença da equipe de filmagem de Michael Lindsay-Hogg, que também tumultuava o processo.

Até hoje é impossível saber com precisão quantos takes desta ou daquela canção foram feitos por que os Beatles promoviam Jam sessions quase o tempo todo - paravam conversavam, e tocavam pensando nas câmeras. Existem horas e horas de filme não editado sem que se saiba que fim levou o áudio correspondente. Na Apple não havia a organização da EMI e, portanto as sessões para Get Back/Let it Be são as mais mal documentadas de toda a história do grupo. Há uma tremenda imprecisão entre o número de takes anotados pela equipe de filmagem e pelo estúdio. Paul McCartney percebeu a bagunça e tentou fazer alguma coisa, escrevendo na contracapa das caixas das fitas o contexto em que o material havia sido gravado. Não são anotações precisas. Quem também tentou catalogar foi o engenheiro John Barrett, mas ele morreu de câncer, em 1982, antes de concluir o trabalho. Não há informações atuais sobre o destino desse material hoje em 2.010.

Voltando à sessão foram tentados nesse dia os seguintes takes: ''All I Want Is You' (título de trabalho de 'Dig A Pony'), 'I've Got a Feeling', 'Don't Let Me Down', uma breve faixa instrumental intitulada 'Rocker' (na caixa da fita), e 'Bathroom Window' (o título de trabalho do que viria a ser no futuro, 'She Came In Through The Bathroom Window'). Também tocaram, de improviso, trechos de canções do The Drifters' (Save The Last Dance For Me). E Goin’ Up the Country, do Canned Heat. Billy Preston participou ativamente com seu piano elétrico. As sessões ocorriam em dois horários: entre 10 e 11 da manhã, e entre 5 da tarde e 10 da noite.


Quinta-feira, 23 de Janeiro

Apple Studios, Londres

‘Get Back’ session

Dia dedicado à gravação de uma faixa exaustivamente ensaiada nos estúdios Twickenham, ‘Get Back’. Havia um consenso no grupo de que esta composição que dava nome ao projeto tinha de ‘puxar’ o primeiro single. Nessa data estreou como engenheiro de som numa sessão dos Beatles, Allan Parsons, aquele da banda Allan Parsons Project, que faria sucesso na segunda metade dos anos 70 e começo dos 80. Billy Preston liderou os primeiros sons do dia. Registrou no piano elétrico uma faixa instrumental intitulada ‘Blues’, não aproveitada no filme nem no futuro LP.


Sexta-feira, 24 de Janeiro

Apple Studios, Londres

Quando os gravadores foram ligados o primeiro trabalho musical do dia foi, 'On Our Way Home' (título de trabalho de 'Two Of Us'). Outra canção de Paul registrada foi 'Teddy Boy'. E, numa brincadeira, os Beatles tocaram 'Maggie Mae', lembrando a história de uma famosa prostituta de Liverpool. A gravação de apenas 38 segundos entraria no futuro LP Let it Be com o crédito de canção tradicional com arranjo de ‘Lennon-McCartney-Harrison-Starkey’. O dia também serviu para mais uma tentativa de gravar 'Dig It', 'Dig a Pony' e, 'I've Got a Feeling'. Um take de Teddy Boy foi selecionado para o LP Get Back e mixado duas vezes.

Numa das versões de ‘Dig It’, John Lennon recitou – usando um tom infantil a frase: "That was can you dig it by Georgie Wood, now we'd like to do Hark The Angels Come". O trecho foi mixado tanto para o LP Get Back quando para Let it Be. Ao final dos trabalhos o engenheiro Glyn Johns foi para o Olympic Studios, carregando várias fitas de rolo. Aproveitando a estrutura e o sossego do local trabalhou durante 90 minutos na seleção de um pacote de gravações dos Beatles feitas nos últimos dias.


Sábado, 25 de Janeiro

Apple Studios, Londres

O dia começou com uma ‘Jam session’ instrumental sem título. Dela os Beatles passaram para um breve improviso de ‘Bye Bye Love’, o clássico de 1957 dos Everly Brothers. O restante do dia foi dedicado a uma canção de Paul, ‘Let it Be’. George Harrison registrou, ‘George’s Blues’, titulo de trabalho para ‘For You Blue’.


Domingo, 26 de Janeiro

Apple Studios, Londres

‘Dig It’ foi retrabalhada e ficou mais longa: 12 min.25seg. E foi pré-selecionada para o LP Get Back. Só que Glyn Johns a reduziu para 8min.27seg. A razão está no final, quando a enteada de Paul, Heather Eastman, então com seis anos de idade, começou a berrar num microfone, tornando insuportável a audição a partir dos 8 minutos. George Martin participou tocando pandeiro. Logo depois uma sessão de improvisos aconteceu, num clima onde todos estavam felizes. Gravaram um longo medley de rock’n’roll com: 'Shake Rattle and Roll' (de Joe Turner, 1954), 'Kansas City' (seguindo a versão original de Wilbur Harrison, de 1959, não a versão de Little Richard para a qual os rapazes se basearam no Beatles For Sale), 'Miss Ann' (de Little Richard, 1956), 'Lawdy Miss Clawdy' (de Lloyd Price, 1952), Blue Suede Shoes' (de Carl Perkins, 1956) e 'You Really Gota Hold on Me' (dos The Miracles com Smokey Robinson, 1962). Logo depois George Harrison liderou os Beatles em mais uma versão instrumental dos ‘The Miracles’ para ‘Tracks of My Tears' (gravada em 1965). Parte da Jam com pesada edição de imagem entraria no filme Let it Be. Outra parte foi lançada em 1996 no CD 03 do Anthology.

Duas outras canções foram gravadas neste domingo. ‘The Long and Winding Road’, de Paul, ocupou o maior tempo da sessão. George gravou uma ‘demo’ sem titulo e sem a letra completada. Os trechos de guitarra que registrou ficaram marcados pela desafinação. Era o embrião de ‘Isn’t It a Pity’, jamais gravada formalmente pelos Beatles. Glyn Johns atravessou a madrugada no Olympic Studios mixando gravações, desta vez para estéreo.


Segunda-feira, 27 de janeiro

Apple Studios, Londres

O dia começou com uma pouco inspirada Jam instrumental que se estendeu por mais de dez minutos, envolvendo os quatro Beatles e Billy Preston. O objetivo foi ‘aquecer’ a banda. Em seguida, ‘Get Back’, ‘Oh Darling’, ‘I’ve Got a Feeling’, e ‘The Walk’, foram tentadas. O trabalho mais demorado se deu em ‘Get Back’, mas nenhum dos takes desse dia seria aproveitado. Num determinado momento entre um take e outro John Lennon fez uma paródia que, no futuro, entraria como vinheta introdutória da versão de Get Back escolhida para o LP Let it Be. Ele disse: "Sweet Loretta Fart she thought she was a cleaner but she was a frying pan". ‘Oh Darling’ ainda estava em estágio embrionário, e o objetivo de Paul foi apenas ensaiá-la com a banda, gravar e usar o registro como guia para aprimorá-la mais tarde. Quanto a ‘The Walk’, foi tocada de improviso após comentários do grupo acerca do grande sucesso de Jimmy McCracklin com essa canção, em março de 1958.


Terça-feira, 28 de Janeiro

Apple Studios, Londres

Single: ‘Get Back/Don’t Let me Down’

Billy’s Song 01

Billy’s Song 02


Dia histórico. As duas faixas que comporiam o primeiro single do projeto: ‘Get Back/Don’t Let me Down’ são gravadas e finalizadas. Na mixagem, Get Back recebeu fade out para eliminar os insistentes ‘ho ho hos’ feitos por Paul. O objetivo era evitar problemas de duração do take para a prensagem no compacto simples de vinil. Na primeira mixagem para o LP Get Back o ‘fade’ em ‘Get Back’ não foi feito. Num momento de descontração os Beatles ressuscitaram duas antigas composições: Love me Do e One After 909. Infelizmente não foi uma séria tentativa de modernizar seu primeiro single. Com levada blues, ‘Love me Do’ foi tocada sem muito empenho e com notas erradas. Paul liderou os vocais com John nos backings. O take durou 2min20seg. e foi registrado pelas câmeras, mas não foi considerado para o filme. ‘Dig a Pony; I’ve Got a Feeling e Teddy Boy’, também tentadas, tiveram diversos takes registrados.

Merece destaque a longa ‘Jam session’ que se seguiu com ‘One After 909’. Todos se divertiram lembrando a velha composição da fase pré-Beatles. Registrada nas sessões da EMI de 5 de março de 1963, acabou não lançada em Please Please Me. A novidade da sessão de improvisos foi que Billy Preston introduziu um piano com levada blues, enriquecendo o arranjo. Talvez ‘One After 909’ seja -entre todos - o take que melhor encarne a idéia original do projeto ‘Get Back’ de se fazer um disco ao vivo no estúdio.

Mas a produtiva sessão de 28 de Janeiro de 1969 ainda reservaria mais surpresas. Billy Preston aproveitou o clima favorável e gravou duas canções de autoria própria, Billy’s Song 1 e Billy’s Song 2 (são esses os títulos que constam nas caixas das fitas). O detalhe curioso é que o tecladista é acompanhado pelos quatro Beatles, fato inédito e porque não dizer, inusitado. As duas composições ainda estavam sendo lapidadas e a levada mistura soul e blues. O material não circula na pirataria e não há registro de que tenha sido gravado pela equipe de Michael Lindsay-Hogg. Billy Preston jamais lançou ou finalizou os takes. Logo depois dessa seqüência, a filmagem registrou uma longa conversa na qual John, Paul, George e Ringo demonstravam insatisfação com os rumos do projeto Get Back. Todos contribuíram com opiniões e idéias sobre a iniciativa que os ocupava desde o começo do mês.


Quarta-feira, 29 de Janeiro

Apple Studios, Londres

‘Teddy Boy’ e ‘One After 909’ foram gravadas logo no início da sessão, mas a insatisfação de Paul com os takes continuava. Em seguida trabalharam numa nova composição de John Lennon, ‘I Want You’. O take ainda não tinha um final definido. Nem a letra completada. ’Jam sessions’ de velhos clássicos do rock’n’roll também ocuparam espaço durante os trabalhos. ‘Not Fade Away’ e ‘Mailman Bring me No More Blues’ foram gravadas. Esta última viraria entre as décadas de ‘70 e 80’ uma das maiores gemas da pirataria. Só foi lançada oficialmente no CD ‘Anthology 03’, 27 anos depois. Outra versão tocada de improviso nesta sessão foi ‘Besame Mucho’, numa levada blues, muito lenta e que denota o pouco empenho da banda em fazer uma séria releitura.


Quinta-feira, 30 de Janeiro

Apple Corps (Roof), Londres

“Os Beatles Sobem no Telhado”


Qual transeunte que estivesse passando pela rua em frente ao prédio de quatro andares da Apple poderia supor que naquele cinzento dia os Beatles dariam um improvisado concerto ao vivo no telhado? Uma apresentação que ninguém conseguiria enxergar, somente ouvir. Tudo foi decidido no clima que marcaria para sempre o projeto Get Back. Apenas quatro dias antes a idéia foi sugerida por Paul McCartney e acatada pelos demais, com uma ressalva. Inicialmente Ringo Starr disse que não participaria, mas foi logo convencido por John & Paul, já que os dois estavam realmente afinados desta vez. George Harrison dava de ombros. Concordou em subir no telhado para tocar com a condição de não apresentar nenhuma de suas canções. Sem esconder a amargura, deixou claro que queria ficar livre o mais rápido possível daquele compromisso. E a idéia era essa mesmo. Filmar o concerto no teto da Apple para finalizar o documentário Get Back.

A escolha de tocar ao vivo por volta do meio-dia tinha por objetivo divertir os passantes e os empregados de empresas e escritórios das proximidades – pessoas comuns que nesse horário deixavam as repartições para almoçar. Fazia muito frio na ocasião e o vento aumentava a sensação térmica negativa. Dos 42 minutos do evento, metade foi aproveitada no filme Let it Be. O disco com a trilha sonora teria três takes do telhado: I’ve Got a Feeling, Dig a Pony e One After 909. A Apple usou um equipamento multitrack de oito canais cedido pela EMI para a gravação. Michael Lindsay-Hogg usou câmeras extras para capturar imagens e também repórteres que entrevistaram o público que se aglomerava na calçada e no entorno do prédio. Lá embaixo o som chegava com muito eco, mas era perfeitamente audível se considerarmos alguns fatores como o trânsito que não era tão intenso ao meio-dia daquela quinta-feira de janeiro de 1969. E a altura do prédio.

Os tempos também eram outros, e Londres num dia gelado, parecia calma e introspectiva. Ao menos naquele trecho da Saville Row. Os Beatles tocaram com a amplificação Fender que à época utilizavam nos ensaios no estúdio. Não era, portanto, um som potente. O charme da coisa toda está nesse improviso que marcaria a realização do último concerto ao vivo dos Beatles.


Setlist Rooftop Concert

SETTING UP (sons de afinação e ajustes)

GET BACK (rehearsal 1)

GET BACK (rehearsal 2)

I WANT YOU (She's So Heavy) – apenas alguns acordes.

GET BACK (take 01)

DON'T LET ME DOWN (take 01)

I'VE GOT A FEELING (take 01)

ONE AFTER 909 (snippet) – apenas alguns acordes.

ONE AFTER 909 (take 01)

DIG A PONY (rehearsal) – apenas alguns acordes.

DIG A PONY (take 01)

GOD SAVE THE QUEEN – apenas alguns acordes.

I'VE GOT A FEELING (take 2)

DON'T LET ME DOWN (take 2)

GET BACK (take 02)

Mais detalhes aqui: http://thebeatles.com.br/pop/beatles-rooftop.htm


Havia uma curiosidade natural dos Beatles em ouvir o concerto, e por essa razão Glyn Johns trabalhou na mixagem das gravações naquela mesma noite, entre 19 e 22 horas. No dia seguinte distribuiu cópias a John, Paul, George & Ringo.


Sexta-feira, 31 de Janeiro

Apple Studios, Londres

No último dia de sessões de gravação e filmagem para ‘Get Back’ os Beatles produziram três clássicos. Dois deles com arranjo básico ao piano: ‘The Long and Winding Road’ e ‘Let it Be’. Também ficou pronta ‘Two of Us’. Três canções de Paul McCartney. Nas caixas com os rolos de filme, Michael Lindsay-Hogg definiu essa seqüência como ‘Apple Studio Performance’. Os Beatles ainda gravaram Lady Madonna, numa Jam session. O take chegou a ser mixado para possível inclusão no LP Get Back, mas não entrou. ‘The Long and Winding Road’ teve mais de 30 takes gravados até a finalização. ‘Let it Be’ ficou pronta após nove tentativas. Nesse dia, com a conclusão das gravações o projeto de filme e disco só tinha gerado alto investimento e nenhum retorno. Daqui em diante começa uma verdadeira saga para o ‘LP Get Back’, o disco que nunca saiu.


Quarta-feira, 05 de Fevereiro

Apple Studios, Londres



Sem a presença dos Beatles, Glyn Johns trabalha na mixagem estéreo de algumas faixas tocadas no rooftop concert: `I've Got A Feeling' (as duas versões), `Don't Let Me Down', `Get Back' (duas versões), `One After 909' e ‘Dig A Pony'.



Terça-feira, 4 de Março

Apple Studios, Londres

Cinco semanas após o fim das sessões do projeto Get Back, uma reunião acontece neste dia. Ringo & George não participam. Paul & John estavam decididos a 'lavar as mãos' em relação ao material produzido, enquanto os executivos pressionavam pelo lançamento de um novo álbum. A principal decisão tomada era que o material gravado nos estúdios Twickenham não seria aproveitado. Glyn Johns foi chamado – e recebeu carta branca - para 'ouvir' os dez dias de sessões na Apple e apresentar algo para avaliação. O engenheiro pediu para trabalhar no ‘Olympic Studios’. A gravadora insistia que algum material teria de ser lançado.

George Harrison concede uma entrevista ao jornalista David Wigg para o programa ‘Scene and Heard’, da Rádio BBC 1.



Terça-feira, 10 de Março

Olympic Sound Studios, London

‘Seleção de Takes Para o LP Get Back’



Nesta data Glyn Johns seleciona as músicas para o ‘LP Get Back’. Muitos confundem essa ‘escolha’ como sendo a primeira mixagem do album. Não é. Os takes selecionados foram: ‘Get Back; Teddy Boy; Two of Us; Dig a Pony; I’ve Got a Feeling; The Long and Winding Road; Let it Be; I’m Ready; Save the Last Dance For Me; Don’t Let me Down; For You Blue; Get Back e The Walk. Os principais erros para finalização do projeto começam aqui. O material estava distante do padrão de qualidade que destacava a banda das demais até então. Aparentemente Glyn Johns confundiu as coisas. Talvez tenha compreendido de forma errada a concepção do projeto, que previa um disco simples, em clima de ‘ao vivo’ no estúdio e se possível sem overdubs. A idéia naturalmente não rimava com coisa mal feita.

A crítica a Glyn Johns é porque ele fez escolhas estranhas, para dizer o mínimo. O take de I’ve Got a Feeling (23.01) estava abortado no meio. A primeira versão gravada de Teddy Boy (24.01) também estava longe da conclusão. Basta ouvir o take sem edição para entender o equivoco. Começa com Paul ensinando a canção para John e George, acorde por acorde, e lhes repassando a letra, que também não estava completa. Os outros acompanham sem o menor interesse. Era óbvio que aquilo precisaria ser retrabalhado. Em 1996, todavia, as duas inconclusivas versões de ‘Teddy Boy’ e ‘I’ve Got a Feeling’ foram lançadas no ‘Anthology Três’.

Os takes de ‘Two of Us’, ‘Let it Be’ e ‘Don’t Let me Down’, gravados entre os dias 22 e 24 de janeiro, também selecionados ainda passariam por muitos aprimoramentos até o resultado final. Com a seleção pronta, Glyn Johns não conseguiu mostrar de imediato seu trabalho aos Beatles porque os rapazes estavam desmobilizados. Paul casara com Linda Eastman e se encontrava em lua-de-mel na América. Ringo Starr aceitara convite para estrelar o filme ‘Candy’, com Marlon Brando, Richard Burton, James Coburn, Ewa Aulin, John Huston e Walter Matthau. John & Yoko estavam viajando de carro pela Europa, e George Harrison fora preso pelo polêmico Sargento Pilcher, pilhado com pequena quantidade de maconha.

Em dúvida, Glyn Johns decidiu então selecionar mais alguns takes para dar opções de escolha aos Beatles, e assim separou gravações de ‘Two of Us’, ‘The Long and Winding Road’, ‘Lady Madonna’, ‘Let it Be’ (todas gravadas no dia 31.01), ‘I’ve Got a Feeling’ (27.01), ‘Dig It’ (uma edição das gravações dos dias 24 e 26.01), ‘Maggie Mae’ (24.01), ‘Rip It Up’, ‘Shake Rattle and Roll/Miss Ann/Lawdy Miss Clawdy’, ‘Blue Suede Shoes’ e ‘You Really Got a Hold on Me’ (todas gravadas no dia 26.01). Noves fora esses takes, também estava à mão a gravação do teto da Apple. Quando o material foi ouvido, ‘Glyn Johns’ recebeu autorização para ‘mexer’ nas fitas e montar uma mixagem.

Nota: esta foi a última vez que as fitas ‘brutas’ do projeto Get Back foram usadas para a escolha de takes. Depois, tudo o que saiu nos LP’s ‘Get Back’ e ‘Let it Be’, projeto Anthology e o CD ‘Let it Be...Naked’ seriam extraídos do material selecionado por Glyn Johns no dia dez de março de 1969. O próprio Phill Spector finalizou seu trabalho a partir dessas gravações.



Quarta-feira, 26 de Março

EMI, Abbey Road Studios, Londres



Quatro mono mixes de "Get Back" foram montados por George Martin com apoio do engenheiro Jeff Jarratt. A intenção era escolher o "melhor”, para compor o ‘lado A’ do próximo single. Acetatos foram cortados para o grupo ouvir e avaliar.



Sexta-feira, 04 de Abril

Olympic Sound Studios, Londres

Novos ‘mixes mono’ para Get Back são preparados, e também um mix mono para Don’t Let me Down. Nesse dia finalmente foi definido o take de Get Back que seria lançado. A maior parte da gravação foi feita no dia 27 de janeiro, mas Glyn Johns também editou pedaços de um take gravado no dia seguinte. A versão de Don’t Let me Down escolhida para o lado B do single foi gravada no dia 28 de janeiro. Este foi o último single dos Beatles em mono. O dia também serviu para montar mixes estéreo das duas canções.



Segunda-feira, 07 de Abril

Olympic Sound Studios, London

Os disc jockeys da Rádio BBC 1, Alan Freman e John Peel, tocam com exclusividade o take de Get Back anunciando que aquela faixa ‘puxaria’ o próximo single dos Beatles. Paul McCartney ouve no rádio do carro e não gosta do resultado. Consta que ele se dirigiu ao Olympic Studios, convocou Glyn Johns e deu uma ‘última mexida’ em ‘Get Back’ para só então aprová-la para lançamento.



Sexta-feira, 11 de Abril

Lançamento do single ‘Get Back/Don’t Let me Down’

O primeiro single dos Beatles desde ‘Hey Jude/Revolution’ chega às lojas do Reino Unido sem informar o nome do produtor. A novidade foi o crédito na contracapa: ‘The Beatles With Billy Preston’.



Quinta-feira, 24 de Abril, BBC TV

‘Get Back/Don’t Let me Down Promo Films’

Visando divulgar o novo single dos Beatles, a Apple distribuiu para os canais de TV, filmes promocionais gravados em 16mm. O material veio das imagens de Michael Lindsay-Hogg, mas não se sabe se foi ele o responsável pela edição dos promos. ‘Get Back’ apresenta cenas do ‘rooftop concert’ sincronizadas (dentro do possível) com o som da versão do single. O trabalho não ficou bom, já que no telhado os Beatles tocaram ao vivo. Para ‘Don’t Let me Down’ foram selecionadas imagens dos ensaios em Twickenham combinadas com trechos do rooftop. Os dois vídeos também incluem cenas não aproveitadas no filme Let it Be. A BBC exibiu ‘Get Back’ no programa Top of the Pops. Nos EUA os ‘clipes’ estrearam na rede CBS, numa quarta-feira, dia 30, no programa The Glenn Campbell Goodtime Hour.



Sexta-feira, 25 de Abril

EMI Abbey Road Studios, Estúdio 2, Londres

Um mono mix de Two os Us foi preparado nesta ocasião. Até esse estágio a faixa ainda se chamava, ‘On Our Way Home’. A montagem coube a Peter Mew, um produtor que jamais trabalhara com os Beatles. Ele cortou acetatos e entregou a Paul. Paul McCartney planejara doar ‘Two of Us’ para um trio vocal chamado ‘Mortimer’. E com eles pretendia assinar um contrato de gravação pela Apple. Consta que o ‘Mortimer’ gravou Two of Us, mas a versão deles jamais foi lançada. Esse ato é revelador da falta de planejamento que imperava nesta fase final dos Beatles.



Quarta-feira, 30 de Abril

EMI Abbey Road Studios, Estúdio 3, Londres

Primeiro overdub de guitarra em Let it Be

Não se tinha decisão sobre como seria feito o álbum Get Back, entretanto havia um consenso de que Let it Be seria um de seus hits, desde que passasse por uma obrigatória sessão de ‘overdubs’. Outra decisão foi de mudança de take. A versão de Let it Be gravada em 26 de janeiro - escolhida por Glyn Johns - seria eliminada em favor de uma melhor, extraída das sessões do dia 31. Foi nela que George regravou o solo de guitarra que se ouve na versão do single ‘Let it Be/You Know my Name’.

O curioso neste dia foi o trabalho que John Lennon & Paul McCartney fizeram em You Know my Name, gravada em 1967 e esquecida nos arquivos da EMI. Eles acrescentaram novos vocais e efeitos sonoros, com apoio de Mal Evans. A gravação original foi transferida de quatro para oito canais, e com a inclusão de novos sons terminou com 6 min.8 seg. Ficou decidido que eles voltariam a trabalhar no take no futuro.



Terça-feira, 13 de Maio

Casa da Gravadora EMI, Londres

Se a idéia geral do projeto Get Back foi de Paul McCartney, a capa foi de John Lennon. Ele insistiu para que se copiasse a idéia de 1963 que resultou na clássica foto do ‘LP Please Please Me’ e sugeriu a contratação do mesmo fotógrafo escocês Angus McBean para o trabalho. E assim foi feito. ‘Angus’ fez uma série de fotos dos Beatles nessa ocasião, com o detalhe de que em vários cliques Yoko Ono se mistura aos rapazes, também por insistência de John Lennon. Na mesma sacada do prédio da EMI os Beatles posaram sorridentes para as lentes de McBean, mas também foram fotografados em salas e corredores do prédio. E numa das janelas laterais. Uma dessas fotos (com Yoko Ono) viraria capa do single The Ballad of John & Yoko. O trabalho de Angus McBean foi montado em três modelos distintos de capas – duas para o LP Get Back, e outra para quando já estava decidido que o álbum se chamaria Let it Be. O material acabou rejeitado. As fotos seriam aproveitadas, entretanto, na capa das coletâneas 1962/1966 e 1967/1970, lançadas em 1973, agradando crítica e público. ‘Angus McBean’ morreu em 1990. Seu trabalho fotográfico com os Beatles e outros artistas da música é regularmente exibido mundo afora.



Quarta-feira, 28 de Maio

Olympic Sound Studios, Londres

LP Get Back – Primeira Mixagem Oficial

Nesta ocasião o engenheiro Glyn Johns finaliza o que entendeu ser o setlist perfeito para ‘Get Back’. A Apple anunciou que o LP seria lançado em junho. Nos bastidores os Beatles já trabalhavam no que viria a ser o álbum Abbey Road. Com as datas de gravação entre parênteses, o LP ficou assim:

Lado A

"The One After 909" (30 de Janeiro - rooftop), "Rocker" (22 de Janeiro), "Save The Last Dance For Me '(22 de Janeiro), "Don't Let Me Down" (22 de Janeiro), "Dig a Pony "(24 de Janeiro)," I've Got a Feeling "(24 de Janeiro)," Get Back '(28 de janeiro - single version).

Lado B

“For You Blue "(25 de Janeiro)," Teddy Boy "(24 de Janeiro),"Two of Us” (24 de Janeiro); Maggie Mae" (24 de Janeiro), "Dig It" (26 de Janeiro), "Let It Be" (31 de janeiro, com overdub de guitarra-solo do dia 30 de abril), "The Long and Winding Road "(31 de Janeiro),"Get Back (reprise – fragmento da gravação de 28 de janeiro)".



Sábado, 07 de Junho

Jornal ‘The New Musical Express’

A edição circula com uma entrevista de John Lennon que revela que o próximo LP dos Beatles se chamará: ‘Get Back: With Don’t Let me Down and 12 Other Songs’. Ele anuncia que o disco sairia em julho. Nos estúdios a banda continuava trabalhando nas gravações do que viria a ser o LP Abbey Road.



Terça-feira, 01 de Julho

Apple - Comunicado Oficial à Imprensa (3)

A gravadora dos Beatles não se desculpa por anunciar duas vezes o lançamento do LP Get Back e o fato não se concretizar. Pelo contrário, distribui uma terceira nota à imprensa onde comunica que o álbum sairia em setembro de forma simultânea com a estréia do especial, ‘The Beatles at Work TV Documentary’. Pela primeira vez é mencionado que um filme para o cinema também seria distribuído em setembro. O comunicado também incluía passagens confusas quando informava que Get Back seria um LP de velhos clássicos do rock interpretados pelos Beatles. Na verdade apenas quatro ‘oldies’ tinham sido escolhidos por Glyn Johns e não estavam na mixagem oficial entregue à Apple no dia 28 de maio passado.



Sexta-feira, 08 de Setembro

Apple - Comunicado Oficial à imprensa (4)

Com o LP Abbey Road em vias de ser lançado, a ‘Apple’ insistia em divulgar balões de ensaio sobre o LP Get Back. Um texto curto se limitava a informar que o álbum sairia em dezembro. A justificativa para mais um adiamento era o atraso na mixagem do filme e do documentário de TV. NR: observe que a nota mais confusa divulgada pela gravadora dos Beatles era incompreensível. Como acreditar que num espaço de três meses do mesmo ano a banda soltaria dois LP’s com faixas inéditas? Nunca ocorrera isso antes, então porque haveria de acontecer na reta final do ano de 1969? Esse comunicado serve para que avaliemos hoje o grau de bagunça administrativa reinante.



Domingo, 10 de Setembro

Rolling Stone – ‘Vaza’ LP ‘Get Back’

O novo comunicado da Apple à imprensa, divulgado dois dias antes repercutiu na imprensa britânica e norte-americana. A revista Rolling Stone (que à época era um jornal) chega às bancas com uma extensa reportagem com especulações acerca do que estaria gerando os sucessivos adiamentos do projeto Get Back. E surpreende os leitores ao publicar uma análise faixa a faixa ‘do disco que os Beatles não conseguiam lançar’. Ficou claro que os jornalistas da ‘Rolling Stone’ tinham ouvido o novo álbum, mas como? Na Apple ninguém assumiu ter repassado cópia à mídia.



Segunda semana de setembro de 1969

Começa ‘Não Oficialmente’ o Fim dos Beatles

A mixagem rejeitada do ‘LP Get Back’ só contribuiu para aprofundar o impasse. O cineasta Michael Lindsay-Hogg tinha um filme produzido para ser documentário de TV, mas os planos haviam mudado. A nova ordem era editar o material para as telas de cinema. Ele então transferiu o que filmara em 16mm para 35mm. Ordens, aliás, era difícil saber quem dava. Entre os muitos problemas o fato de que não se podia lançar o filme sem um álbum com a respectiva trilha sonora. Glyn Johns entrou em atrito com a Apple porque queria o crédito como produtor do novo disco. Como resposta ouviu que ganhara para fazer o trabalho e já tinha sido regiamente pago. Allen Klein gerenciava a Apple sem o apoio de Paul McCartney. Outra crise fora gerada com a venda da editora musical ‘Northern Songs’. O projeto Get Back só contribuía para elevar a temperatura dos atritos entre os caras.

O raro consenso que vigorava é que aquelas gravações não poderiam ser lançadas da forma que estavam. Para John, Paul, George & Ringo havia a convicção de que faltava pós-produção, só que isso ninguém queria fazer. Esse inclusive é o grande nó górdio que marca para sempre a história do disco ‘Let it Be’. É um álbum cujos defeitos reclamados pelos Beatles seriam facilmente sanados se os Fab Four ainda tivessem aquela unidade perfeita do ‘LP Please Please Me’. No ambiente dos bons tempos seria natural que retornassem ao estúdio para sessões de ‘overdubs’. Na reta final de 1969 os Fabs caminhavam para um incerto desenlace. E o que se seguiu após o lançamento do LP Abbey Road é prova disso.

Abbey Road foi escalado para recuperar o que a Apple perdera com o projeto Get Back. A questão financeira queira ou não, foi determinante para unir a banda num último esforço, apesar das graves fraturas expostas na relação interpessoal. Deu certo porque o álbum foi um sucesso de público, critica e vendagem. Mas e depois? O que se segue, de setembro de 1969 a maio de 1970, quando ‘Let it Be’ (disco e filme) finalmente saiu é o registro do fim da maior banda da história. Confirmado pelos fatos que seguem...



Sábado 13 de Setembro

Varsity Stadium, Universidade de Toronto,

Toronto, Ontario, Canada

‘The concert debut da Plastic Ono Band’

Formalmente os Beatles ainda existiam. Mas John Lennon montara uma banda paralela e com ela fez a primeira aparição pública num concerto. A idéia da organização do ‘Live Piece in Toronto’ era juntar no mesmo palco o antigo - Chuck Berry, Little Richard, Jerry Lee Lewis, Fats Domino, Bo Diddley e Gene Vincent com o moderno - The Doors, Chicago e Alice Cooper. John Lennon não estava nos planos originais. Apesar das atrações o programado ‘Concerto da Paz em Toronto’ não estava vendendo tickets suficientes. Foi então que o produtor John Brower teve a idéia de chamar seu amigo John Lennon, não exatamente para se apresentar, mas para subir ao palco de alguma forma, na figura de convidado especial, e usar a palavra em defesa da paz. Isso na mente de Brower contribuiria para ‘ajudar’ a vender ingressos. Como os Beatles não tocavam ao vivo desde 1966, nenhum agente imaginava que seria possível contratar o grupo.

John Lennon gostou do convite de Brower, mas só concordaria em subir ao palco se fosse para tocar. E não com os Beatles, mas com outra banda. E foi basicamente assim que se formou a primeira ‘Plastic Ono Band’ com o próprio John na guitarra base e, como se sabe, Yoko (vocal), Eric Clapton (guitarra solo), Klaus Voormann (baixo) e Alan White (Bateria). Eles partiram para Toronto um dia antes do show. A única chance de escolher o que tocar e ensaiar foi no avião a caminho do Canadá, com as guitarras, ‘desplugadas’. A apresentação foi uma aventura de sucesso.

Quando a Plastic Ono Band subiu ao palco a tarde caía, e algo em torno de 27 mil espectadores estava no ‘Varsity Stadium’. Só não foi mais gente porque, apesar da divulgação prévia da presença de John Lennon divulgada em spots de rádio, jornais, panfletos e cartazes, muita gente duvidava que um dos Beatles pudesse se apresentar num evento de John Brower, conhecido pela promoção de fracassos retumbantes. Quando a ‘Plastic Ono Band’ começou a tocar, surpreendeu o público com um repertório dividido em duas sessões. Na primeira parte, John e seus ‘oldies’: Blue Suede Shoes, Money e Dizzy Miss Lizzy. Na segunda parte as canções novas, a primeira delas ‘Yer Blues’. As outras duas, ‘Cold Turkey e Give Piece a Chance’, que ninguém conhecia. ‘Seriam novas composições dos Beatles’? Foram 40 minutos de improvisada e empolgante apresentação, até o concerto ‘virar’ para o anticlímax.

John Lennon e Eric Clapton recuaram para o fundo do palco e Yoko Ono – que passou um tempo da primeira parte do show enfiada num saco branco (de onde não devia ter saído) – assumiu os microfones para mandar, ‘Don’t Worry Kyoko’ e ‘John John’ (com 13 minutos de duração). Não eram canções, nem ‘Yoko Ono’ jamais foi ou será cantora. O público foi submetido a quase vinte minutos de gritos, guinchos, ganidos e outros sons guturais emitidos pela mulher de John. A apresentação terminou com um ensurdecedor feedback das guitarras ‘coladas’ aos amplificadores. O filme com a apresentação só ganharia a luz em 1989, no auge dos lançamentos em VHS. E saiu em mono hi fi. O ‘LP Live Piece in Toronto’ foi lançado na Inglaterra no dia 12 de dezembro de 1969.



Sábado, 20 de Setembro

Radio WKBW – Buffalo, EUA

LP Get Back ‘Vaza’ no Rádio

Não se sabe como foi que escapou da Apple uma cópia do acetato preparado por Glyn Johns com aqueles takes toscos selecionados no dia dez de março para possível montagem do LP Get Back. Nem como isso foi parar nos States. A gravação, sem mixagem e pós-produção toca pela primeira vez no rádio. Certamente foi a partir deste acetato que os jornalistas da Rolling Stone publicaram a resenha sobre o álbum. Os disc jockeys da Rádio WKBW de Buffalo (EUA) fizeram um tremendo alarde, anunciando que tocariam com exclusividade o LP Get Back. Na realidade não estavam tocando o ‘primeiro mix’, finalizado no dia 28 de maio, mas a ‘pedra bruta’ extraída das sessões do projeto. O setlist incluía onze canções.

Meses mais tarde, por volta de janeiro de 1970, surgiram dois bootlegs com as gravações - exatamente o mesmo material usado na transmissão da WKBW. O primeiro lançamento, intitulado ‘O.P.D’, vinha em mono e o som era proveniente da gravação do áudio de uma rádio AM. A segunda versão, ‘The Album of Silver The World's Greatest’ (Jarris Records), apresentou várias músicas, mas não o acetato completo. O som aqui era um pouco melhor, parecia estéreo, mas só saía num canal. Esses dois LP’s seriam a base para todo material pirata posterior que ganharia o planeta logo após o fim dos Beatles. O Projeto Get Back foi, seguramente, uma das primeiras gemas da pirataria.



Segunda-feira, 22 de Setembro

‘WBCN Get Back Reference Acetate, Boston (USA)’

Os DJ’s da radio WBCN, de Boston, fizeram alarde muito maior com o mesmo acetato utilizado dois dias antes pela Rádio WKBW, de Buffalo. Informaram ao mundo que tinham em mãos o acetato especialmente preparado pela Apple Records para o LP Get Back (o que não era verdade). O programa começa com os DJ’s deitando falação sobre o ineditismo do material. A primeira faixa tocada foi um take tosco de Let it Be. A gravação do programa da Rádio WBCN ficou famosa, e viraria ‘bootlegs’ de nomes variados, sendo o mais charmoso deles o CD da ‘Yellow Dog’ com as onze canções entremeadas por parte dos diálogos do programa. Eis o setlist. Com as datas de gravação destacadas entre parênteses.

DJ Announcement Side B;

Let it Be (26.01)

Don’t Let me Down (22.01)

For You Blue (25.01)

Get Back (23.01)

The Walk (27.01)

DJ Announcement

DJ Announcement Side A

Get Back (27.01)

Teddy Boy (24.01)

Two of Us (24.01)

Dig a Pony (23.01) + Intermezzo

I’ve Got a Feeling (23.01)

The Long and Winding Road (31.01)

BONUS: Let it Be Dialogue (com 33 min.58 seg. de duração) – esse material não tem nada a ver com o programa tocado na WBCN.



Terça-feira, 25 de Setembro

EMI Abbey Road Studios, Estúdio 3, Londres

Primeira Sessão de Gravação da ‘Plastic Ono Band’

John Lennon (guitarra/vocal), Eric Clapton (guitarra), Klaus Voormann (baixo), Ringo Starr (bateria) e Yoko (participação não especificada) – registram numa longa sessão noturna a primeira versão de estúdio de 'Cold Turkey’, gravando 26 ‘basic tracks’, além dos vocais. Tudo com produção de John.



Sexta-feira, 03 de Outubro

Lansdowne Studios, Lansdowne Rd, Londres

A mesma banda com Yoko (vocal), John (guitarra base), Ringo (bateria), Eric Clapton (guitarra solo) e Klaus Voormann (baixo) grava neste dia a versão de estúdio de ‘Don't Worry Kyoko (Mummy's Only Looking For Her Hand In The Snow)', para lançar como lado B de 'Cold Turkey'. Começava aqui a parceria na qual John freqüentemente dividiria discos com Yoko.



Quarta-feira, 08 de Outubro

Radio BBC 01 - Programa Scene and Heard

Um entusiasmado George Harrison fala ao jornalista David Wigg, do sucesso de sua nova produção, o single ‘Hare Krishna Mantra’, do grupo de religiosos, ‘Radha Krishna Temple’. Apesar de não ter nenhum apelo comercial a canção chegou ao vigésimo lugar nas paradas radiofônicas daquela época. Instado por David Wigg, George também falou do novo álbum Abbey Road.



Terça-feira, 21 de Outubro

Radio BBC 01 - Programa Scene and Heard

É a vez de John Lennon falar ao jornalista David Wigg. A conversa gira em torno do Concerto de Toronto e os futuros lançamentos da Plastic Ono Band. A entrevista foi pré-gravada. Quando terminou, Wigg ironizou, afirmando: “parece que os Beatles não existem mais, apesar do disco novo que acabou de ser lançado”.



Sexta-feira, 24 de Outubro

Rádio BBC 04 – Fim da Lorota do ‘Paul is Dead’

No auge da boataria disseminada nos Estados Unidos de que Paul McCartney estaria morto desde 1966 – e o festival de ‘evidências’ de seu falecimento, o departamento de jornalismo da BBC decidiu levar a história a sério e deslocou uma equipe à fazenda escocesa do beatle num lugar remoto chamado ‘Mull of Kintyre’. Foram recebidos por um Paul McCartney ‘vendendo’ saúde, e muito bem humorado. No começo da entrevista ele foi logo dizendo: “alô fãs britânicos e americanos, eu estou aqui, estou vivo, aliás, muito vivo”. Uma equipe da revista Life também estava presente e fez muitas fotos de Paul e família para garantir ao mundo que o baixista dos Beatles permanecia vivo. A Rádio BBC 4 repetiu a entrevista várias vezes. E destacou trechos em seus noticiários.



Segunda-feira, 27 de Outubro

Estúdio 03, EMI Abbey Road Studios, Londres

Primeiro LP Solo de Ringo Starr - Sentimental Journey

Ringo Starr se torna o primeiro beatle a gravar um álbum formal de estúdio. ‘Formal’ porque as produções anteriores, de George Harrison e John Lennon eram experimentais. Há tempos Ringo tinha desejo de gravar um disco com clássicos da música americana que sua mãe ouvia quando ele era criança. Os outros Beatles não levavam a idéia a sério. Apesar disso Ringo sempre falava a respeito com George Martin. Na reta final de 1969 - e considerando o clima de cada um por si que reinava - ele achou que a hora de fazer um álbum solo chegara. E ‘Sentimental Journey’ nasceu assim, para satisfazer o gosto pessoal do baterista dos Beatles. A primeira providência que Ringo tomou foi convidar George Martin para comandar o projeto. Martin disse que ele devia escolher o repertório livremente, e sugeriu que não se apegasse a um único produtor. “Você poderia obter uma sonoridade incrível se chamasse um nome diferente para produzir cada faixa”, opinou. Ringo gostou da idéia e a acatou. Mesmo assim a supervisão geral do trabalho nos estúdios coube a George Martin.

O resultado foi um disco bastante curioso, muito bem gravado e mixado. Nem parece que foi concebido por uma dezena de produtores, considerando a indiscutível unidade do trabalho. Até Paul McCartney atuou como arranjador. Outro destaque ficou por conta das gemas resgatadas por Ringo como ‘Stardust’, ‘Dream’, ‘Bye Bye Blackbird’, ‘Night and Day’, ‘Love is a Many Splendoured Thing’, ‘Whispering Grass’, entre outras. As gravações começaram nesta ocasião e se estenderam até o dia seis de março de 1970, registrando aqui e ali interrupções por conta de outros compromissos de Ringo. E da dificuldade de agenda para produtores de renome como ‘Quincy Jones’, ‘Chico O’Farrill’ e ‘Elmer Bernstein’ participarem das sessões. Do material gravado somente ‘Stormy Wheater’ ficou de fora, embora circule com estupenda qualidade sonora na pirataria. Como todos os arranjos foram orquestrais, Ringo não teve atuação como músico em seu primeiro disco solo. Durante o período de gravações o baterista começou a trabalhar na filmagem de outra produção para o cinema, The Magic Chrtistian (no Brasil, ‘Um Beatle no Paraíso’) ao lado do renomado ator Peter Sellers.



Terça-feira, 02 de dezembro

John Lennon – O Homem da Década

‘George Harrison em Turnê com Outra Banda’

Neste dia, duas atividades distintas e históricas. John Lennon recebeu em sua casa uma equipe da ‘Associated Television’ (ATV) que gravou uma entrevista e fez muitas imagens dele para o especial, ‘O Homem da Década’. John foi escolhido no voto, por um grupo de notáveis que o canal de TV mobilizou para tal. O antropólogo e sociólogo Desmond Morris foi o voto decisivo que apontou Lennon como personalidade daquele ano. A trajetória do beatle e o peso de sua influência na juventude mundial deram o tom do especial de vinte minutos que foi ao ar no final do mês.

Quanto a George Harrison, saiu em turnê com outra banda, ‘Delaney Bonnie and Friends’, atendendo convite de seu amigo Eric Clapton. George gostava muito de ‘Delaney Bramlett’, e entendeu que rodar com eles durante seis noites consecutivas, com duas apresentações diárias em casas noturnas diferentes seria uma boa diversão. E pode até ter sido, mas a presença de George nesses concertos foi pouco notada. Ele ficava no fundo do palco com sua enorme cabeleira, não se aventurava em solos e há quem diga que sua guitarra não era ouvida porque não estaria ligada. Alguns concertos foram gravados, e um deles virou um LP ao vivo no qual George Harrison não é creditado com seu verdadeiro nome. Pelo menos uma das apresentações foi filmada. Consta que durante essa turnê, George presenteou Delaney Bramlett com sua guitarra Fender Telecaster (Rosewood) usada nas sessões do Projeto Get Back e no Rooftop Concert.



Terça-feira, 02 de Dezembro

EMI Abbey Road Studios, Londres

‘LP Hey Jude’

Octopus’s Garden (new mix)

Finalmente no mesmo dia dois de dezembro um acontecimento ligado aos Beatles como grupo. Ainda que indiretamente. Engenheiros trabalharam na escolha e mixagem de dez faixas produzidas entre 1964 e 1969 que comporiam o futuro LP Hey Jude, uma coletânea basicamente de singles que seria publicada no ano seguinte. Como algumas canções selecionadas não possuíam edições em estéreo o trabalho foi feito neste dia e em cinco de dezembro. ‘Lady Madonna’ e ‘Rain’ ganharam novos mixes.

Octopus’s Garden também foi novamente mixada em estéreo, mas para propósito diferente. Ringo fora convidado a participar de um especial televisivo com George Martin. A produção que focava a carreira do maestro se chamou ‘With a Little Help From my Friends’. Para evitar problemas com a União dos Músicos - que obteve da justiça britânica a proibição de promo vídeos ou números cuja música não fosse tocada ao vivo – Ringo apareceu fazendo mímica no programa para uma versão ‘nova’ de Octopu’s Garden. Na realidade o baixo, piano e a guitarra solo da versão incluída no álbum Abbey Road foram eliminados. No dia 08 de dezembro Ringo gravou um novo vocal. Músicos de estúdio regravaram parte do instrumental. Assim quem assistiu ao especial pensou tratar-se de uma versão inédita da canção. O take ‘mexido’ circula com estupenda qualidade na pirataria.



Quinta-feira, 04 de dezembro

EMI Abbey Road Studios – Estúdio 2, Londres

Sessão de Gravação - Plastic Ono Band

John Lennon reuniu a Plastic Ono Band para uma inusitada (e longa) sessão de gravação. Os trabalhos se estenderam das sete da noite à uma e quarenta da manhã. Todas as pessoas que estavam trabalhando no estúdio na ocasião, Mal Evans, Anthony Fawcett, Geoff Emerick, Phil McDonald, Malcom Davies, Eddie Klein e vários outros se juntaram. A gravação resultou em duas faixas que receberam os títulos Item 1 e Item 2. “Uma sessão de gravação movida a pó”, comentaria um técnico dos estúdios.

Item 01: foi uma longa seção de risos, com os envolvidos sentados ou de pé em círculo, vestindo narizes vermelhos, gargalhando e gritando a plenos pulmões ruidosamente. Também valia berrar pensamentos aleatórios e expressa-los. Tudo foi sobreposto em seguida com percussão e cânticos.

Item 02: a peça consiste num longo sussurro. Cada pessoa na fila tem sua chance de sussurrar algo no microfone. O engenheiro Geoff Emerick causou um ‘frouxo de riso extra’ ao sussurrar a única frase que lhe veio a mente: "cabeça de Bill Livy". Ele se referia a Tito Livy, que foi da equipe técnica da EMI e era careca. Completado o trabalho de mixagem estéreo, as fitas foram levadas de Abbey Road por Mal Evans para o estúdio particular de John Lennon. A intenção era usar os dois takes num planejado quarto LP ‘avant garde’ como os três anteriores: ‘Two Virgins’, ‘Life With the Lions’ e ‘Wedding Album’. Como o tal ‘quarto LP’ jamais saiu o Item 01 e Item 02 também permanecem inéditos. Uma equipe da TV BBC estava no estúdio e filmou toda a gravação.



Sexta-feira, 05 de dezembro

‘The World of John & Yoko TV Documentary’

Para competir com sua arqui-rival ATV, a BBC obteve permissão dos Lennon para gravar este especial cujo fio condutor era acompanhar vinte e quatro horas da vida de John & Yoko a fim de mostrar o mundo deles. Na realidade a BBC queria produzir um especial melhor e mais longo que ‘The Man of Decade’, da rival ITV. Durante cinco dias (desde 02.12) o casal foi filmado no estúdio de gravação, em casa, no escritório, no carro (rolls-royce branco) em quartos de hotéis, na cama, e até mesmo no banheiro. O documentário também incluiu trechos dos chamados ‘filmes de arte’ de John & Yoko, com direito a uma generosa porção de ‘Self Portrait’, no qual a câmera mostra em close o pênis de Lennon em vários estágios de ereção. Apesar do dinheiro envolvido na produção o filme jamais seria exibido publicamente. Meia dúzia de pessoas escolhidas pelo casal assistiu ‘Self Portrait’. Antes de o filme rodar, Yoko Ono agraciava os convidados com uma longa palestra para justificar a iniciativa. Nenhum dos tais ‘filmes de arte’ existe disponível em DVD, nem nunca houve planos de lançá-los.

Por essas e outras, o documentário ‘The World of John & Yoko’ jamais seria levado ao ar pela BBC, embora tenha sido montado. Dezenove anos mais tarde Yoko usou parte da produção no filme, ‘Imagine – John Lennon’(1988). Um fato curioso ocorreu por ocasião do contrato de produção deste documentário. Lennon & Ono exigiram direito pleno sobre tudo o que fosse filmado e gravado (áudio e vídeo). Também fincaram pé pelo direito total de utilização futura do material editado e exibido, e ainda a posse da produção bruta, usada ou não. A BBC topou e o contrato foi assinado.



Sexta-feira, 05 de dezembro

EMI Abbey Road Estúdios, Londres

‘Hey Jude’ e ‘Revolution’ ganham mix estéreo para o LP Hey Jude.



Sábado, 06 de Dezembro

Empire Theatre, Liverpool

Ironia das ironias. Nas apresentações em andamento com Delaney Bonnie e a banda Friends – montada por Eric Clapton - George Harrison estava se divertindo como planejara, mas as locações noite após noite eram as mesmas pelas quais já passara entre 1963-1966 com os Beatles. Nessa ocasião ele sobe ao palco do ‘Teatro Empire’, em sua cidade natal. Seguramente foi a última vez que George Harrison se apresentou em Liverpool. Na carreira solo que viria posteriormente ele jamais fez turnê em seu país.

O álbum ao vivo, ‘Delaney & Bonnie On Tour With Eric Clapton’ seria gravado no dia seguinte, no palco do Fairfield Hall, em Croydon. A turnê ainda faria uma temporada no Falkoner Theatre, em Copenhagen (Dinamarca) entre dez e doze de dezembro. George tocou lá em 1964 com Paul, John e Jimmy Nicol.



Sexta-feira, 12 de dezembro

LP ‘No One’s Gonna Change Our World’

Esse foi provavelmente um dos primeiros discos de caridade publicados. A idéia foi do músico Spike Milligan, durante evento no Palácio de Buckingham, em 1966. Ele conclamou artistas, intelectuais, a mídia e as gravadoras a fazer alguma coisa em favor do ‘World Wildlife Fund’, que vinha alertando o mundo contra a extinção de animais como os ursos panda e koala, e se queixava de falta de apoio para protegê-los. Foram quase três anos de articulação para viabilizar este LP. A produção foi de George Martin e nenhum dos envolvidos recebeu dinheiro para participar. O fio condutor seguido pelo maestro foi que cada artista participante doasse uma canção especialmente para o álbum, o que significa que as faixas eram inéditas no catálogo de cada um.

Os Beatles contribuíram com o take de ‘Across the Universe’ gravado em fevereiro de 1968 com a participação das fãs Lizzie Bravo e Gayleen Pease no backing vocal, e que não tinha sido usado até então. ‘No One’s Gonna Change Our World’ só foi lançado na Inglaterra, e até a data não saiu em CD. O disco trás um encarte com notas assinadas pelo Príncipe Phillip, em nome da realeza britânica, e por Spyke Milligan. Foi a primeira vez que uma canção dos Beatles saiu em caráter oficial num álbum com outros artistas. Outro registro curioso é que até o começo dos anos 1980 a versão de ‘Across the Universe’ deste LP tinha virado raridade, até sair na edição inglesa da coletânea Beatles Rarities. O dinheiro com as vendas de ‘No One’s Gonna Change Our World’ foi integralmente repassado ao ‘World Wildlife Fund’.



Domingo, 14 de dezembro

ITV Television – Estúdio 04

‘With a Little Help From my Friends’ – TV Special

Vai ao ar nesta noite o especial de TV focando a carreira e o trabalho de George Martin com muitos convidados especiais. Um dos principais é Ringo Starr, fazendo mímica para a versão reeditada de ‘Octopus’s Garden’. O programa foi inteiramente filmado em cores, mas suspeita-se que a gravação original tenha se extraviado. O áudio de ‘Octopus’s Garden’ que circula na pirataria não vêm do programa, mas dos arquivos da EMI.



Segunda-feira, 15 de Dezembro

Livro ‘Get Back’ é Anunciado Pela Apple

Mais um comunicado é divulgado pela gravadora dos Beatles - finalmente se desculpando pelos sucessivos adiamentos do LP Get Back. Também comentou o sucesso de vendagem do LP Abbey Road. A nota informava que um livro de fotos produzido pelo renomado fotógrafo de celebridades, Ethan Russell viria encartado numa edição especial e promocional de Get Back que seria publicada ‘no novo ano’ (dessa vez não se anunciava data) e chegaria ao mercado junto com o filme. Nessa mesma ocasião o engenheiro Glyn Johns foi chamado para trabalhar novamente no projeto. Recebeu ordem de preparar um segundo mix melhor que o primeiro (28.05). Glyn Johns ‘mexeu’ nas gravações nesta e em mais três datas: 21 de dezembro, e depois nos dias 3 e 4 de janeiro de 1970 (quando ocorreu a única sessão de gravação para finalizar o projeto) e concluiu seu trabalho no dia oito de janeiro.



‘Plastic Ono Band Live at Lyceum Ballroom’ - Londres

O Lyceum Ballroom era um clube de dança de salão nos arredores de Londres. E foi neste lugar que a ‘Plastic Ono Band’, com John Lennon a frente, tocou. Organizado pelo UNICEF o concerto se chamou, ‘Peace For Christmas’, e os artistas concordaram em se apresentar sem cachê, já que o evento era beneficente. O grupo, ‘Hot Chocolate Band’, abriu os trabalhos. Logo em seguida tocaram: ‘The Pioneers’, ‘The Rascals, e o jamaicano ‘Jimmy Cliff’ (aquele mesmo). O disc jockey ‘Emperor Rosko’s’ foi o mestre de cerimônias. Falou na abertura e sempre voltava entre um e outro grupo para anunciar o próximo. Coube a ‘Plastic Ono Band’ fechar o evento, e para isso John Lennon se empenhou. Em apenas 48 horas chamou vários amigos e reforçou a banda, a qual anunciou como ‘Plastic Ono Band Supergroup’. Subiram ao palco: John Lennon, George Harrison, Eric Clapton, Klaus Voormann, Bobby Keys, Billy Preston, Keith Moon, Alan White, Jim Gordon, Delaney & Bonnie…e Yoko Ono. Sem ensaio prévio o grupo mandou ver uma versão incendiária de Cold Turrkey que durou sete minutos. Logo depois Yoko veio para frente do palco e liderou o grupo numa desesperadora versão de ‘Don’t Worry Kyoko’ por quilométricos dezesseis minutos! Foi a primeira vez, desde maio de 1966 que dois integrantes dos Beatles tocavam em público no mesmo palco, no Reino Unido. Uma parte do evento foi filmada por uma equipe de um então famoso noticiário de TV de Londres, o Movietones. As imagens não circulam. Nem se sabe se foram preservadas.

A EMI gravou integralmente o show, usando um gravador profissional de quatro pistas para o concerto e outro de dois canais para captar a reação da platéia. O engenheiro Geoff Emerick foi escalado para comandar o processo e trabalhou com os auxiliares ‘Peter Bown’ e ‘John Kurlander’. Passado o evento, John Lennon ficou curioso para ouvir o resultado. No dia 17 de dezembro, George Emerick trabalhou na mixagem do áudio numa longa sessão entre oito da manhã e dez da noite. Mixes estéreo foram preparados com o material da Plastic Ono Band, mas o resultado não seria utilizado até 1972. Naquele ano quando as gravações foram publicadas no álbum duplo ‘Some Time in New York City’, um overdub foi aplicado. Nicky Hopkins adicionou piano elétrico, sendo eliminado o órgão tocado originalmente por Billy Preston.



Sábado, 20 de dezembro

John & Yoko Voltam a Toronto, Canadá

John Lennon & Yoko Ono passaram três dias no Canadá divulgando seu manifesto em favor da paz mundial e explicando a campanha ‘War is Over If You Want It’. Concederam várias entrevistas aos canais de televisão locais e se encontraram com o primeiro ministro Pierre Trudeau. Nenhuma atividade musical foi realizada. O ponto alto foi a gravação de um programa de 45 minutos pela CBS canadense no qual John Lennon e o cientista Marshall McLuhan conversaram diante das câmeras. McLuhan acabara de lançar o livro, ‘O Meio é a Mensagem’. Quem presenciou a troca de idéias afirma que foi um verdadeiro ‘papo cabeça’. A gravação jamais foi exibida. Não se sabe se sobreviveu.

O ano de 1969 então chega ao fim sem se saber o que seria dos Beatles. ‘Get Back’, o LP não saiu. Na Apple figuras como Allan Klein defendiam a mudança do nome do projeto para diminuir o desgaste gerado com os sucessivos adiamentos. Ganhava força a idéia de chamar o disco de ‘Let it Be’, considerando o potencial da canção para virar um hit em escala mundial. Essas discussões, entretanto, se davam entre executivos, sem nenhuma conclusão. A saga do LP Get Back ainda não se encerrara...


1970

“LET IT BE”

O novo ano começou sem que o mundo pudesse mensurar a extensão dos problemas internos dos Beatles. Os quatro já sabiam que a banda não produziria mais nada em conjunto. E tocavam a vida. John Lennon manifestara desejo de sair muito tempo antes, e se considerava fora. Estava em ‘carreira-solo’, só não a assumia em declarações públicas em respeito ao pacto de não se falar em ruptura enquanto o projeto Get Back não fosse definitivamente resolvido. Havia outras pendências. Allen Klein alertou que o contrato com a ‘United Artists’ precisava ser cumprido. O filme e o LP com a trilha sonora seriam lançados no primeiro semestre.

Nessa fase, e de forma interna, o que restava dos Beatles dividiu-se. De um lado Paul McCartney isolado dos outros três, e magoado com o rumo que o projeto por ele idealizado tomara. Ele não queria acordo com Allen Klein e dialogava mal com os outros, sobretudo John Lennon. John, George & Ringo, do outro lado, ainda tomavam algumas decisões em consenso. Nessa fase também havia um indisfarçável desejo pessoal dos quatro em fazer as coisas a seu modo, como gravar discos-solo. John e George pareciam determinados nessa direção. Só que nada disso chegava ao mundo externo. Em janeiro de 1970 a crítica ainda incensava os Beatles pelo lançamento de ‘Abbey Road’. As finanças da Apple estavam melhores, mas bem longe do ideal. Era um tempo em que a maior banda de rock da história tinha uma organização interna das mais bagunçadas, correndo até o risco de falir.



Sábado, 03 de Janeiro

EMI Abbey Road Studios, Estúdio Dois, Londres

Sessão de Gravação de ‘I Me Mine’

O primeiro evento do ano entraria para a história como a última vez na qual os Beatles se reuniram para gravar uma canção. Paul, George e Ringo adentraram ‘Abbey Road’ em clima de camaradagem. Estavam determinados a completar o LP Get Back. John Lennon não compareceu. Estava de férias na Dinamarca onde ficaria por um mês. A decisão de gravar ‘I Me Mine’ atendia expectativas da produção do filme. Como a canção apareceria na tela sendo ensaiada, se concluiu que deveria entrar na trilha sonora. George liderou o grupo e dezesseis takes de baixo, violão e bateria foram produzidos. Logo após teve início uma longa sessão de overdubs. Piano elétrico, guitarra solo e backing vocals foram acrescentados. E ainda um órgão e mais um violão na base. A sessão começou às duas e meia da madrugada e terminou quando passavam das doze horas e quinze minutos do dia seguinte. Todo esse tempo resultou numa ‘I Me Mine’ curtinha, com apenas 1 minuto e 34 segundos na mixagem realizada no mesmo dia.



Domingo, 04 de Janeiro

EMI Abbey Road Studios, Londres

Sessão de Overdub para ‘Let it Be’

Numa sessão que foi das duas e meia até as quatro e meia da madrugada, Let it Be recebeu um novo solo de guitarra. Exatamente no mesmo take selecionado para overdub em 30 de abril de 1969, quando George acrescentou o solo ouvido na versão do single. Nesta ocasião o primeiro trabalho do dia foi uma harmonização vocal feita por Paul, George...e Linda (!). Também foram gravados dois trompetes, dois trombones, e um sax tenor. Tudo arranjado e produzido por George Martin. O trabalho seguinte na mesma sessão foi a famoso solo de guitarra da versão que entraria no álbum Let it Be. George Harrison tocou do jeito que quis, estendendo o solo para a segunda parte da música. Ringo gravou trechos de bateria e maracas, Também foi adicionado som de cello. Com a sessão completada, Glyn Johns atuou com George Martin na mixagem estéreo. Johns avisou então que nas próximas horas entregaria para análise o segundo e definitivo mix de Get Back. Esta acabou sendo formalmente a última sessão dos Beatles no estúdio, ainda que desfalcados de John Lennon.

Os vários ‘overdubs’ registrados no take de ‘Let it Be’ são reveladores da prioridade que a composição recebeu antes do lançamento. Seguramente foi a faixa mais pós-produzida de todo o projeto, noves fora o fato de que até esse momento o produtor Phill Spector ainda não entrara em cena.



Segunda-feira, 05 de Janeiro

‘Olympic Sound Studios’

LP Get Back – Segundo Mix (final compilation)

Fiel ao que acreditava ser o álbum que levaria os Beatles de volta aos primórdios da simplicidade, tocando e gravando ao vivo no estúdio, Glyn Johns finaliza neste dia a segunda e última edição para o ‘LP Get Back’. Agora eram 44 minutos de música com algumas mudanças. Teddy Boy fora excluída, já que Paul achou melhor lançá-la em seu primeiro álbum solo, ‘McCartney 1970’, que se encontrava em produção. Foi acrescentada ‘I Me Mine’, gravada dois dias antes. ‘Across The Universe’ também entrou, sem ser regravada. A justificativa: um trecho da música apareceria no filme. Na ausência de John Lennon a opção foi ‘remixar’ o take de 1968, para se assemelhasse à sonoridade de Get Back.

Glyn Johns também reduziu o tempo das faixas que faziam a função de vinhetas: ‘Rocker’ e ‘Save the Last Dance For Me’. A inclusão delas, e de falas dos Beatles entre uma e outra canção tinha por objetivo passar ao ouvinte o clima de ‘ao vivo no estúdio’. O novo setlist ficou assim: (datas das gravações entre parênteses).

Lado A

“The One After 909" (30 de Janeiro); “Rocker" (22 de Janeiro); 'Save The Last Dance For Me "(22 de Janeiro), "Don't Let Me Down" (22 de Janeiro), "Dig a Pony" (24 de Janeiro), "I've Got A Feeling" (24 de Janeiro), "Get Back" (28 de janeiro – single version), 'Let It Be" (31 de Janeiro – com o overdub do solo de guitarra gravado em 30 de Abril). Glyn ignorou o take com o segundo overdub de guitarra solo gravado no dia 04 de janeiro.

Lado B

"For You Blue" (25 de Janeiro), "Two Of Us” (24 de Janeiro), "Maggie Mae" (24 de Janeiro), "Dig It" (26 Janeiro), "The Long and Winding Road" (31 de Janeiro), "I Me Mine '(03 de janeiro de 1970), "Across The Universe" (4-8 de Fevereiro de 1968), "Get Back (reprise - 28 de Janeiro).



“PHILL SPECTOR”

Terça-feira, 08 de Janeiro

Olympic Sound Studios, London

Glyn Johns remixa as faixas Let it Be (single version) e For You Blue. Esse fato comprova que houve reação negativa à segunda mixagem do LP Get Back. George Harrison insatisfeito com os vocais comparece ao estúdio e regrava alguns trechos.



Quarta-feira, 27 de Janeiro

EMI Abbey Road Estudios, Estudio Dois, Londres

Sessão de gravação de ‘Instant Karma’

Estréia o filme The Magic Christian

O dia começou com Geoff Emerick produzindo o primeiro mix estéreo para ‘The Inner Light’. A faixa só seria lançada nesta condição em 1981. De volta das férias, John Lennon chegou aos estúdios às sete da noite e de lá só saiu às quatro da madrugada. Com a ‘Plastic Ono Band’, começou e finalizou uma nova composição, ‘Instant Karma’. Por sugestão de George Harrison, o produtor Phill Spector foi chamado para comandar o trabalho. Esse é o marco de uma relação de amizade que seria decisiva para a contratação de Spector para dar um jeito em definitivo nos tapes do projeto Get Back. ‘Instant Karma’ ficou pronta em dez takes, com ‘John’ no violão, ‘Allan White’ na bateria, ‘Klaus Voorman’ no baixo, ‘George Harrison’ na guitarra solo, e ‘Billy Preston’ ao piano. Os três melhores receberam um demorado overdub de vocais e backing vocals, além de palmas e outros efeitos.

Quatro mixes estéreo foram produzidos de madrugada, sendo o último usado no ‘single’ que seria lançado em fevereiro com uma faixa de Yoko Ono do lado B. Para o lançamento no mercado americano a faixa ainda receberia, dois dias mais tarde, nova sessão de ‘mixagem estéreo’ feita por John e Phill Spector.

No mesmo dia estréia nos cinemas de Londres o filme, ‘The Magic Christian’ (Um Beatle no Paraíso, no Brasil) estrelado por Ringo Starr e Peter Sellers. Ringo foi a um programa de televisão à noite com Sellers divulgar a produção.



Terça-feira, 10 de Fevereiro

EMI Abbey Road Studios, Estudio Dois, Londres

‘Instant Karma Remix’

Geoff Emerick produz três mixes ‘mono’ de Instant Karma, eliminando da gravação original um dos dois ‘lead vocals’ que John Lennon gravara. O objetivo foi deixar espaço para um novo vocal que Lennon faria para apresentar a canção no Top of the Pops (TV BBC) do dia seguinte. A gravação do programa foi realizada num cenário típico do começo dos anos 70. John Lennon de cabelo quase raspado se apresenta ao piano enquanto a improvisada Plastic Ono Band tinha Klaus Voorman (baixo), Allan White (bateria), Yoko Ono (com uma venda nos olhos) e um sujeito desconhecido que aparece com um segundo baixo (que não existe na música) e um pandeiro. Ocasionalmente as câmeras enquadram Mal Evans também tocando pandeiro. O grupo se apresentou diante de uma platéia, mas não tocou ao vivo. No dia seguinte a gravação foi exibida no Top of the Pops.

A produção da BBC aproveitou a presença de John Lennon no estúdio para gravar uma segunda versão de Instant Karma. O cenário foi mudado, os músicos vestiram outras roupas e mandaram ver. Nas duas exibições, um novo vocal de John Lennon foi acrescentado para dar a impressão de que a ‘Plastic Ono Band’ tocara de verdade. O segundo ‘promo video’ foi exibido no dia 19 de fevereiro de 1970 no Top of the Pops.



Quarta-feira, 18 de Fevereiro

EMI Abbey Road Studios, Estúdio Dois, Londres

Sessão de gravação de ‘You Gotta Pay Your Dues’

Depois de mais uma sessão de gravação para o LP Sentimental Journey, Ringo Starr registra os primeiros takes de uma nova composição, ‘You Gotta Pay Your Dues’. A faixa que no futuro seria batizada como ‘It Don’t Come Easy’ contou com George Martin na produção, mas quem dirigiu os músicos, sentado ao chão do estúdio foi George Harrison. Vinte takes foram gravados entre sete da noite e ‘meia-noite e meia’ com George ao violão, Klaus Voorman no baixo, Ringo na bateria e Stephen Stills ao piano. George trabalhou em seguida, até às quatro da manhã em dois overdubs de guitarra elétrica, incluindo o solo. Ringo gravou os vocais. O dia já estava amanhecendo em Londres quando George Martin finalizou a ‘mixagem’ estéreo.

No dia seguinte ‘You Gotta Pay Your Dues’ ainda receberia novos overdubs, Ringo regravaria os vocais e dois novos takes de contrabaixo seriam produzidos. Nada foi mixado.



Sábado, 21 de Fevereiro

EMI Abbey Road Studios, Estudio 2, Londres

Sessão de gravação do ‘LP McCartney 1970’

Era até então quase um segredo. Poucos sabiam que Paul McCartney estava gravando seu primeiro álbum solo. O trabalho começou na casa dele, vizinho a Abbey Road. Quando foi de fato necessário utilizar um estúdio para fazer registros profissionais, Paul adotou o pseudônimo de Billy Martin para ocupar espaço discretamente no Morgan Studios. Para as gravações caseiras, arranjou um gravador Studer de quatro canais, idêntico aos existentes em Abbey Road. E apenas um microfone. O LP McCartney 1970 teve os primeiros registros capturados assim. Não havia mesa de mixagem. Ele começou a trabalhar no natal de 1969 e a primeira gravação foi, ‘The Lovely Linda’, registrada de brincadeira para testar o Studer. Também como testes foram registradas as instrumentais, ‘Valentine Day’ e ‘Momma Miss America’ (que então se chamava Rock and Roll Springtime). ‘Glasses’ foi inspirada nos tin-tins de quatro taças de vinho. ‘Oo You’, ‘Teddy Boy’, ‘Junk’ e ‘Singalong Junk’ também foram tentadas, mas não existe documentação disponível com datas e detalhes dessas gravações, nem sobre o progresso dos takes.

Também não existe qualquer documentação de registro das sessões secretas que Paul teria feito como Billy Martin no Morgan Studios. Aparentemente as fitas com gravações chegaram a Abbey Road no dia 12 de fevereiro para serem transferidas aos gravadores de oito pistas. No multitrack de Abbey Road existem takes de ‘Kreen-Akrore’, ‘Hot as Sun’, overdubs para ‘Junk’, ‘Singalong Junk’ e ‘Teddy Boy’, e mixagens estéreo de algumas faixas. Boa parte desse material produzido no Morgan Studios foi gravado por um engenheiro chamado Robin Black, que escreveu o nome na caixa da fita de quatro pistas levada por Paul para Abbey Road. A maior parte do material produzido e editado não entraria no álbum da forma tosca como foi feita até essa ocasião. No dia 24, Paul trabalharia sozinho em Abbey Road na mixagem de Maybe I’m Amazed, também registrada inicialmente no Morgan Studios. ‘Man We Was Lonely’ seria a primeira faixa do futuro álbum gravada por Paul e Linda em Abbey Road, no dia 25 de fevereiro.



Quinta-feira, 26 de Fevereiro

Lançamento do LP ‘Hey Jude’

O LP Abbey Road ainda vendia bem quando essa coletânea foi lançada com a missão de ‘fazer’ dinheiro para diminuir o prejuízo do projeto Get Back. O atrativo era oferecer em estéreo pela primeira vez algumas gemas disponíveis somente em singles, como ‘Hey Jude’ e ‘Revolution’. Precedido por massiva campanha de divulgação em rádio e TV, o ‘LP Hey Jude’ foi um sucesso. Dois milhões de cópias estavam vendidas antecipadamente quando chegou as lojas. Durante quatro semanas ficou em segundo lugar em vendagem e execução, apesar de tratar-se de uma coletânea. Em alguns países o álbum batizado como ‘Beatles Again’.



Domingo, 08 de Março

Trident Studios – Londres

Nova sessão de gravação: ‘It Don’t Come Easy’

Com o título definitivo a composição de Ringo Starr teve novos registros feitos em pleno domingo, contando novamente com a participação de George Harrison. A Apple confirmou que a gravação estava sendo feita, mas deixou claro que não havia planos nem data de lançamento. De fato ‘It Don’t Come Easy’ só chegaria ao mercado em 1971, muitas sessões de overdubs depois.



Quarta-feira, 11 de Março

Programa Beatles Especial – Rádio BBC 1

A Rádio BBC 1 programou para o feriado nacional de páscoa, domingo 30 de março, a veiculação de um programa especial sobre os Beatles, o que há tempos não acontecia. George Harrison aceitou participar e a gravação foi feita nesta ocasião, durante uma hora. O apresentador Johnny Moran entrevistou George e tocou faixas dos Beatles de todas as fases. George revela que o projeto de filme e disco (Get Back) estava para ser lançado, e em momento algum menciona qualquer problema no grupo. O trecho mais longo da conversa foi acerca dos lançamentos do catálogo da Apple. Harrison dizia confiar que artistas como Jackie Lomax, Billy Preston, Doris Troy, e ‘Radha Krishna Temple’ teriam grande futuro. Ao final o apresentador anuncia ‘uma faixa inédita’ do LP Get Back, e toca ‘Dig It’, (a versão com 3 min. 13 seg).



Domingo, 15 de Março

Gravação do promo video de ‘Sentimental Journey’

Talk of the Town era o mais popular cabaré do centro de Londres. Foi neste local que Ringo Starr gravou o vídeo promocional de seu primeiro LP solo. Como o disco não tinha grandes pretensões comerciais a Apple decidira que não haveria ‘single’, mas era necessário divulgar o álbum, e para isso nada melhor que a TV. Neil Aspinall atuou como diretor, com John Gilbert na produção. Usando um paletó azul berrante Ringo entrou em cena dançando e cantando para uma platéia de convidados num imenso salão iluminado por velas nas mesas. George Martin contratou a Orquestra Municipal para tocar, e o grupo incluía bailarinos e cantoras negras, ‘Doris Troy’, ‘Marsha Hunt’ e ‘Madeline Bell’. As três atuaram no alto de uma passarela. Movimentos feitos por técnicos mudavam mecanicamente o cenário por trás de Ringo. O áudio incluía um novo vocal adicionado ao único mix mono da canção, feito no dia anterior especialmente para o promo.

Como ‘Sentimental Journey’ não era uma música ‘moderna’, programas como Top of the Pops se recusaram a exibi-la. Outros programas musicais da BBC também desprezaram o vídeo. A canção estreou no programa Frost on Sunday, do apresentador David Frost, por ocasião de uma entrevista na qual Ringo Starr explicava as razões de ter gravado um álbum tão inusitado quanto Sentimental Journey. Frost perguntou: “o que seus companheiros dos Beatles acharam dessa gravação?” “Eles não param de rir”, respondeu Ringo. O clipe seria exibido na mesma época nos EUA, no programa de Ed Sullivan. Detalhe curioso: como o ‘promo’ saiu antes do lançamento do álbum, a capa do LP foi revelada num dos cenários por trás de Ringo.



Segunda-feira, 23 de março

EMI Abbey Road Studios, Estúdio Três, Londres

‘Phill Spector’ Produz Beatles

Paul McCartney trabalhou a portas fechadas no estúdio 3 e praticamente finalizou seu primeiro álbum solo. Sem que ele soubesse, uma longa reunião rolava na Sala 4. Nenhum beatle estava presente, mas Phill Spector nessa ocasião foi formalmente contratado para resolver em definitivo o impasse do projeto Get Back. Recebeu carta branca para trabalhar. Daqui em diante a proposta seria finalizada e lançada. Quem o contratou? É mais certo refletir que quem o convidou foi John Lennon, George Harrison e Allan Klein com apoio de Ringo Starr. Paul McCartney ficou alheio ao processo todo.

Famoso e enigmático, ‘Phill Spector’ era tido como o mais moderno dos produtores. Fora responsável por alguns clássicos: ‘River Deep Mountain High’ (Ike and Tina) 'You've Lost That Lovin' Feelin’ (Righteous Brothers),’Da Doo Ron Ron’ (The Crystals), e ‘Be My Baby’(The Ronettes). O homem gostava de experimentar, e sua especialidade de produção era o chamado "Wall of Sound", uma parede sonora instrumental que dava peso e criatividade ao arranjo básico das composições. Spector também não podia ser encarado como um produtor comum, daqueles que ouvia as gravações ‘sentado’ diante da mesa de áudio. “Ele até fazia isso, mas se comportava como um astro da edição, não queria ser um de nós”, relembraria Geoff Emerick décadas mais tarde. “Phill também era um sujeito teatral, que gesticulava muito, andava pela sala parecia reger o que ouvia”, comentou outro engenheiro, Richard Lush,

A primeira providência de Spector nesse mesmo dia foi escutar em silêncio tudo o que Glyn Johns já mixara até então. O engenheiro da EMI, Peter Bown o acompanhou. Por incrível que pareça não existe documentação dos horários em que Phill Spector começava e encerrava seus trabalhos no estúdio. Neste primeiro dia de atividades ele deixou logo sua marca. Mixou dois takes diferentes de I’ve Got a Feeling, e não gostou de nenhum. Eliminou a versão de estúdio de Dig a Pony em favor da tocada ao vivo no ‘rooftop’ e retirou o coro vocal, ‘all I want is you’ da introdução. Também mexeu em ‘One After 909’. A intervenção mais brutal do dia foi em ‘I Me Mine’ (gravada no dia 3 de janeiro), que Spector considerou ‘muito curta’, decidindo então ‘estende-la’ na mixagem. Outro mix que Phill desconstruiu foi ‘Across the Universe’.

NOTA: aqui mais uma prova de que o fim dos Beatles estava consumado, faltando apenas o anúncio oficial. Se havia um produtor trabalhando para ‘ajeitar’ gravações da banda, teria sido natural que pudesse convocar o grupo para novas sessões. O problema é que não havia mais grupo.



Quarta-feira, 25 de março

Sala 04 – EMI Studios, Londres

Phill Spector escolheu a Sala 04 de Abbey Road, usada somente para audições e mixagens para trabalhar, e lá ficou isolado. Na EMI poucos sabiam o que ele estava fazendo. Neste dia dedicou-se a retrabalhar ‘Two of Us’, faixa que considerou perfeita para abrir o LP Let it Be. Com um detalhe: foi dele a idéia de incluir a frase de John Lennon, 'I Dig A Pygmy by Charles Hawtrey and the Deaf Aids. Phase one, in which Doris gets her oats’ para ser o primeiro som a ser ouvido no novo álbum. Ele também acrescentou o novo vocal feito por George no dia oito de janeiro em For You Blue, e ainda trabalhou em Teddy Boy, ouvindo várias vezes o take e fazendo anotações. Até que lhe avisaram que a faixa estava fora dos planos porque sairia no primeiro álbum solo de Paul McCartney.



Quinta-feira, 26 de março

Sala 04 - EMI Studios, Londres

Phill Spector entendeu que a percussão de Ringo Starr, sobretudo partes metálicas da bateria de Let it Be precisariam de um brilho maior. Então mexeu nos volumes de mixagem e acrescentou eco. O produtor trabalhou na versão com o rascante solo de guitarra produzido no dia quatro de janeiro e o selecionou para o LP. As mudanças dariam a impressão ao público no futuro de que as versões de Let it Be (álbum e single) não eram do mesmo take.

Nesta mesma sessão, Spector também decidiu mudar a faixa ‘Get Back’, já publicada em single. A idéia, ante a impossibilidade de produzir regravações verdadeiras era iludir. Assim, reeditou sons de estúdio e conversas na introdução, e acrescentou ruídos do final da exibição no rooftop. É, no fim das contas, a mesma Get Back, mas quem ouve a canção no single e no LP Let it Be acaba pensando tratar-se de duas versões distintas.



Sexta-feira, 27 de março

Sala 04 - EMI Studios, Londres

Phill Spector radicaliza. A versão original de Dig It tinha mais de 12 minutos de duração. Nas mixagens feitas por Glyn Johns, ganhou severas reduções. Com Spector, todavia, virou uma vinheta de apenas 49 segundos. Na visão do produtor, a frase solta de John Lennon, ‘That was Can You Dig It' by Georgie Wood, now we'd like to do Hark The Angels Come', adicionava um charme de gravação ao vivo ao LP, e funcionaria perfeitamente como introdução para ‘Let it Be’. O dia terminou com uma remixagem de Maggie Mae, e Phill Spector ouviu atentamente um ‘overdub’ feito em abril de 1969 para ‘The Long and Winding Road’.

Quem acompanhou esses momentos dizia que Phill Spector não ouvia opiniões. E decidia com rapidez. Nenhum dos Beatles se envolvera com nenhuma das fases da pós-produção. Allan Klein era presença constante em Abbey Road, pressionando para que o trabalho fosse finalizado no prazo combinado com a United Artists. O LP com a trilha sonora sairia em caráter simultâneo ao filme.



Segunda-feira, 30 de março

Sala 04 - EMI Studios, Londres

Phill Spector trabalhou demoradamente numa idéia que depois ele mesmo rejeitou. Produziu uma fita de 16 segundos somente com sons estranhos e uma colagem de diálogos do filme. A intenção era editar o material na introdução de For You Blue. Depois de várias tentativas, somente uma pequena frase de John (mais uma) "Queen says no to pot-smoking FBI movement" entraria na mixagem do LP. É também a única coisa aproveitada dos ensaios de Twickenham.

Outra decisão importante tomada neste dia. Phill Spector ‘rifa’ os takes de estúdio de I’ve Got a Feeling em favor da primeira versão da faixa tocada ao vivo no ‘rooftop concert’. E acerta em cheio.



Quarta-feira, primeiro de abril

EMI Abbey Road Studios, Estúdio 01, Londres

Aqui é o ponto alto da intervenção de Phill Spector no projeto de disco e filme idealizado mais de um ano antes pelos Beatles. Ele deixa a Sala 04 e vai para o Estúdio 01. Uma orquestra de 50 músicos e um coral fora contratada para gravar ‘overdubs’ em ‘Across the Universe’, ‘The Long and Winding Road’ e ‘I Me Mine’. Para Spector as composições funcionariam melhor com uma colossal parede sonora a ser mixada atrás da trilha básica. Na visão do produtor ‘havia um vazio’ nas três canções que precisava ser preenchido, e assim foi feito. Ringo Starr foi o único beatle convocado a participar. Foram usados dezoito violinos, quatro violas, quatro violoncelos, harpa, três trompetes, três trombones, um conjunto de tambores (tocados por Ringo) dois guitarristas e catorze cantores. Era o ‘Wall of Sound’ na música dos Beatles.

Consta que nesse dia, Phill Spector estava endiabrado, dando ordens severas e até mesmo gritando com os técnicos. Acostumado com o cavalheirismo de George Martin, o engenheiro Peter Bown – que até então vinha registrando todas as gravações e mixagens - irritou-se e foi embora. Ringo interveio, pedindo que Spector se acalmasse. A sessão chegou a ser interrompida. Peter Bown retornou após uma ligação de Phill Spector pedindo desculpas. Como o produtor não sabia escrever partituras, coube ao maestro Richard Hewson ‘decifrar’ o que ele queria e montar a peça. As harmonias vocais foram conduzidas por outro maestro, John Barham. Em dinheiro de hoje a EMI pagou pouco mais de três mil reais que foram divididos pelos músicos da orquestra e coral.



Terça-feira, 02 de Abril

Sala 04, EMI Studios, Londres

Último dia de trabalho de Phill Spector. De posse do material gravado no dia anterior ele montou as versões finais de ‘The Long and Winding Road’, ‘Across the Universe’ e ‘I Me Mine’. Em sete dias de expediente em Abbey Road o produtor que inventara a Parede Sonora concluía um projeto que se arrastava há 16 meses. Podem acusá-lo de tudo, mas no estágio em que as coisas se encontravam no universo interno dos Beatles é muito difícil e talvez até injusto afirmar que outra pessoa teria feito melhor. Fica mais claro compreender porque Paul McCartney passaria as décadas seguintes reclamando. Só que mesmo ele, pelos sucessivos desentendimentos com os demais, se afastara de tudo. Os quatro rapazes mais famosos do planeta tinham deixado os Beatles, mas o grupo era uma instituição que não se acabaria.

As decisões finais, que resultaram no lançamento do derradeiro álbum foram tomadas pelos que cuidavam dos negócios do grupo, para o bem e para o mal. Nem sempre os quatro Beatles foram ouvidos, o que explica a controvérsia acerca do conteúdo de Let it Be que se estenderia pelas próximas décadas. Quarenta anos mais tarde, Let it Be (álbum e filme) é a mais perfeita tradução do fim da maior banda de rock’n’roll de todos os tempos.



Finalização do Filme Let it Be

Michael Lindsay-Hogg trabalhou sozinho na edição do filme até o ponto em que foi possível. Montou inicialmente um copião de 210 minutos, escolhendo o material das incontáveis horas de filmagem produzidas em janeiro de 1969. Essa etapa da produção foi assistida pelos quatro Beatles em 20 julho daquele ano e serviu para que opinassem acerca do que deveria entrar ou sair do filme. Mais tarde Lindsay-Hogg montou a primeira versão de 88 minutos. Um dos trechos era bem longo e exibia parte da sessão em que Yoko Ono se esgoelava nos ensaios em Twickenham. Paul, George e Ringo pediram que aquilo fosse retirado. John Lennon estava fora de Londres e não foi ouvido.

Em outubro de 1969, Michael Lindsay-Hogg montou a versão final com 88 minutos e novamente a exibiu para Paul, George e Ringo. Até o encerramento da edição de som do LP, o projeto de disco e filme se chamava Get Back. A mudança para ‘Let it Be’ se deu depois que Phill Spector entregou o trabalho pronto. Outro detalhe curioso é que quando o filme saiu os quatro Beatles reclamaram que não tinham assistido nada antes do lançamento. Não era verdade. O filme estreou nos EUA, dia 13 de maio. Uma semana mais tarde (20.05) estreou em Londres e Liverpool. As primeiras exibições no Brasil datam da segunda metade de 1970.



Sexta-feira, 08 de Maio

Lançamento do ‘LP Let it Be’

Era sexta-feira. Quando as lojas de discos do Reino Unido abriram as portas estava exposto à venda o novo álbum dos Beatles. Em spots de rádio e cartazes se anunciava para dali a cinco dias a estréia do filme ‘Let it Be’. A gravadora distribuiu o novo LP durante a madrugada. Na manhã daquele oito de maio quem se deteve a olhar as vitrines das lojas se deparou com um luxuoso pacote. Era na realidade uma caixa de papelão que reproduzia a capa preta do disco. Dentro um belo livro de fotos assinado pelo fotógrafo Ethan Russell intitulado ‘Get Back’. Também havia textos que reproduziam diálogos das sessões. Nem todos usados no filme. A edição do LP também era diferente - capa dupla com fotos coloridas na face interna. Claro que essa edição luxuosa chegou às lojas por preço quase duas vezes maior que o de um álbum normal. Os Ingleses só teriam acesso à edição ‘normal’ de Let it be (capa simples sem caixa nem livro de fotos) no dia seis de novembro de 1970. O livro de Ethan Russell é uma preciosidade, considerando que nunca foi vendido separadamente em caráter oficial. A caixa completa, em bom estado de conservação também virou raridade. No mercado de leilões de ‘memorabilia’ é um dos itens mais caros.

O álbum entrou nas paradas de sucessos do Reino Unido na vigésima terceira posição. Cinco dias depois era o terceiro colocado. No dia 3 de junho, com o filme Let it Be levando multidões aos cinemas britânicos, o LP chegou ao primeiro lugar, permanecendo nesta posição por seis semanas. Nas vinte e quatro semanas seguintes ‘Let it Be’ ficaria entre os dez discos mais vendidos em toda a Europa. Nos Estados Unidos a carreira comercial e de execução em rádio também foi um sucesso. ‘Let it Be’ foi o primeiro álbum da história da indústria fonográfica americana a vender três milhões e setecentas mil cópias antes do lançamento oficial, no dia 18 de maio de 1970, rendendo 26 milhões de dólares de faturamento antecipado. O disco levou três semanas para chegar ao primeiro lugar nas paradas norte-americanas. No mesmo período vendeu mais três milhões de unidades. Vale ressaltar que desde o dia seis de março o single com ‘Let it Be/You Know my Name’ fazia sucesso. Vendeu um milhão de cópias e levou a faixa principal a desbancar ‘Hey Jude’, que até então estava imbatível como a que ficara mais tempo no número um.

Uma curiosidade de mercado: a caixa luxuosa do ‘Let it Be’ não saiu nos Estados Unidos e em nenhum outro país. Aqui no Brasil, ‘Let it Be’ foi lançado com dois meses de atraso - na segunda semana de julho de 1970. Vinha na tradicional ‘capa sanduíche’ e em mono. Falso mono, na realidade. Este LP virou raridade no mercado mundial de memorabilia beatle...



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por Claudio Teran

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Past Master Vol.1. (1988)
01. Love Me Do (Single Version)
02. From Me To You
03. Thank You Girl
04. She Loves You
05. I’ll Get You
06. I Want To Hold Your Hand
07. This Boy
08. Komm, Gib Mir Deine Hand (I Want To Hold Your Hand)

09. Sie Liebt Dich (She Loves You)
10. Long Tall Sally
11. I Call Your Name
12. Slow Down
13. Matchbox
14. I Feel Fine
15. She’s a Woman
16. Bad Boy
17. Yes It Is
18. I’m Down 


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Past Master Vol.2. (1988)
01. Day Tripper
02. We Can Work It Out
03. Paperback Writer
04. Rain
05. Lady Madonna
06. The Inner Light
07. Hey Jude
08. Revolution
09. Get Back
10. Don’t Let Me Down
11. The Ballad Of John And Yoko
12. Old Brown Shoe
13. Across The Universe
14. Let It Be
15. You Know My Name (Look Up The Number) 


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Anthology 1 (1994)
CD 1.

01. Free As A Bird
02. John Lennon Monologue
03. That’ll Be The Day
04. In Spite Of All The Danger
05. Paul McCartney Monologue
06. Hallelujah, I Love Her So
07. You’ll Be Mine
08. Cayenne
09. Paul McCartney Monologue
10. My Bonnie
11. Ain’t She Sweet
12. Cry For A Shadow
13. John Lennon Monologue
14. Brian Epstein Monologue
15. Searchin’
16. Three Cool Cats
17. The Sheik Of Araby
18. Like Dreamers Do
19. Hello Little Girl
20. Brian Epstein Monologue
21. Besame Mucho
22. Love Me Do
23. How Do You Do It
24. Please Please Me
25. One After 909 (False Starts)

26. One After 909
27. Lend Me Your Comb
28. I’ll Get You
29. John Lennon Monologue
30. I Saw Her Standing There
31. From Me To You
32. Money (That’s What I Want)

33. You Really Got A Hold On Me
34. Roll Over Beethoven 


CD 2. 

01. She Loves You
02. Till There Was You
03. Twist And Shout
04. This Boy
05. I Want To Hold Your Hand
06. Eric Morecambe & Ernie Wise Dialogue
07. Moonlight Bay
08. Can’t Buy Me Love
09. All My Loving
10. You Can’t Do That
11. And I Love Her
12. A Hard Day’s Night
13. I Wanna Be Your Man
14. Long Tall Sally
15. Boys
16. Shout
17. I’ll Be Back (Demo)

18. I’ll Be Back (Complete)
19. You Know What To Do
20. No Reply (Demo)

21. Mr. Moonlight
22. Leave My Kitten Alone
23. No Reply
24. Eight Days A Week (False Starts)

25. Eight Days A Week
26. Kansas City/Hey Hey Hey Hey! 


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Mega.


Live At The BBC (1994)
CD 1.

01. Beatle Greetings
02. From Us To You
03. Riding On A Bus
04. I Got A Woman
05. Too Much Monkey Business
06. Keep Your Hands Off My Baby
07. I\’ll Be On My Way
08. Young Blood
09. Shot Of Rhythm And Blues
10. Sure To Fall (In Love With You)

11. Some Other Guy
12. Thank You Girl
13. Sha La La La
14. Baby It\’s You
15. That\’s Alright Mama
16. Carol
17. Soldier Of Love
18. Little Rhyme
19. Clarabella
20. I\’m Gonna Sit Right Down And Cry Over You
21. Crying Waiting Hoping
22. Dear Wack
23. You\’ve Really Got A Hold On Me
24. To Know Her Is To Love Her
25. Taste Of Honey
26. Long Tall Sally
27. I Saw Her Standing There
28. Honeymoon Song
29. Johnny B Goode
30. Memphis Tennessee
31. Lucille
32. Can\’t Buy Me Love
33. From Fluff To You
34. Till There Was You

CD 2.

01. Crinsk Dee Night
02. Hard Day\’s Night
03. Have A Banana
04. I Wanna Be Your Man
05. Just A Rumour
06. Roll Over Beethoven
07. All My Loving
08. Things We Said Today
09. She\’s A Woman
10. Sweet Little Sixteen
11. 1822
12. Lonesome Tears In My Eyes
13. Nothin\’ Shakin\’
14. Hippy Hippy Shake
15. Glad All Over
16. I Just Don\’t Understand
17. So How Come (No One Loves Me)

18. I Feel Fine
19. I\’m A Loser
20. Everybody\’s Tryin\’ To Be My Baby
21. Rock \’n\’ Roll Music
22. Ticket To Ride
23. Dizzy Miss Lizzy
24. Kansas City/Hey Hey Hey Hey
25. Set Fire To That Lot
26. Matchbox
27. I Forgot To Remember To Forget
28. Love These Goon Shows
29. I Got To Find My Baby
30. Ooh My Soul
31. Ooh My Arms
32. Don\’t Ever Change
33. Slow Down
34. Honey Don\’t
35. Love Me Do 


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Mega.


Anthology 2 (1996)
CD 1.

01. Real Love
02. Yes It Is
03. I’m Down
04. You’ve Got To Hide Your Love Away
05. If You’ve Got Trouble
06. That Means A Lot
07. Yesterday
08. It’s Only Love
09. I Feel Fine
10. Ticket To Ride
11. Yesterday
12. Help!
13. Everybody’s Trying To Be My Baby
14. Norwegian Wood (This Bird Has Flown)

15. I’m Looking Through You
16. 12-Bar Original
17. Tomorrow Never Knows
18. Got To Get You Into My Life
19. And Your Bird Can Sing
20. Taxman
21. Eleanor Rigby (Strings Only)

22. I’m Only Sleeping (Rehearsal)
23. I’m Only Sleeping (Take 1)
24. Rock And Roll Music
25. She’s A Woman 


CD 2.

01. Strawberry Fields Forever (Demo Sequence)
 02. Strawberry Fields Forever (Take 1)
03. Strawberry Fields Forever (Take 7 & Edit Piece)
04. Penny Lane
05. A Day In The Life
06. Good Morning Good Morning
07. Only A Northern Song
08. Being For The Benefit Of Mr. Kite! (Takes 1 & 2)

09. Being For The Benefit Of Mr. Kite! (Take 7)
10. Lucy In The Sky With Diamonds
11. Within You Without You (Instrumental)

12. Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (Reprise)
13. You Know My Name (Look Up The Number)
14. I Am The Walrus
15. The Fool On The Hill (Demo)

16. Your Mother Should Know
17. The Fool On The Hill (Take 4)

18. Hello Goodbye
19. Lady Madonna
20. Across The Universe 


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Anthology 3 (1996)
CD 1.

01. A Beginning Martin
02. Happiness Is A Warm Gun
03. Helter Skelter
04. Mean Mr. Mustard
05. Polythene Pam
06. Glass Onion
07. Junk
08. Piggies
09. Honey Pie
10. Don’t Pass Me By
11. Ob-La-Di, Ob-La-Da
12. Good Night
13. Cry Baby Cry
14. Blackbird
15. Sexy Sadie
16. While My Guitar Gently Weeps
17. Hey Jude
18. Not Guilty
19. Mother Nature’s Son
20. Glass Onion
21. Rocky Raccoon
22. What’s The New Mary Jane
23. Step Inside Love/Los Paranoias
24. I’m So Tired
25. I Will
26. Why Don’t We Do It In The Road
27. Julia


CD 2.

01. I’ve Got A Feeling
02. She Came In Through The Bathroom Window
03. Dig A Pony
04. Two Of Us
05. For You Blue
06. Teddy Boy
07. Medley:
Rip It Up
Shake, Rattle, And Roll
Blue Suede Shoes

08. The Long And Winding Road
09. Oh! Darling
10. All Things Must Pass
11. Mailman, Bring Me No More Blues
12. Get Back
13. Old Brown Shoe
14. Octopus’s Garden
15. Maxwell’s Silver Hammer
16. Something
17. Come Together
18. Come And Get It
19. Ain’t She Sweet
20. Because
21. Let It Be
22. I Me Mine
23. The End 


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On Air: Live At The BBC Volume 2 (2013)
 
CD 1.

01. And Here We Are Again
02. Words Of Love
03. How About It, Gorgeous?
04. Do You Want To Know A Secret
05. Lucille
06. Hey, Paul
07. Anna (Go To Him) 
08. Hello
09. Please Please Me
10. Misery
11. I’m Talking About You
12. A Real Treat
13. Boys
14. Absolutely Fab
15. Chains
16. Ask Me Why
17. Till There Was You
18. Lend Me Your Comb
19. Lower 5e
20. The Hippy Hippy Shake
21. Roll Over Beethoven
22. There’s A Place
23. Bumper Bundle
24. P.S. I Love You
25. Please Mister Postman
26. Beautiful Dreamer
27. Devil In Her Heart
28. The 49 Weeks
29. Sure To Fall (In Love With You) 
30. Never Mind, Eh?
31. Twist And Shout
32. Bye, Bye
33. John (Bonus Interview) 
34. George (Bonus Interview)
 

CD 2.

01. I Saw Her Standing There
02. Glad All Over
03. Lift Lid Again
04. I’ll Get You
05. She Loves You
06. Memphis, Tennessee
07. Happy Birthday Dear Saturday Club
08. Now Hush, Hush
09. From Me To You
10. Money (That’s What I Want) 
11. I Want To Hold Your Hand
12. Brian Bathtubes
13. This Boy
14. If I Wasn’t In America
15. I Got A Woman
16. Long Tall Sally
17. If I Fell
18. A Hard Job Writing Them
19. And I Love Her
20. Oh, Can’t We? Yes We Can
21. You Can’t Do That
22. Honey Don’t
23. I’ll Follow The Sun
24. Green With Black Shutters
25. Kansas City/Heyheyheyhey
26. That’s What We’re Here For
27. I Feel Fine (Studio Outtake Sequence) 
28. Paul (Bonus Interview) 
29. Ringo (Bonus Interview)



The Beatles Bootleg Recordings, 1963 (2013)
01. There’s a Place (Studio Outtake Takes 5 & 6) 
02. There’s a Place (Studio Outtake Take 8) 
03. There’s a Place (Studio Outtake Take 9) 
04. Do You Want to Know a Secret (Studio Outtake Take 7) 
05. A Taste of Honey (Studio Outtake Take 6) 
06. I Saw Her Standing There (Studio Outtake Take 2) 
07. Misery (Studio Outtake Take 1) 
08. Misery (Studio Outtake Take 7) 
09. From Me to You (Studio Outtake Takes 1 & 2) 
10. From Me to You (Studio Outtake Take 5) 
11. Thank You Girl (Studio Outtake Take 1) 
12. Thank You Girl (Studio Outtake Take 5) 
13. One After 909 (Studio Outtake Takes 1 & 2) 
14. Hold Me Tight (Studio Outtake Take 21) 
15. Money (That’s What I Want) (Studio Outtake)
16. Some Other Guy (Live At BBC For Saturday Club 26th January, 1963) 
17. Love Me Do (Live At BBC For Saturday Club 26th January, 1963) 
18. Too Much Monkey Business (Live At BBC For Saturday Club 26th January, 1963) 
19. I Saw Her Standing There (Live At BBC For Saturday Club 16th March, 1963) 
20. Do You Want to Know a Secret (Live At BBC 26th January, 1963) 
21. From Me to You (Live At BBC For Saturday Club 26th January, 1963) 
22. I Got to Find My Baby (Live At BBC For Saturday Club 26th January, 1963) 
23. Roll Over Beethoven (Live At BBC For Saturday Club 29th June, 1963) 
24. A Taste of Honey (Live At BBC For Easy Beat 23rd June, 1963) 
25. Love Me Do (Live At BBC For Easy Beat 20th October, 1963) 
26. Please Please Me (Live At BBC For Easy Beat 20th October, 1963) 
27. She Loves You (Live At BBC For Easy Beat 20th October, 1963) 
28. I Want to Hold Your Hand (Live At BBC For Saturday Club 21st December, 1963) 
29. Till There Was You (Live At BBC For Saturday Club 21st December, 1963) 
30. Roll Over Beethoven (Live At BBC For Saturday Club 21st December, 1963) 
31. You Really Got a Hold On Me (Live At BBC For Pop Go The Beatles 4th June, 1963)
32. The Hippy Hippy Shake (Live At BBC For Pop Go The Beatles 4th June, 1963) 
33. Till There Was You (Live At BBC For Pop Go The Beatles 11th June, 1963) 
34. A Shot of Rhythm and Blues (Live At BBC For Pop Go 18th June, 1963) 
35. A Taste of Honey (Live At BBC For Pop Go The Beatles 18th June, 1963) 
36. Money (That’s What I Want) (Live At BBC For Pop Go The Beatles 18th June, 1963)
37. Anna (Live At BBC For Pop Go The Beatles 25th June, 1963) 
38. Love Me Do (Live At BBC For Pop Go The Beatles 10th September, 1963) 
39. She Loves You (Live At BBC For Pop Go The Beatles 24th September, 1963) 
40. I’ll Get You (Live At BBC For Pop Go The Beatles 10th September, 1963) 
41. A Taste of Honey (Live At BBC For Pop Go The Beatles 10th September, 1963) 
42. Boys (Live At BBC For Pop Go The Beatles 17th September, 1963) 
43. Chains (Live At BBC For Pop Go The Beatles 17th September, 1963)
44. You Really Got a Hold On Me (Live At BBC 17th September, 1963) 
45. I Saw Her Standing There (Live At BBC For Pop Go 24th September, 1963) 
46. She Loves You (Live At BBC For Pop Go The Beatles 10th September, 1963) 
47. Twist and Shout (Live At BBC For Pop Go The Beatles 24th September, 1963) 
48. Do You Want to Know a Secret (Live At BBC For Here We Go 12th March, 1963) 
49. Please Please Me (Live At BBC For Here We Go 12th March, 1963) 
50. Long Tall Sally (Live At BBC For Side By Side 13th May, 1963) 
51. Chains (Live At BBC For Side By Side 13th May, 1963) 
52. Boys (Live At BBC For Side By Side 13th May, 1963) 
53. A Taste of Honey (Live At BBC For Side By Side 13th May, 1963) 
54. Roll Over Beethoven (Live At BBC For From Us To You 26th December, 1963) 
55. All My Loving (Live At BBC For From Us To You 26th December, 1963) 
56. She Loves You (Live At BBC For From Us To You 26th December, 1963) 
57. Till There Was You (Live At BBC For From Us To You 26th December, 1963) 
58. Bad to Me (Demo) 
59. I’m In Love (Demo)


Mega.


Links para download de Alex Sala do excelente blog Muro do Classic Rock

Senha dos Arquivos: muro





Um comentário:

Unknown disse...

Olá, os arquivos foram removidos!